13/06/2012

Jardim Botânico. Universidade de Lisboa sem dinheiro procura mecenas para a salvação.




Por Nelson Pereira, publicado em 13 Jun 2012 - 03:10  in (jornal) i online


Para já foi reposto o sistema de riachos e cascatas. Obras de reabilitação a sério só estão previstas para o ano

As obras recentes de conservação e limpeza devolveram ao Jardim Botânico de Lisboa (JBL) o sistema de riachos e cascatas e, dez anos depois, o lago tem água outra vez. “Com obras de reabilitação previstas para o próximo ano, a Universidade de Lisboa (UL) procura mecenato”, disse ao i o reitor da UL, António Nóvoa.

Quinta-feira o JBL reabre ao público. Uma boa oportunidade para descobrir um dos tesouros verdes da Europa. Num espaço de quatro hectares, no coração de Lisboa, encontram-se mais de 1500 espécies botânicas e um microclima que garante uma diferença de temperatura de cerca de 6 graus em relação ao exterior. Impermeabilizado o fundo do lago e o circuito de água, foram restabelecidos os dois regatos e até já se vêem bandos de patos no lago. Os caminhos foram alisados, os bancos foram limpos e foi criado um lugar de convívio e lazer. E foi retirado da alameda das Palmeiras o parque de estacionamento que ali funcionava há várias décadas. O objectivo é, segundo o reitor, “devolver o JBL à cidade, recuperando a relação próxima que já existiu entre os habitantes e este espaço”.

Para o antigo director do JBL professor Fernando Catarino, “o JBL é uma pérola da cidade, de enorme valor cultural, científico e histórico”. Uma pérola que tem estado votada ao esquecimento, até pelos visitantes nacionais, já que são os estrangeiros que mais visitam o jardim. O JBL necessita de obras de recuperação importantes, depois de um processo de degradação das infra-estruturas e das colecções botânicas aqui cultivadas. A UL tem previstas para 2013 obras de recuperação que incluem a restruturação do Observatório Astronómico, a organização de um novo sistema de rega e a reabilitação das cisternas, a reposição dos viveiros, a reabilitação da estufa e a construção de infra-estruturas de apoio aos visitantes. Procura para isso apoio de empresas privadas e concorre a dinheiros públicos e fundos comunitários: “Temos projectos de requalificação, mas é necessário financiamento. Decidimos candidatar-nos ao orçamento participativo de Lisboa e a fundos europeus”, adianta António Nóvoa. Segundo o reitor da UL, as recentes acções de manutenção foram pagas com verbas que ficaram das comemorações do centenário da universidade.

“Este jardim não é um jardim qualquer, pois encontram-se aqui muitas espécies – um património ecológico que é importante preservar e valorizar”, disse ao i Filipe Duarte Santos, catedrático da Faculdade de Ciências da UL. “Além de ser um exemplo notável à escala europeia, o JBL conserva espécies muito antigas e tem condições climatéricas de excepção – graças ao declive de cerca de 80 metros e à exposição do terreno a nascente, há aqui espécies que não se encontram ao ar livre na Europa”, acrescenta.

No JBL encontram-se espécimes vegetais oriundos das mais variadas latitudes e de todos os continentes. Entre as colecções vivas que ali são conservadas destacam-se gimnospérmicas, cicadácias, palmeiras e figueiras tropicais. Um banco de sementes e ADN preserva sementes de espécies raras ameaçadas e faz parte de uma rede internacional de bancos de sementes.

Mas não há só árvores frondosas. “No JBL faz-se investigação de ponta de nível mundial em criptogamia, com um trabalho muito vasto sobre musgos, biófitos e líquenes pouco conhecidos”, disse ao i Alexandra Escudeiro, bióloga do JBL. “Trata-se de um projecto de sistematização de bioindicadores de impacto ambiental”, explica. “Seria bom que a revitalização do JBL trouxesse mais pessoas a este lugar”, disse ao i Ireneia Melo, investigadora principal do JBL. “Quanto ao risco de má utilização, transmitir ao público visitante a necessidade de preservar este património cabe na função educativa do JBL”, frisa a investigadora.

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