"200 milhões de dívidas de curto prazo
Câmara de Lisboa prepara venda de seis palácios e sete quintas
In Público (19/9/2006)
José António Cerejo
Preparativos para a venda de algumas das mais importantes peças do património municipal estão em curso. A receita será simbólica face às dívidas
A Câmara de Lisboa está a ponderar a possibilidade de vender seis palácios e sete quintas que fazem parte do património municipal. Para poder avançar com os respectivos processos logo que haja decisões políticas nesse sentido, o vice-presidente da câmara, Fontão de Carvalho, solicitou aos serviços um conjunto de pareceres sobre aquilo que é possível construir em cada uma das 13 propriedades em questão.
Para além do Palácio Pombal e da Quinta de Nossa Senhora da Paz - cuja venda em hasta pública será discutida e votada na reunião do executivo camarário de amanhã -, o gabinete do vice-presidente e vereador das Finanças confirmou ao PÚBLICO que está a ser preparada a "eventual alienação" dos palácios Marim Olhão, Marquês de Tancos, Benagazil, Pancas Palha e Alameda das Linhas de Torres 154/156, bem como das quintas das Flores, dos Alfinetes, das Fontes, de Santa Catarina e do Pombeiro e ainda de uma parcela de terreno cedida ao Museu da Criança junto à Av. Gago Coutinho.
Um dos passos já dados com vista à venda em hasta pública destes imóveis foi a elaboração de pareceres, no quadro do Departamento de Planeamento Urbano, a pedido de Fontão de Carvalho, que estabelecem a edificabilidade permitida pelo Plano Director Municipal (PDM) e outros instrumentos de ordenamento em cada uma das propriedades. "A solicitação destes pareceres prende-se com a necessidade de fazer uma avaliação das propriedades para preparar uma eventual alienação das mesmas", explicou o porta-voz de Fontão de Carvalho. De acordo com a mesma fonte, "a câmara pretende garantir também que as edificabilidades originais serão mantidas, impedindo a criação de expectativas quanto ao seu aumento junto de quem venha a participar em eventuais hastas públicas para alienação das propriedades".
Reagindo aos preparativos destas operações, o vereador socialista Manuel Maria Carrilho comentou: "É muito preocupante. A concretizar-se, será uma fuga para a frente, que não resolve os gastos da câmara e que agravará os problemas da cidade".
A informação final, que sintetiza os 13 pareceres produzidos, tem data de 31 de Agosto e não permite grandes euforias quanto ao efeito que a venda destas "jóias" possa vir a ter nas depauperadas finanças da autarquia.
Palácios têm de ser preservados
"Conclui-se que os palácios em análise deverão ser todos preservados (??!!), podendo em alguns casos proceder-se a pequenas (???!!) obras de ampliação, sempre dependentes de parecer prévio favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico [Ippar]. No que concerne às quintas analisadas os condicionamentos são muito restritivos", afirmam os cinco autores no resumo do documento.
Os pareceres salientam também a existência de anteriores propostas de utilização de alguns dos imóveis e de compromissos com outras entidades, que actualmente ocupam parte deles. Relativamente à Quinta das Fontes - que, tal como a de Santa Catarina, ambas em Chelas, foram classificadas de "prioritárias" no processo de avaliação das edificabilidades -, o documento final lembra que se encontra pendente uma proposta dos serviços no sentido da sua cedência à associação "O Companheiro". De igual modo, existe uma proposta, que também aguarda "decisão superior", para que a Quinta de Nossa Senhora da Paz seja ocupada pelo Museu da Criança.
Avaliando a capacidade construtiva do Palácio Marim Olhão, no gaveto da Calçada do Combro com a Rua do Século, o texto conclui que apenas poderá ser considerada a reabilitação e remodelação do edifício existente para uso habitacional, admitindo-se uma ampliação nas traseiras, que já em tempos foi aprovada pela câmara e pelo Ippar.
No caso do Palácio Marquês de Tancos, onde está instalada a sede da empresa municipal EGEAC e a Companhia de Dança de Lisboa, e para onde estão a ser transferidos vários serviços do Departamento de Cultura, o documento refere que o imóvel "não apresenta possibilidades de ampliação" e que apenas poderá ser construída uma pequena área de estacionamento em cave ou à superfície.
