10/03/2012

A Baixa-House é "um exemplo de boas práticas" e Prémio Vilalva




"As cozinhas e instalações privadas são novas. Recuperou-se a maior parte dos tectos, pavimentos, paredes, escadas, clarabóias, azulejos. Há esses remendos que se mantêm visíveis." José Adrião Arquitectura

Por Ana Dias Cordeiro in Público

Cinco pisos num prédio do início do século XIX na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa: o arquitecto José Adrião optou por manter traços das intervenções anteriores, de várias décadas

O júri declarou-o unanimemente como "um exemplo de boas práticas numa zona em que a reabilitação urbana é especialmente sensível". Em causa "o modo como conseguiu uma expressão actual, respeitando o património edificado, a sua natureza urbana e arquitectónica".

O arquitecto José Adrião (n. 1965) tornou-se anteontem vencedor do Prémio Vilalva (50 mil euros), criado em 2007 pela Fundação Calouste Gulbenkian, com a intervenção do seu atelier - José Adrião Arquitectos - num edifício pombalino da Baixa lisboeta, a Baixa-House.
O prémio reporta-se a 2011 e distingue, todos os anos, obras exemplares de recuperação e valorização do património não apenas arquitectónico. Entre os muitos candidatos estava, por exemplo, "um trabalho magnífico" de recuperação de uma primeira edição de Os Lusíadas. Mas, como reforça o arquitecto José Pedro Martins Barata, membro do júri, no Prémio Vasco Vilalva "as boas práticas são mais importantes do que os resultados". E para o júri, composto ainda pela historiadora Dalila Rodrigues, o professor do Instituto Superior Técnico António Lamas e o historiador de arte José Sarmento de Matos.
A obra, no valor de 950 mil euros, começou em 2010 e terminou um ano depois. A ideia é muito anterior e nasceu do encontro entre um arquitecto paisagista de Madrid, Jesus Moraime (n. 1971), e José Adrião, natural de Lisboa, por que Moraime se apaixonou.
"Adoro a arquitectura clássica portuguesa", diz Moraime, que conta como, em 2007, surgiu a oportunidade de investir em património. Podia ser Berlim ou Lisboa, escolheu Lisboa porque adora a sua topografia, com as colinas a desembocar no rio, mas também porque foi na capital portuguesa que encontrou a oportunidade de reabilitar património.
"Aqui há muito património a degradar-se. Vê-se muito capital investido em Cascais e Estoril, mas muito pouco em Lisboa." E deixa uma mensagem: "Espero que este prémio leve as pessoas a investir no património antigo da cidade."

Tempos diferentes

De 2007 a 2011, quando, em Fevereiro, a obra da Baixa-House ficou concluída, muitas coisas aconteceram. E o projecto só avançou porque foi aprovado o plano de revitalização da Baixa. Antes disso, só era possível fazer obras de restauro. Este projecto exigia mudar cozinhas, instalações privadas, introduzir um elevador e mudar a tipologia, passando cada piso a ter três apartamentos, em vez dos dois originais. Avançou pois em 2010.
O foco dos 15 elementos da equipa manteve-se num objectivo central, explica José Adrião: "Assumir todos os tempos diferentes do edifício, todas as alterações que teve ao longo dos 200 anos desde a construção no início do século XIX." A entrada do prédio resulta de uma intervenção dos anos 40, mas os azulejos, na caixa de escadas, são do fim do século XIX, exemplifica.
"Há muitos tempos ali e a nossa intervenção não será com certeza a última", nota. "Íamos fazer uma intervenção contemporânea, mas que mantivesse as outras para trás." E o importante era recuperar, mas não com a ideia de voltar ao original.

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