04/11/2011

Cortes drásticos no transporte público da Grande Lisboa


O líder do PCP descreveu a proposta dos cortes como uma "imposição de um recolher obrigatório"

Cortes drásticos no transporte público da Grande Lisboa
Por Inês Boaventura in Público

Nada escapa à contenção: barcos, autocarros, comboios. PCP diz que se quer "impor o recolher obrigatório". Autarquias também criticam


Supressão de 22 carreiras de autocarros da Carris e de uma de eléctricos, redução do horário de funcionamento do Metropolitano de Lisboa, diminuição da oferta da CP e supressão das ligações marítimas de Lisboa para Trafaria/Porto Brandão e para o Seixal. Estas são algumas das medidas propostas (ver caixa em baixo) pelo grupo de trabalho nomeado pelo Governo para estudar a reformulação da rede de transportes da Área Metropolitana de Lisboa (AML).

O documento apresentado às câmaras, e a que o PÚBLICO teve acesso, não contém qualquer estimativa de redução de custos com as medidas sugeridas. Diz-se apenas que se pretende "a eliminação de redundâncias, sobreposições e competição entre as diferentes redes" e "a adequação dos níveis de serviço e oferta". O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considera que o Governo está "a impor um recolher obrigatório" às populações.

As propostas do grupo, que foi também incumbido de apresentar soluções para alcançar uma "simplificação tarifária" nos transportes públicos, já foram apresentadas às câmaras municipais. E mereceram a "rejeição absoluta" dos vereadores da mobilidade e dos transportes, que ontem se reuniram para discutir o assunto, como adiantou Fernando Nunes da Silva, autarca da Câmara de Lisboa.

Governo quer contributos

O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, fez saber através do seu assessor de imprensa que "o documento foi enviado pelo grupo trabalho, que actua de forma independente, às autarquias para obter contribuições das mesmas". Depois de o prazo ter sido adiado por um mês, o Governo aguarda que as conclusões sejam entregues até 30 de Novembro.

"Cortar o serviço é o que vai matar o transporte público; o que deve acontecer é o reforço da oferta e trabalhar do lado da procura", comentou Joaquim Santos, coordenador desse núcleo de vereadores. "As câmaras municipais percebem que é preciso racionalizar, trabalhar a questão do défice e tentar reduzir os custos. No entanto, a abordagem não deve ser feita pelo corte, mas pelo lado da procura", defendeu o autarca do Seixal.

Também Nunes da Silva lamentou que o documento apresentado não diga "uma única palavra" sobre o que pode ser feito para captar novos utilizadores para os transportes públicos e garantir novas receitas para o sector. "Está-se a pegar pelo lado errado", considerou.

Outra crítica do vereador da mobilidade de Lisboa tem a ver com a ausência de dados relativos à procura para justificar os cortes propostos. "O documento baseia-se em impressões que os operadores têm", sublinha.

Quem também já reagiu às medidas que estão a ser estudadas foi o secretário-geral do PCP. Jerónimo de Sousa sustenta que isto terá "consequências dramáticas, particularmente para quem tem trabalho nocturno, trabalhadores da limpeza, trabalhadores ligados à segurança, trabalhadores que trabalham em piquetes".

O dirigente comunista acrescentou que muitas pessoas sem transporte privado vão deixar de conseguir deslocar-se, "a não ser de táxi, com todos os custos que daí decorrem".

O PS, pela voz do deputado Rui Paulo Figueiredo, quer que o Governo esclareça se concorda com as propostas do grupo de trabalho e adianta que a bancada vai pedir, com urgência, as conclusões desse grupo. "Estamos preocupados, porque este assunto não pode ser apenas encarado numa lógica de racionalização de custos", disse. Na Internet, já há uma petição, que tinha 2781 assinaturas, ontem, à hora do fecho desta edição.

Proposta "criminosa"

O Bloco de Esquerda diz que as medidas em estudo "representam um ataque sem precedentes ao direito à mobilidade da população portuguesa". A deputada Carla Martins requereu ao Governo o relatório do grupo de trabalho e "os estudos sobre os impactos socioeconómicos das alterações propostas no referido relatório e que o fundamentem".