Quanto ao Palácio Benagazil, situado nos terrenos do Aeroporto da Portela, junto aos edifícios da TAP e da ANA, e com cerca de 4700 m2 de logradouros, os técnicos sublinham as inúmeras restrições impostas pela proximidade do aeroporto e notam que o PDM não estabelece índices de construção para as "áreas de usos especiais".
Quintas também quase sem edificabilidade
Poucas hipóteses de rentabilização oferece também o palacete situado na Alameda das Linhas de Torres 154/156, onde funcionam alguns serviços camarários. Apesar de o terreno contar perto de 2400 m2 e incluir um outro edifício de dois pisos além do palácio, os autores do parecer dizem que "não se julga viável obras de ampliação em nenhum dos edifícios que compõem este conjunto". Finalmente, o Palácio Pancas Palha, que foi recuperado há poucos anos pela EGEAC e acolhe diversas entidades públicas e privadas, também não dispõe de qualquer edificabilidade adicional nos 9500 m2 que ocupa em Santa Apolónia. Quanto às quintas, o panorama não é muito mais animador. Na prática, só na das Flores (quase quatro hectares) e na dos Alfinetes (16.200 m2) poderá haver alguma construção para lá da existente. A avaliar pelos seis milhões de euros propostos por Fontão de Carvalho como valor base da hasta pública do Palácio Pombal e pelas reduzidas edificabilidades de que dispõem os restantes palácios e quintas deste conjunto, as receitas provenientes da sua eventual alienação poderão dar uma ajuda à tesouraria camarária, mas não passarão de uma gota de água face aos 200 milhões das dívidas de curto prazo do município."
Comentários:
É lamentável e triste, esta venda de património.
Uma coisa é escrever-se isto e aquilo sobre a proibição da edificabilidade e outra bem diferente é a realidade, a experiência demonstra-o ... alguém acredita que quem comprar um destes palácios resistirá a esventrar o logradouro ou o jardim, ou resistirá a acrescentar pisos ou anexos?
O que se deve acautelar nestas vendas é fazer cumprir uma cláusula que garanta o retorno do palácio à CML se alguma alteração for feita, com respectivo custo de reposição do original pelo proprietário... e isso é uma coisa que num país como Portugal dificilmente alguém acredita que será feito!
PF
in http://pslumiar.blogs.sapo.pt
ResponderEliminar«De xa2 a 21 de Setembro de 2006 às 11:53
Se as AUTARQUIAS (e ...) estão num pântano de dívidas, com estruturas/procedimentos inadequados e com territórios desordenados, ...
- De quem é a culpa?
- O que fazer para alterar esta tendência?
1º Reconhecer que há ERROS, culpas e CULPADOS (em diversos graus de responsabilidade - sendo que os políticos e dirigentes de topo, devem ser os mais responsabilizados !).
2º Aplicar SANÇÕES (financeiras, profissionais, políticas, civis, ... - incluindo a suspensão dos seus direitos políticos, de ser eleito para qualquer órgão político nacional ou autárquico, e de ser nomeado para qualquer cargo de administração/ direcção ou chefia em entidades públicas ou detidas maioritariamente por capitais públicos !!) aos culpados e em conformidade com o o seu grau de responsabilidade.
3º Se as entidades públicas (municípios, empresas, ...) têm problemas técnico-financeiros, porque não lhes aplicar os procedimentos usuais para as privadas: demissão de 'administradores' por justa causa, RE-ESTRUTURAÇÃO/'downsizing', alienação de activos fora do 'core-business', assumpção das dívidas pelos accionistas/ eleitores, aumentos das 'vendas'/impostos e taxas, ... falência e venda da entidade ou absorção por outra (incluindo a EXTINÇÃO de serviços, programas, empresas, ... autarquias) !!
As entidades 'saudáveis' e a generalidade dos contribuintes não devem ser penalizados pelos erros de má gestão, de maus políticos, de outras entidades (autarquias).
- Porque não criar/ divulgar na internet e jornais a lista de maus gestores/políticos ou cuja actuação trouxe sérios danos para as entidades públicas de que eram responsáveis? A exemplo do que se faz para os devedores à Seg.Social, Fisco, bancos, mercearia, ...
