08/05/2006

2º Maior "pulmão" de Lisboa vai nascer: Alvalade-Belavista. CML planeia "fusão" entre Parque Bela Vista, Mata e terreno Bº S.João de Brito

In Público (7/5/2006)
Diana Ralha

"A Câmara de Lisboa está a estudar a "fusão", a médio/ longo-prazo, de três grandes espaços verdes, no eixo Alvalade-Belavista, criando, assim, o segundo maior "pulmão" de Lisboa, a seguir a Monsanto.
A ideia, segundo explicou ao PÚBLICO o vereador António Proa, responsável pelo Pelouro dos Espaços Verdes, numa visita à Mata de Alvalade - que foi requalificada e reaberta há pouco mais de uma semana -, é ligar o Parque da Belavista (segunda maior mancha verde da cidade, onde se irá realizar este mês o festival Rock-in-Rio Lisboa), aos 17 hectares da Mata de Alvalade, através da Avenida Gago Coutinho, e criar uma ligação pela Avenida do Brasil da Mata aos oito hectares de terreno onde, actualmente, ainda se ergue o precário e ilegal Bairro São João de Brito.
Este é um projecto ambicioso e de grande envergadura, "que vai criar a segunda zona verde mais rica da cidade", afirma Prôa, pelo que o seu prazo de execução não está definido. Mas será sempre num universo temporal de médio/ longo-prazo, ressalvou o vereador, lembrando que este projecto pressupõe a demolição do Bairro São João de Brito, e realojamento dos seus habitantes, ao abrigo do Programa Especial de Realojamento (PER), na parcela de três hectares que foram desclassificados da zona sul da Mata de Alvalade (próximos das avenidas Gago Coutinho e Rodrigo da Cunha), onde serão construídos 200 fogos.
Acrescem, também, os conhecidos constrangimentos financeiros da autarquia que não permitem fazer tal investimento ainda neste mandato. A zona actualmente ocupada pelo Bairro São João de Brito terá uma valência mais desportiva, aproveitando a proximidade do parque desportivo municipal, adiantou o vereador ao PÚBLICO.
Até à concretização da "fusão" dos três parques num enorme "corredor verde", a câmara vai trabalhar na requalificação dos três espaços verdes, isoladamente. Para já, a prioridade é chamar mais lisboetas à Mata de Alvalade, onde a autarquia investiu, nos últimos quatro meses, cerca de 155 mil euros.
A Mata encerrou no dia 5 de Janeiro e reabriu a 20 de Abril. O objectivo da empreitada foi colmatar deficiências existentes sobretudo ao nível dos pavimentos. A intervenção, realizada numa extensão de quase dois quilómetros, consistiu na substituição do pavimento por betão poroso colorido (numa área de 3.122 metros quadrados), conclusão do caminho em betuminoso de acesso ao miradouro, fixação das pedras soltas que constituem o remate do pavimento em betuminoso existente e colocação do pavimento em areia por borracha reciclada na zona do slide. Foi também feita uma recarga do pavimento em pedra pequena e solta (numa área de 2.090 metros quadrados).
Apesar das obras de reabilitação e do cenário idílico, a Mata de Alvalade estava deserta à hora de almoço de uma sexta-feira soalheira.
António Prôa reconhece que muitos lisboetas não sabem sequer da existência destes 20 hectares de parque na cidade, apesar da qualidade deste espaço verde - que disponibiliza um circuito de manutenção, parque infantil, parque de merendas dotado de barbecue, uma vegetação rica, muitas sombras e um refúgio ao caos da cidade mesmo ali ao lado, na Segunda Circular e zona do aeroporto.

Faltam casas de banho
Um grupo de mais de 40 crianças de um jardim de infância que se deslocou à mata detectou uma das maiores deficiências - a ausência de instalações sanitárias. Prôa reconhece essa falta, que é reclamada pelo presidente da Junta de Freguesia de São João de Brito desde 2000, aquando das primeiras obras de requalificação do parque. E admite que os lisboetas ainda têm uma má imagem da Mata de Alvalade, que tem que ser alterada.
Por isso, a autarquia está a estudar a construção de uma esplanada no coração da Mata e de novas atracções que chamem mais lisboetas àquele parque. Na próxima Primavera, estes equipamentos já estarão concluídos, garante o vereador.
Ainda no plano das hipóteses, António Prôa nomeou ao PÚBLICO alguns dos equipamentos que gostaria de ver naquele espaço verde: mesas de ping-pong, pistas de skate e um campo de mini-golfe. Face às restrições orçamentais, estes equipamentos terão que ser construídos com recurso a parcerias publico-privadas, nomeadamente, através do contrato de concessão do bar-esplanada que vai ser construído
."

Isto é tudo muito bonito mas o busílis está no facto de se realojarem moradores de um bairro ilegal, o Bairro de São João de Brito (composto na sua esmagadora maioria por retornados e espoliados de África), desbravando-se hectares de uma mata/jardim público. A CML devia recuperar os inúmeros prédios degradados que possui por Lisboa (incluindo na freguesia em causa), e realojar as pessoas nesses prédios. Não deve criar guetos nem destruir matas ou jardins.

PF

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