07/06/2006

Mais tempo para os peões no eixo central de Lisboa

In Público (7/6/2006)
Francisco Neves

"Período de luz verde para atravessar faixas de rodagem aumenta entre 50 e 60 por cento. Técnicos não gostaram da inovação

Desde domingo que os semáforos de vários cruzamentos do chamado eixo central de Lisboa - dos Restauradores a Entrecampos - aumentaram os tempos destinados ao atravessamento de peões, informou o gabinete da vereadora da Mobilidade. Esta mudança destina-se a ensaiar novas medidas destinadas a dar mais segurança aos peões. "A gestão do sistema de semáforos tem sido tradicionalmente organizada para que os automóveis se possam deslocar com rapidez, não tendo sido equacionada a vivência dos peões e, sobretudo, dos que possuem mobilidade reduzida (25 por cento da população de Lisboa é idosa, por exemplo)", refere um comunicado emitido ontem pelo gabinete da vereadora Marina Ferreira. Segundo o mesmo texto, as "novas linhas políticas" da autarca têm como prioridade "o combate à sinistralidade rodoviária e a preferência ao peão."

O ensaio iniciado no fim-de-semana aumentou em 60 por cento os tempos de luz verde para os peões nos cruzamentos da Av. João Crisóstomo e Miguel Bombarda, "permitindo a passagem do eixo central de uma só vez". Marina Ferreira deverá testar hoje à tarde a travessia da Avenida da República, acompanhada por presidentes de juntas de freguesia e membros da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), e anunciar outras "medidas de protecção dos peões a implementar a curto prazo". A mudança, que não abrange ainda os semáforos de todos os cruzamentos, dá em média mais 50 a 60 por cento de luz verde aos peões, reduzindo-a para os automóveis. Os tempos variam, mas, por exemplo, o tempo verde é maior para os peões quando há menos acumulação de tráfego - e portanto mais velocidade automóvel.

ACA-M critica técnicos

"É uma boa medida que vemos de uma forma cautelosamente positiva", comentou ontem Manuel João Ramos, dirigente da ACA-M. A associação tem defendido a duplicação do tempo verde para os peões. "O Departamento de [Segurança Rodoviária e] Tráfego da Câmara de Lisboa atrasou a entrada em vigor deste ensaio, que era para ser apresentado domingo passado. É a cultura dos departamentos de tráfego municipais que é preciso mudar, porque têm mitos cristalizados pela lógica da construção civil e dos grandes eixos viários. Vamos ver o que o teste dá. Até agora, e ao contrário do que se temia no Departamento de Tráfego, não houve problema nenhum com o trânsito automóvel. Por isso é de planear uma mudança rápida do sistema Gertrude, que dê mais tempo aos peões," afirmou.

Marina Ferreira admitiu ter sentido "resistências" por esta "alteração total da prática até agora seguida". "Estou a lutar contra o tempo da história", comentou, mas acrescentou: "O ensaio tem corrido muito bem, o que dá razão à minha tese de melhorar a condição de peão e de promover uma cidade onde se ande a pé." No eixo central de Lisboa registaram-se, no ano passado, 508 acidentes, que fizeram três mortos, 12 feridos graves e 135 ligeiros. No troço da Av. da República ocorreu o maior número de atropelamentos (19), seguida pelas avenidas da Liberdade (14) e Fontes Pereira de Melo (dez), refere um balanço emitido pela câmara. O maior número de acidentes dá-se na Praça Marquês de Pombal
."

Esta é uma boa notícia, que convém passar já a prática definitiva, deixando-nos de testes. Mas lendo a notícia fica-se sem saber se a Vereadora Marina Ferreira está contra os automóveis circularem a cem à hora, se contra os técnicos que estão contra o novo sistema e, por conseguinte, contra os peões.

PF

1 comentário:

  1. Isto é tudo muito verdade e eu concordo em absoluto com a medida de ampliação dos tempos de passagem para peões. Sou utilizador diário da Av. da República e da zona envolvente desde há muitos anos, como peão e como automobilista e, como tal, conheço bem a situação.
    Todavia, não me parece que se deva falar com essa ligeireza dos números dos atropelamentos: a maior parte deles, e eu já vi alguns, infelizmente, verificam-se fora das passadeiras, com os peões a entrarem na rua a correr, sem olhar, saindo pela frente de autocarros estacionados, etc.
    Qundo é que se vai começar a pedir aos peões que também sejam responsáveis?

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