04/07/2014

Não Parece E Não É

Aqueles que vêm aqui a este espaço com uma periodicidade certa já sabem que o clicar no link, que dá acesso ao espaço, vem acompanhado com uma preparação mental para mais um choque. Mas isto não é uma crítica ao Cidadania LX, que poderia optar por pautar as participações por artigos com histórias edílicas de como a cidade de Lisboa está em bom caminho, fazendo uma lista destacada à direita das imensas distinções com que a cidade que tem sido agraciada por parte de revistas e sites de turismo, de preferência por ordem alfabética (se bem que por ordem cronológica seria bastante aceitável também).
Mas não... aqui são publicadas, principalmente, denúncias, indignações e palavras de pasmo de como o lisboeta trata e vive a sua cidade. Os políticos? São reflexo direto dos cidadãos.
Assim sendo, não podendo fazer do meu post uma excepção - e sabe Deus como gostaria de poder ser a excepção - trago mais uns desenvolvimentos do caso do magnífico prédio de gaveto de que se tratou aqui neste artigo e noutros.
   

Estas imagens pertencem ao folheto da Cobertura Imobiliária que comercializa este empreendimento.
Na descrição lê-se «... edifício residencial edificado no séc. XIX ... com uma arquitetura Fin de Siécle...»
Como podem ver os interiores originais foram demolidos, sem excepção, e o edifício cresceu em altura numa descontinuidade declarada de estilo. O que resta da tal arquitetura magnífica  fin de siécle ? A fachada, que agora é um mero objecto desconjuntado, num puzzle onde as peças não encaixam.
Eu sei que é difícil, nos tempos que correm, olhar para as imagens do interior e não gostar. Mas lisboetas, este edifício não fica nas Telheiras, na Alta de Lisboa ou no Parque das Nações! E interiores magníficos, de época, com materiais genuinos de qualidade que duraram mais de um século foram sacrificados. Foram para o lixo, não existem mais...
Até quando esta calamidade e crimes impunes? Quando não sobrar mais nada que nos conte como se sentia, vivia, construia antes da nossa época, resta-nos viajar e ver o que já tivemos.
Podia ter sido feito assim:


Não há nada a crescer por cima destas coberturas de comuns edifícios parisienses. Porquê?
Os interiores preservados não têm de ser exatamente depressivos, opressores. Antes pelo contrário: interiores antigos têm um enorme potencial porque eles foram pensados exatamente com a função de representação do dono da casa.


Estes interiores, goste-se ou não, nada têm de opressor ou depressivo. E as possibilidades decorativas são infinitas.

Vamos lá Lisboetas. Vamos mostrar que podemos aprender com os bons exemplos. Vamos mostrar que o génio português não se esgota no abarracamento e no kitch moderno e no pseudo-design. Vamos ser esclarecidos quando colocamos cruzes em boletins de voto, vamos olhar com olhos de ver quando andamos pelas ruas. Vamos discutir estes assuntos com os amigos de forma a criar sensibilização e consciencialização para este problema que já tem contornos de urgência. Vamos mostrar que gostamos verdadeiramente da nossa cidade.

PS - façam ouvir a vossa indignação escrevendo para a imobiliária Cobertura, em cobertura@cobertura.pt
penalizando-a por aliar-se a mais um caso de crime patrimonial. Quantos mais emails mais efeito terá a nossa voz de protesto por isso divulguem.

7 comentários:

  1. Esses edifícios em Paris tiveram manutenção ao longo das décadas. Nunca sofreram com rendas a 15 Euros, nem passaram pela burocracia infernal para fazer o que quer que seja. Não podemos comparar Lisboa com Paris. Pois se quiserem comparar eu também posso argumentar que Paris tem uma La Defense com torres de grandes empresas e Lisboa não.


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  2. Nada melhor que um artigo deprimente (com fotos de cidades civilizadas) para aconchegar a alma, antes de ir para a caminha.

    Quanto à cartinha; acabo de abrir o meu email. Aqui vai ela...

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  3. Atenção!

    A EPUL está a promover a comercialização de 10 lotes de imóveis para reabilitação em Lisboa:


    http://www.epul.pt/concursos/hastapublica/?idc=113

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  4. Empreiteiros e arquitectos foleiros e novo riquistas, que agora já não podem fazer grandes condomínios em Odivelas e vêm destruir o centro de Lisboa. (sem ofensa..)

    Mas tenham algum respoeito pelo nosso património, viagem e vejam se aprendem alguma coisa do que significa reabilitar uma cidade!
    Isto que se passa em Lisboa é vergonhoso. Mas como diz Manuel Salgado: aprove-se! (custe o que custar à nossa cidade, acrescento).

    Não era possível fazer as coisas BEM?!

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  5. Caro Paulo,
    o que escreve é verdade mas não afasta o argumento que é possível recuperar criteriosamente porque estamos a fazer referência a edifícios que são recuperáveis (na realidade sempre são, depende da vontade). A razão porque acabam por não ser recuperados prende-se com o facto de, onde há um apartamento hoje, com a destruição dos interiores vão haver dois, ou mesmo três. O argumento de monta e diretamente responsável pela destruição de património edificado prende-se com a ambição grosseira de quem constrói e promove estes crimes, e uma classe política eleita para facilitar operações deste género.
    Não vejo qualquer tipo de relação entre o que descreveu e o facto de não se proteger e recuperar criteriosamente um edifício mas o seu argumento é exatamente o que quem faz este tipo de coisas alegam. Arranjem melhores argumentos ou sejam sinceros!

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  6. Na mouche Anónimo da 1:33.

    NA MOUCHE!


    Falácia, teias de interesses, incompetência, ignorância, mau gosto.. Chega a ser pouco para descrever as monstruosidades que tem aparecido aos molhos, nesta cidade, há já algum tempo.

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  7. O autor do post é livre de comprar um prédio devoluto (é o que não falta) e reabilitá-lo da forma que acha esteticamente agradável.

    Criticar o trabalho dos outros é fácil.

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