E, se em 10 milhões de habitantes, não se encontrarem CANDIDATOS a DIRIGENTES/ POLÍTICOS(sem currículo manchado), deve abrir-se CONCURSO público INTERNACIONAL (preferindo-se que sejam falantes de português) entre a diáspora portuguesa e luso-descendentes e/ou entre membros da União Europeia.
- Porquê manter as freguesias na sede de município e tantas freguesias nas cidades grandes (tendo cada freguesia reduzida dimensão, pouquissímos eleitores, sem funções/competências/recursos de real valor, ... e serviços/jurisdição sobreposta à dos municípios )?
...
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De vários a 22 de Setembro de 2006 às 15:34
« De herculano a 21 de Setembro de 2006 às 13:08
A situação é muito grave e alguma coisa terá de se fazer para 'sanear' a autarquia.
Alguém vai ter de 'entrar' com o dinheiro !!!
- Quem?
Os autarcas, os trabalhadores, os munícipes, os contribuintes em geral (através de transferências do Estado/ OGE), ... ou compradores de bens municipais.
- Como?
Através de taxas, impostos (municipais, nacionais, especiais...), serviços (mais caros), vendas (de património municipal), ou redução de despesas/ custos (em: mão-de-obra, aquisições, investimentos, ... serviços fornecidos).
Será escolhida/ imposta uma destas opções ou talvez uma mistura de várias.
Em que proporção? Por que não fazer um referendo municipal com as diversas opções?
O que tenho dúvidas (e lamento muito) é que os mais responsáveis sejam (os mais) penalizados. Provavelmente manterão os seus cargos ( re-eleitos ou re-conduzidos) e serão, até promovidos ou elogiados por encontrarem uma 'solução' para as asneiras feitas ou deixadas fazer !!
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De anónimo a 22 de Setembro de 2006 às 10:41
Com défice tão grande e tão pouca movimentação por parte da Freguesia, Moradores, Partidos ... alguém tem dúvidas da VENDA deste património e muitos mais ainda ?! ...
Aliás, esta solução é um EMBUSTE, pois os mesmos (e com a maioria na Assembleia e na Câmara) vão continuar a MAL GERIR a CML, e o défice vai continuar ...
A proposta de manter/preservar/cuidar do palacete e seu jardim e não permitir maior edificação - a concretizar-se, seria menos mal (passaria a ser privado o que actualmente é público mas fechado e a degradar-se).
Mas a proposta é irrealista (só um milionário e filantropo é que aceitava e cumpriria essas condições) e tem "gato escondido com rabo de fora", logo na adenda que considera dever ser o preço aumentado se vier a existir mais construção...
E fazer aos deputados municipais, aos partidos e aos munícipes tal proposta é um INSULTO à sua inteligência (ou então já estão a contar com conivências e silêncios comprometedores)...
Que fazer ?
- MOÇÕES (nas Assembleias de Freguesia e Municipal) de OPOSIÇÃO à venda deste património (integrado em conjunto histórico) e RECOMENDANDO a sua reutilização para fins de utilização pública (especialmente os jardins/ mata/ campo de jogos);
- Alertar/mobilizar moradores, associações e comunicação social sobre o que a CML quer fazer;
- Denunciar a má gestão da CML (especialmente das suas Finanças e património) e a apresentada FALSA SOLUÇÃO, que não resolve e apenas prolonga o problema.
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VENDA-SE ...
Eu acho que se devem VENDER todas essas Quintas, Palácios e Edifícios que não estão a ser utilizados ou estão mal aproveitados e a degradar-se - não é um Património mas sim um Passivo !!
Pela mesma razão, grande parte dos vereadores, deputados, administradores e directores municipais, chefes de departamento e de divisão da CML (e suas empresas municipais), também deveriam ser LEILOADOS ou, no mínimo, EXTINTOS os seus CARGOS por justa causa (por: dolo, gestão danosa, incompetência, ...) e sem direito a indemnização !!
Os MUNÍCIPES é que deveriam ser indemnizados mas, como a maioria 'VOTOU' neles, está certo que em vez de indemnização aguentem/ PAGUEM o Défice e lhes sejam AGRAVADAS as Taxas e impostos municipais, os serviços e as Rendas a pagar ao SEU município !!!
e PAGUE-SE !!
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