A comissão concelhia do Seixal do PCP pronunciou-se sobre o fim da ligação marítima entre aquele concelho e o Cais do Sodré, que é um dos cenários que estão a ser equacionados para a Transtejo. Em comunicado aquele órgão classificou essa hipótese como "inaceitável" e defendeu que "o que deveria estar a ser discutido era o aumento da oferta de transporte público às populações e não a redução ou extinção dos mesmos". Já a Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul consideroua proposta "criminosa e desajustada". "Em nome da troika, não aceitamos que se faça tudo. É preciso respeito por quem trabalha", reagiu por seu lado a líder da Câmara de Almada, Maria Emília Sousa (PCP).

O grupo criado por despacho do secretário de Estado dos Transportes é presidido por Pedro Gonçalves (ex-presidente executivo da construtora Soares da Costa) e inclui representantes da Autoridade Metropolitana de Transportes, do Metropolitano de Lisboa, da Carris, da CP, da Transtejo e da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros.
com Raquel Almeida Correia, Sofia Rodrigues e Lusa

14 comentários:

  1. Qual o interesse de repetir noticias?!!

    ResponderEliminar
  2. Oh Xico Esperto, parece que estás com alguns problemas? Bem será que o (des)Governo vai pôr os veiculos que transportam os Ministros, á disposicao dos trabalhadores para estes poderem regressar a casa, depois dos turnos de trabalho?
    Na minha opiniao a Carris/Metro deveria ser privatizada para que pudessse haver concorrência logo se iria ver se eles paravam as 23 ou trabalhavam toda a noite...
    Sanguessugas!!!!!!!!!!!

    ResponderEliminar
  3. Esse comentário só demonstra uma total ignorância no modo como estão organizados os transportes em Portugal. Primeiro que tudo praticamente não há concorrencia, há concessões, sendo que cada um fica com o exclusivo da concessão da zona que lhe ficou atribuida. A pouca concorrência que há, é nos transportes interurbanos e expressos, e nos transportes para um suburbio mais distante em que o corredor de saída da cidade beneficia desses vários transportadores. Ex: corredor de Loures que é servida pelo Isidoro Duarte entre o Campo Grande e a Póvoa da Galega e as restantes empresas do grupo Barraqueiro que fazem transportes para a Cidade Nova, Guerreiros, Mafra, Torres Vedras, etc...

    ResponderEliminar
  4. ...e já que o governo está "com a mão na massa" e tudo vai mudar nos transportes da grande Lisboa, seria uma boa altura para fazerem essa liberalização, mas não, apenas vão vincar ainda mais as concessões. Já deram a entender que a Carris vai ter que sair dos concelhos de Oeiras e Amadora porque isso é território da Vimeca, vai ter que sair de Odivelas porque é território da Rodoviária de Lisboa, vai ter que sair de Fetais, Prior Velho, Portela e Moscavide porque essas localidades são território da Rodoviária de Lisboa, e vai ter que sair do Centro Sul porque é concessão dos Transportes Sul do Tejo.

    ResponderEliminar
  5. Cortes cegos é o que há há muitos anos nas transportadoras privadas. Quantas pessoas não conheço eu da periferia que já recusaram empregos ou deixaram de sair à noite por não terem transportes. E isto passa-se desde os anos 90.

    A crise quando chega é para todos. Foram anos e anos com o Estado a viver acima das posses, cheio de politicas erradas e a meter-se em emprestimos atrás de emprestimos sem a minima preocupação se havia condições para pagar... Os politicos a pensar: "quando isto rebentar já não sou eu que cá estou, quem estiver que se desenrasque". O tempo da bomba estoirar chegou. Agora paga-se tudo o que se deve à banca e com juros.

    Tivessem tido mais moderação nos gastos e agora não havia um corte radical, mas a maioria das pessoas gosta de negligentes e corruptos... (pelo menos é nesses que votam)

    Quanto ao carro dos ministros para transportar passageiros dos transportes publicos, fazer-se-à se a TROIKA mandar, se a troika não mandar não se faz. O governo só faz o que a troika manda.


