29/01/2011

O papel retórico, confirmador e aglutinador da imagem histórica, do sec. XIX, nas cidades Europeias ... por António Sérgio Rosa de Carvalho


Sem dúvida, todos aqueles que tiveram o privilégio de visitar Roma, e de descobrir a sua monumentalidade conseguida através dos séculos, numa fantástica sucessão urbana acumulativa de grandes gestos arquitectónicos e escultóricos ... não terão esquecido o impressionante, arrebatador e profundamente emotivo momento da descoberta do Pantheon, repentinamente revelado, na pequena Piazza della Rotonda ... e da imagem da sua perfeita cúpola, cósmicamente, aberta ao firmamento ...
No entanto, muitos não se apercebem que esta fantástica sucessão acumulativa da Antiguidade, da Renascença, do Barroco, do Neoclassicismo, e respectiva erudição estonteante é, permanente acentuada, confirmada e fortalecida, pela linguagem intercalada ou sucessiva da tipologia do edificado do Sec.XIX , fortemente presente em quantidade e escala na cidade.
Isto deve-se ao facto de que a linguagem e discurso revivalista das tipologias do Sec.XIX no edificado residencial ,desenvolve variações e temas à volta do paradigma cultural da Renascença e arquétipo-símbolo para o Romantismo da época de Ouro Italiana : O “Palazzo” Renascentista ... este caracterizado, ao nivel da fachada, pelo discurso tripartido entre um basamento fortemente “rusticado”, um ritmo pedimentado nas janelas e uma forte presença da cornija.

O "Grand Boulevard" e Eixo do Sec.XIX ... a Via del Corso ... Vista a partir do Alto do Monumento a Victor Emmanuel II


A Tipologia do edifício-tipo do Sec XIX ... "este caracterizado, ao nivel da fachada, pelo discurso tripartido entre um basamento fortemente “rusticado”, um ritmo pedimentado nas janelas e uma forte presença da cornija."






A presença dos edifícios do Sec.XIX em Roma é permanente - e fortemente determinante para a consolidação e confirmação da unidade da sua imagem histórica - intercalada com “erudições” de outras épocas, ou em Bairros inteiramente do Sec. XIX como este à volta da estação Termini




Também em Paris, a sucessão monumental e omnipresente das tipologias desenvolvidas por Haussmann estendendo-se por enormes áreas, é fortemente determinante para a consolidação e confirmação da unidade da imagem histórica desta cidade.


Infelizmente, em Portugal os nossos "Boulevards"traçados urbanisticamente por Ressano Garcia, não foram preenchidos arquitectónicamente de forma coerente, com um grande projecto massivo de escala e erudição comparável, e foram incapazes desta forma de ofereçer resistência a um processo de penetração e destruição sistemática ... liderado por Arquitectos insensiveis ao seu Património e permitido por Vereadores eleitos politicamente - incompetentes e mal preparados - para resistir às pressões de interesses estabelecidos ...


Este processo continua ... e ... apesar de um clamor e uma indignação crescente, pareçe imparável


Se todos os nossos "Boulevards" tivessem sido preenchidos,ou por uma tipologia Neo Manuelina desenvolvida pelo Romantismo Português, ou pela escala e tipologia destes derivados afrancesados ( II Empire - Haussmann ) ... tal como José Luis Monteiro nos ilustra no seu duplo projecto Estação - Hotel no Rossio ... a sua capacidade de resistência à penetração e destruição teria sido, sem dúvida, superior.




Além de demolições integrais ou parciais (interiores) .... estes “acrescentos” inqualificáveis continuam a fazerem-se e a serem propostos ...







Estes dois exemplos isolados na Alexandre Herculano e Braamcamp, de conjuntos em "ambiente" Ventura Terra, ainda lá estão, lembrando-nos dolorosamente os crimes que se cometeram ...




E que ... apesar desta envolvente à esquina do largo do Rato ... se pretendem CONTINUAR a cometer ...



É IMPERATIVO CONTINUAR A RESISTIR ... E CONTINUAR A CLAMAR ... SALVEM O LARGO DO RATO ! ...




7 comentários:

  1. Muito bom post, sem dúvida.

    Mas infelizmente, nos dias que correm, o valor histórico e arquitectónico dos edifícios não entram sozinhos na equação.

    Há que juntar os interesses do sector imobiliário, da optimização do espaço público, das próprias pessoas que vão habitar estes edifícios. É no resolver desta equação que está a dificuldade, e é aqui que devem surgir ideias inovadoras.

    Termino por dizer, que tendo visitado já Roma, acho que é uma cidade que vale pelos monumentos e valor histórico dos mesmos. É impossível da minha perspectiva comparar a qualidade urbanística, arquitectónica e até a qualidade de vida desta cidade, com por exemplo Barcelona.

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  2. A ver vamos se a "forma coerente de preencher os espaços oferece maior resistência" (no caso de Lisboa?)
    Os bairros modernistas de Alvalade & Co. nos darão as respostas dentro de 20-30 anos?

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  3. Sugeria que se organizasse na Ordem dos Arquitectos uma sessão para esclarecimentos e interrogação.
    Sobre que arquitectura queremos.

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  4. Rafael Brandão9:42 da tarde

    Considero o post de Jeeves pertinente, pois este tenta comparar as grandiosas cidades de Roma e Paris ao plano das avenidas novas. É verdade que Lisboa nos últimos 40 anos, em parte devido à corrupção dos políticos e ganância dos empresários, que a meu ver continua, exemplo disso o caso da avenida da republica; tem perdido a sua beleza a monos descaracterizados e banais. Mas também deveremos ter cautela, com certas ideias uma delas sendo o estranho edifício que existe no Picoas, que devoluto, ocupa uma mancha inútil numa zona de Lisboa cheia de edifícios altos como o Sheraton, o Imaviz e, a certo ponto, a sede da PT, logo a construção do Compave, o edifício presente na foto, que não foi aprovado (nem deverá ser, dado a estupidez e atitude de Velho do Restelo de algumas pessoas de ideias fixas), só teria uma função de revitalizar aquela zona. A mesma situação seria a do Largo do Rato, pois o edifício, apesar de ter uma volumetria excessiva e não se adequar à zona, substitui edifícios degradados. É claro que o post também denuncia certos abortos como é o caso dos edifícios da Alexandre Herculano, cujos acrescentos deveriam ser demolidos e depois o caso do edifício do ROSSIO, ESTE SIM, um edifício que deveria desaparecer muito em breve se em Portugal alguém se preocupasse minimamente pelo património nacional, ficando assim em evidência a criação de um departamento municipal, com poder sobre os projectos das cidades.

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  5. concordo com o rafael

    o compave seria uma bom projecto

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  6. Os edifícios do século XIX são lindos, lindos...
    O que é que os arquitectos meteram na cabeça entretanto?

    A torre Compave é bonita, sim senhor, mas já chega. Acho que já se destruiu tanto pelas avenidas novas que já não "dá pica" este tipo de projectos. No entanto, num contexto mais, digamos, civilizado: sim, seria um projecto interessante. MAs se é para substituir alguma coisa para aqueles lados dêem uma vista de olhos à sede da PT que é horrível...

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  7. O Forum Picoas ou a da Rua de Entrecampos?
    De qualquer das maneiras gosto dos dois edificios.


    Concordo com quase tudo o que o Rafael Brandão diz.

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