01/04/2014

Ainda a propósito dos cruzeiros:


Em artigo recente do Público, «Lisboa está entre os destinos preferidos dos passageiros de cruzeiros» (http://fugas.publico.pt/Noticias/332542_lisboa-esta-entre-os-destinos-preferidos-dos-passageiros-de-cruzeiros). Não duvido e gosto de sabê-lo.

Contudo – e há sempre um mas nestas coisas – talvez fosse assaz interessante (e mais relevante) que a APL tivesse tornado público o estudo (que está muito bem feito) na sua totalidade para que se falasse igualmente não só sobre as criticas (muito pertinentes) que constam do inquérito realizado pelo Observatório do Turismo de Lisboa, como as propostas de resolução que também por lá constam.

Mormente as críticas ao estado de abandono da cidade (edifícios degradados e espaço público degradados, estacionamento caótico, falta de limpeza das ruas); à falta de instalações sanitárias nos percursos principais (a maior parte dos visitantes de cruzeiros é de meia-idade); à falta de sinalética entre terminal de cruzeiros e pontos turísticos; à ausência de estacionamento e/ou transporte individualizado (tendo em conta os idosos que são transportados); ao assédio a turistas na Baixa (venda de estupefacientes); à falta de organização dos serviços na chegada (táxis, autocarros, etc.); à pouca capacidade de escoamento de passageiros e armazenamento de bagagens; à falta de informação (antes e depois do desembarque); à ausência total de mapas da cidade e guias atualizados (na rua e em papel), bem como em escala compreensível; à falta de informação, no local, dos vários pontos históricos; à falta de guias que abranjam zonas históricas, mas também zonas novas (parque das nações é referido) e arredores (Cascais, Sintra, Estoril, praias, Almada (Cristo Rei) – para os turistas, Lisboa inclui Almada a Sintra; à falta de guias turísticos locais com adequado conhecimento dos locais a visitar ou com sugestões de visita; à ausência total de mapas da cidade e guias atualizados (na rua e em papel), que abranjam zonas históricas, mas também zonas novas (o Parque das Nações é referido) e arredores (Cascais, Sintra, Estoril, Caparica); à falta de guias turísticos locais com adequado conhecimento; à falta de informação sobre transportes a utilizar; à falta de informação de percursos preferenciais (menos inclinação, elevadores, etc.); à falta de informações úteis como farmácias, sanitários, centros comerciais, polícia.

Curiosamente, o item ”terminal de cruzeiros” é desvalorizado pelos passageiros de cruzeiros, ou seja, é indiferente a sua arquitectura É mais importante a capacidade de escoamento e o “antes-depois”, ou seja, a informação, acolhimento e encaminhamento, ou seja, a cidade.

Já no que toca aos factores mais valorizados, foram-no a cultura e o que diferencia Lisboa do resto do mundo: fado, calçada, pessoas. Pois…

Conclui-se que o imenso potencial das centenas de milhares de visitantes é desperdiçado. São visitantes de curta duração e de necessidades especiais e a cidade tem de se adaptar a esse nicho. O terminal de cruzeiros é uma melhoria mas não é preponderante no aproveitamento do potencial. Autarquias e turismo de Lisboa têm um grande trabalho para aproveitar, economicamente, este potencial.


Foto: Público

3 comentários:

  1. "Curiosamente, o item ”terminal de cruzeiros” é desvalorizado pelos passageiros de cruzeiros, ou seja, é indiferente a sua arquitectura"

    Óbvio, eles não são de cá, estão só de passagem. Por isso o aspecto arquitectónico/emocional não lhes toca muito. Ao contrário de quem vive e trabalha naquela zona de Lisboa.
    Mas a opinião desses ninguém quer saber, não é...

    ResponderEliminar
  2. Numa cidade para os turistas, acho que os cidadãos, pagadores de impostos, e que vivem em Lisboa, são absolutamente desprezados. Somos lixo. Ainda mais desprezado do que aquele que se encontra no chão e nos espaços verdes de Lisboa.

    ResponderEliminar
  3. Em Setembro passado e tendo sido noticiada a vinda a Lisboa em 10 desse mês (confirmei pelas fotos que tirei) de vários paquetes imponentes, desloquei-me a Santa Apolónia (não à estação dos comboios, obviamente) e aquilo era deprimente.

    Para começar, o percurso a pé do Terreiro do Paço até junto aos paquetes estava (está) num estado lastimoso, além de que ciclistas circulavam com à-vontade pelo meio dos turistas que por ali vinham até ao centro da cidade.

    Na vizinhança dos paquetes, um imenso espaço sem rei-nem-roque, os visitantes faziam fila à torreira do sol aguardando a vez de entrarem nos autocarros das excursões.

    Também já se viam por ali várias pessoas com aspecto duvidoso, abordando os que optavam por vir a pé visitar a cidade.

    E não pretendo alongar-me...

    Obviamente que nada disto é (pode ser) ignorado pelas "autoridades".

    Mesmo atendendo a que se vai construir um terminal, aquilo não são condições que se apresentem (nem provisoriamente) e que, sendo eu alfacinha, me fizeram sentir envergonhado.

    ResponderEliminar