    Os portugueses tiveram uma oportunidade em 2009 para mudarem isto ao votarem na Manuela F Leite que ia pôr austeridade logo a partir dali e agora não custava tanto como com o FMI, mas preferiram argumentar: a velha é maluca, quere-nos pôr a pão e água, era o regresso do fascismo...a velha que vá para um asilo, e foram votar no Sócrates outra vez porque agradava mais ao ouvido as promessas carregadas de populismo e sem sustentabilidade alguma que ele defendia, depois levaram com um corte radical com os PEC,s para verem o que é bom pa tosse, como o PEC não chegou porque o cancro já tinha alastrado veio a quimioterapia do FMI.

    A par disto há ainda um presidente da republica idiota que é economista mas assistiu a isto tudo sem fazer nada, e quando já não havia nada a fazer põe-se a mandar bocas para o ar completamente despropositadas. Mas lá está, foi escolhido pela maioria dos portugueses que se deslocou ás urnas e fez voto util. Não houvesse tantos otários a achar que o voto em branco é importante...

    ResponderEliminar
  6. que cortes sao os da CP?
    ainda nao li nada sobre isso, pelo menos na linha de sintra?

    ResponderEliminar
  7. Deve ser o tipico: supressão de comboios e encerramento mais cedo.

    ResponderEliminar
  8. então para não repetir lá vem uma notícia nova: segue-se cortes na recolha de lixo ao sábado. são 2 dias a guardar o lixo em casa :D

    ResponderEliminar
  9. Do lado positivo da proposta, o Cartao Cidade, é pena que se tenham esquecido que a CP também tem muitos troços que poderiam servir quem anda na cidade. Logo o cartao unificado também deveria permitir andar nos comboios da cp, desde que dentro do perímetro da cidade.

    ResponderEliminar
  10. João das Regras7:40 da tarde

    A Nelinha ia resolver o quê, mesmo? A mesma Nelinha que inundou o Ensino Superior com cursos em privadas e algumas públicas anos 90?
    A mesma Nelinha que iniciou o esmagamento fiscal dos portugueses há quase 10 anos? Que perdoou dívidas do mano Zé Eugénio e andou em falcatruas com fundos de pensões?
    A mesma Nelinha que fez figura de cornuda na UE, a autorizar a Alemanha e a França, então com défices excessivos, a serem excepções ao PEC de então? Tudo isto enquanto que o burro do "bom aluno", Portugal, se começava a afundar?
    Votam sempre nos mesmos dois/três partidos de corruptos, traidores e proxenetas e depois admirem-se.

    Nem Sócrates, nem Ferreira Leite. Bloco Central coveiros de Portugal.

    ResponderEliminar
  11. A Nelinha ia parar imediatamente com as obras publicas que o Sócrates ainda chegou a lançar (e a gastar uns bons milhões de euros, entre as quais o TGV) e que ficaram em stand by! Então o caso do Metro Mondego é gritante. Destruiu-se uma linha férrea antiquada com a promessa que se iria modernizar atravez do Metro Mondego e após a destruição da via chega-se à conclusão que não há dinheiro para continuar a obra e agora sugerem alcatroar a linha e pôr autocarros a circular nessa linha!!! Se fosse uma obra a fazer de raiz até aceitava esta proposta, agora destruir uma linha de caminho de ferro com bastante procura para isto!!!!

    Aqui está a solução mais provavel para a linha de Cascais quando já não fôr mais viável cortar os horários devido à falta de material circulante! Alcatroa-se a linha e põe-se a concessão à disposição dum operador privado que opere essa linha com autocarros bi-articulados.


