02/11/2016

Hotéis de Salgado & Cia.



Dois prédios Arte-Nova na Rua Rosa Araújo. Perfeitamente viáveis, menos para o gabinete do urbanismo que acha que esta arquitectura não é para ser valorizada e muito menos preservada.

O vereador não gosta desta época, não gosta dos gaioleiros, não gosta de prédios de rendimento e moradias da Lisboa Entre-Séculos. O pior é que também não gosta de prédios pombalinos, de palácios barrocos e renascentistas, de casas e prédios pré-terramoto. Os exemplos são vários e sempre muito maus. palácio Santiago, palácio da Anunciada, casa apalaçada na Rua das Trinas, casa pombalina na Rua da Lapa e mais um enorme etc.

E estes dois. São agora hotéis muito lustrosos e cheios de conceitos e de spas. O diálogo entre o chapéu de vidro e aço e as cantarias originais é assustador.

Lisboa está hoje uma cidade cada vez mais descaracterizada.

5 comentários:

  1. Mas que monstro!!!

    Realmente é complicado arranjar adjectivos adequados a esta obra de modernização. Parece haver uma falta de gosto total entre os arquitectos e quem aprova estes projectos na CML.

    O Gastão Brito e Silva do blog ruinarte tinha uma rubrica, que era o prémio Valmau, onde se podia escolher o prédio mais feio de Lisboa.

    Julgo que neste blog se poderia fazer uma coisa semelhante para selecionar a intervenção mais aberrante em edifícios históricos.

    Um abraço e obrigado por denunciarem esta situação

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  2. A primeira foto é elucidativa!

    Parece que as varandas do condomínio "Parque Rio Expo" acabaram de aterrar ali! Ou serão do condomínio metrocity?

    Medonho!

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  3. Anónimo10:29 a.m.

    Que terá passado pela cabeça de Frederico Valsassina?!...

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  4. Caro LuísY,


    Obrigado pelo comentário e por seguir o trabalho deste blogue.

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  5. É já fora de tempo que presto o meu testemunho. Espero que alguém leia isto. Vivi no 2o andar de um destes edifícios (no 4) entre 1977 e 1996. Passei aqui a minha juventude, depois de vir de Moçambique, onde nasci. O no 4 e o no 6 eram prédios geminados, mandados construir por um pai para as suas 2 filhas. Os prédios eram muito bonitos. Conheci bem os dois. Nessa altura as crianças e os adolescentes faziam dos vizinhos amigos e era com eles que se jogava à bola na rua. Frequentava se as casas uns dos outros. A entrada do número 4 e toda a escadaria até ao último andar mantinham o aspecto original. As paredes eram gigantescas e iam até ao último andar a reflectir no brilho satinado do estuque a imitar mármore a luz que entrava a pique pela enorme clarabóia do tecto. O estuque era uma escaiola muito elegante. As paredes apresentavam variações cromáticas muito subtis e a cor predominante era um cinzento com um ligeiro tom ocre. Eram paredes ligeiramente irregulares, por força de um trabalho artesanal difícil. A escaiola era de uma qualidade incrível. Não havia falhas no estuque. A cal usada deva ter sido da melhor qualidade e os estucadores deviam ser muito qualificados. Não havia um único pedaço de estuque descolado. Os tectos eram trabalhados, mas sem ostentação. Havia uma modernidade surpreendente nos tectos. Os florões centrais e alguns motivos vegetais de gosto aparentemente romântico eram cruzados com motivos geométricos. Uma linha de estuque em relevo inflectia sobre ela própria de maneira a desenhar um quadrado incompleto. Quase arbitrarianente as linhas direitas cercavam os motivos naturais: um cerco aos excessos de imaginação vindos do romântismo. Não havia um único pedaço solto ou partido. As aduelas eram sólidas e muito bem envernizadas e as várias madeiras eram muito boas e bem trabalhadas. O soalho não tinha uma falha, não havia uma tábua mal fixa ou empenada. A madeira das janelas e portadas era pesada e de uma densidade que já não se usa. Não havia uma única deformação. Janelas, portas e portadas abriam e fechavam com uma afinação milimétrica. Maçanetas, fechaduras e ferragens no geral funcionavam como se fossem novas. Tudo estava em condições excepcionais. Mas de um país que delapida com prazer o próprio património não se pode esperar que defenda construções destas. Os parolos e os labregos hão de ser sempre parolos e labregos. E quando os parolos e labregos têm acesso ao poder, o poder multiplica lhes a parolice à máxima potência. É uma tristeza ver no que é que os números 4 e 6 da Rosa Araújo se tornaram. Mais um monumento à parolice delirante de um país sem rumo.

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