Por
João Proença
Presidente da Casa do Alentejo
In dn-lisboa.blogspot.com
"Em primeiro lugar, esta questão não é nova. Há décadas que ouvimos falar da realidade: a Baixa de Lisboa perde habitantes. Os bancos e as companhias de seguros foram adquirindo edifícios, foram ocupando território e empurrando os seus habitantes para fora deste espaço. Infelizmente, o património edificado está cada vez mais degradado. A população residente é cada vez mais idosa. Sabe-se que vivem na Baixa idosos que mal saem de casa. Vivem, segundo sei, nos pisos superiores e, portanto, com maiores dificuldades de acesso.
Nos pisos rasteiros, na melhor das hipóteses, há comércio. Mas este tem poucos clientes, cada vez menos. Daí que se fale de dificuldades crescentes e de falências à vista. Portanto, uma situação social e económica complicada.
Como já foi referido, o património está cada vez mais velho e degradado. Muito, mas mesmo muito desse património, é propriedade do Estado. Isso, ao contrário do que deveria acontecer, não é um elemento que venha facilitar a reabilitação do edificado. Pelo contrário, o que todos temos visto é que os edifícios que são propriedade do Estado encontram-se tanto ou mais degradados do que os de propriedade privada.
Reabilitar e reanimar a Baixa é fundamental! É preciso actuar rapidamente. É imperioso travar a degradação e trazer para esta área um maior número de habitantes. É um desafio de primeiro plano. Um grande desafio.
Há muitas frentes de combate que têm de ser abertas e que exigem, em meu entender, três abordagens: em primeiro lugar, mobilizar muitas vontades; em segundo, coordenar muito bem essas vontades e em terceiro reunir uma verba considerável.
Os projectos, os planos e as ideias têm-se multiplicado. Ao longo de décadas, cada geração tem tido a sua perspectiva e dado a sua opinião. Cada época tem reflectido as questões que considera mais importantes. Prova disso são os termos utilizados na imprensa: “Reabilitar Lisboa”; “Revitalizar a Baixa”; “Reanimar o Comércio”; “Recuperar Habitantes”.
Várias personalidades se têm manifestado relativamente aos objectivos de um plano que a Câmara de Lisboa aprovou. Do que se conhece desse plano, julgo que já é legítimo dar duas ou três opiniões centrais. Por um lado, o plano alastra para lá da Baixa e isso pode dificultar os consensos nesta fase do processo; por outro, o planeamento financeiro, como nos é apresentado, é muito frágil e pouco explícito - ficamos sem saber de onde vem a verba, se está assegurada ou se se trata apenas de um simples estudo aproximativo, feito sem rigor. Finalmente pergunta-se: para quem se vai reabilitar a Baixa? Para as camadas de elite? Isso é muito perigoso. Estaríamos, então, a criar um gueto.
Terminando a minha análise, refiro, naturalmente, a situação em que se encontra a Casa do Alentejo. O Palácio Alverca, a nossa sede, está na Baixa e trata-se de uma peça única de património a preservar. Esperamos e confiamos que a sua reabilitação se concretize e que se torne uma realidade rapidamente. É urgente que tenhamos algum apoio. Preservar e reabilitar um palácio seiscentista que encerra um património histórico e cultural de grande dimensão é fundamental para a cidade e, especificamente, para a Baixa Pombalina."
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