07/04/2012

Reabilitação urbana Intendente continua à espera de solução para problemas sociais e para a degradação





Moradores, comerciantes e oposição municipal consideram que cenário pouco mudou com a instalação de António Costa

Um ano depois de o presidente da Câmara de Lisboa ter instalado o seu gabinete no Intendente, não se vêem prostitutas ou toxicodependentes no largo. Mas, para comerciantes e associações da zona, a mudança de António Costa não chega para mudar aquela área da cidade.

Pouco depois das 14h30, no restaurante de Armindo contam-se pelos dedos de uma mão os clientes que ainda almoçam. Há um ano, o espaço era posto de almoço obrigatório dos funcionários da câmara que com António Costa se mudaram para o Intendente. Hoje, culpa da crise, a maior parte "já só traz a comida de casa", diz o dono.
Foi a 7 de Abril de 2011 que o presidente da autarquia mudou o seu gabinete para o largo, numa estratégia de promoção de uma das zonas mais degradadas da cidade, onde os prédios em ruínas e a prostituição são cartões de visita, e dando um sinal da aposta do executivo socialista na reabilitação urbana. As obras de recuperação do largo, que devem ficar prontas este mês, destinadas a albergar esplanadas e comércio, também não ajudam o negócio. "Enquanto as obras não acabarem, não vejo nada a mudar. Talvez quando acabarem, mas, até agora, não vejo nada de especial", descreve Armindo.
O casal Donasi tem opinião diferente. Donos de uma mercearia indiana e de um hostel, notam que o ambiente está melhor, mas temem que o "problema" volte quando as "obras acabarem". Agora, "com as obras, [as prostitutas e os toxicodependentes] não se atrevem a chegar aqui, mas na rua atrás continuam", explica a comerciante. À noite, a prostituição continua nos cinco ou seis bares da Rua dos Anjos. "António Costa está a fazer tudo bonito, mas enquanto não se acabar com alguns bares a má fama vai continuar", lamenta.
Inês Andrade, da associação Renovar a Mouraria, adianta que já foram intervencionadas muitas ruas do bairro, mas a obra, "só por si, não resolve os problemas". "O que se via numas ruas passou para outras, porque não foram dadas alternativas", explica, admitindo que "não se nota grande diferença" nos níveis de prostituição e de abuso de drogas.
"Há uma mudança porque está tudo em obras, mas as casas de alterne continuam lá e na Rua do Benformoso continua a haver tráfico e consumo de drogas", avança Luís Mendão, do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA. "É igual se o presidente está lá ou não, mas traz visibilidade ao sítio e é um sinal político importante. Ajuda a demonstrar que, com a sua presença, a situação tem de melhorar, e que não é só pela cosmética", rematou.
Já para a oposição na Câmara de Lisboa, os problemas sociais e de degradação urbana persistem no Intendente. João Navega, do PSD, critica "o custo de 672 mil euros que representa o aluguer, por dez anos, do espaço" onde António Costa instalou o seu gabinete, num edifício que pertencia à antiga fábrica de cerâmica Viúva Lamego. Para o social-democrata, "a tentativa não seria má se António Costa tivesse ido para um edifício municipal, dando o exemplo de fazer as coisas com pouco dinheiro, e depois tivesse sido definido um plano de reabilitação urbana e um programa de apoio social".
O vereador Ruben de Carvalho (CDU) considerou que "a recuperação da zona do Intendente melhorou por um conjunto de medidas que ali se vêm desenvolvendo e não tanto pela presença do gabinete de António Costa". O Intendente "não se degradou em dez anos e também não se vai recuperar em dez anos", defendeu o autarca. Para António Carlos Monteiro, do CDS-PP, a instalação de videovigilância é "um ponto essencial para a melhoria da segurança e para a reabilitação da zona". O vereador salienta que "não é possível convencer ninguém a investir no Intendente se depois não é possível colocar no mercado as habitações recuperadas, porque as pessoas não se sentem confortáveis com a falta de segurança". A agência Lusa procurou obter um balanço da medida junto de António Costa, mas sem sucesso. Lusa

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