    Que mal tem inundar o ensino superior com cursos em universidades privadas e publicas?!!! Se bem me lembro nos anos 90 havia pouca oferta face à procura pelo ensino superior. Hoje a oferta é a suficiente para a procura e a maioria dos alunos é colocada na primeira opção. Se há sector que evoluiu favoravelmente é o ensino superior publico...quer dizer o tratado de Bolonha não foi bom do modo que foi implantado (redução do tempo dos cursos) mas isso foi uma imposição da UE.
    Se me vem com o argumento que as universidades são fábricas de desempregados digo-lhe já que mais vale um desempregado mais instruido que um desempregado pouco instruido, e um desempregado licenciado está apto a exercer a maioria das profissões onde não são exigidas grandes habilitações, enquanto que o desempregado menos instruido está mais limitado ao nivel do emprego. Nem toda a gente que vai para as universidades vai à procura de um curso para trabalhar nele. Muitos vão pelo simples motivo de quererem aprender algo que sabem que não lhes vai trazer um emprego, muitos são reformados ou desempregados que estudam para ocupar o tempo e aprenderem mais, outros tiram um curso ao calhas apenas para terem o estatuto de licenciado para poderem subir na hierarquia do local de trabalho onde já estão apesar de não lhes ser exigido um conhecimento superior especifico (na maioria das vezes funcionários publicos).

    ResponderEliminar
  12. Não acho que a MFL tenha sido perfeita em tudo, só acho que contra a alternativa Sócrates era melhor. Aliás não votei na MFL nem nunca na vida votei no PSD, votei sim no CDS-PP que tem sido sempre o meu partido de eleição nas legislativas. Agora só me falta vir com a história dos submarinos...que só por acaso até foram encomendados pelo António Guterres, esse sim o grande responsavel pelo momento politico que hoje vivemos não pelos submarinos mas sim por tudo o resto... é que por acaso os submarinos foram uma imposição da NATO, e Portugal como estado-membro desde a fundação do tratado só tinha que cumprir. O Paulo Portas apenas pegou no dossier e verificou que os submarinos encomendados e PAGOS em 1996 nunca tinham chegado a vir, e exigiu-os. Na Alemanha argumentaram que esse processo tinha prescrito por antiguidade e Portugal tinha que os pagar de novo, e sem leis a seu favor, Paulo Portas teve que negociar com o fornecedor dos submarinos e sempre conseguiu um bom negócio para Portugal ao ter conseguido reduzir o preço a mais que os alemães exigiam para fornecerem os submarinos. Graças a Deus quando o Prestige se afundou o Paulo Portas era ministro da defesa, porque a maioria das pessoas não sabem que esse navio sofreu o rombo no casco no golfo da Biscaia em águas francesas e os franceses empurraram-no para sul para águas espanholas e disseram aos espanhois para o empurrarem para Portugal, só que o Paulo Portas pôs uma corveta da Marinha a patrulhar a fronteira da ZEE portuguesa e o Prestige coitadinho não conseguiu entrar na ZEE portuguesa e afundou-se ao largo da Galiza, e não fomos nós a ficar com a mancha de óleo em toda a costa norte e centro de Portugal. Vai uma apostinha como se o governo da altura fosse do PS o Prestige se tinha afundado em Portugal?!!!

    ResponderEliminar
  13. o Xico205 tem razão : o dinheiro foi gasto à toa em Portugal ; eu acrescentaria : muito especialmente em estradas e auto-estradas inuteis

    ResponderEliminar
  14. Como por exemplo? Não se esqueça que as estradas não são só feitas para quem anda a passear, tambem são feitas para quem anda a trabalhar, e não é viavel andar com veiculos pesados em estradas apertadas de curva e contracurva.

    Assim de repente lembro-me dum motorista de camião que entrou em Portugal por Vilar Formoso vindo da Austria e tinha descargas para fazer em Castelo Branco e Nelas. Ao descarregar em Castelo Branco informou a empresa que iria seguir para Nelas pela A23 até à Guarda e depois A25. Passado um bocado da empresa telefonam-lhe a dizer que o software de mapas utilizado diz que pela Serra da Estrela eram menos 35kms e mandaram-no sair da A23 na Covilhã, subir até à Torre e descer pelo lado de Seia... Será que quem sugere isto sabe o que é andar com um veiculo de 40 toneladas e 20 metros de comprimento numa serra com neve e gelo?!!! Uma coisa era não haver alternativa mas quando as há...

    ResponderEliminar