“Para os parisienses, qualquer local da cidade serve para fazer de parque ou de jardim: varandas minúsculas, fábricas de automóveis abandonadas, garagens de estacionamento falidas, instalações rodoviárias abandonadas e, até, a gigantesca fachada curva de um novo museu. Sacrificam a largura das avenidas em beneficio da existência de trilhos para bicicletas, protegidos por árvores de copa frondosa. Defendem a criação de jardins comunitários, em vez de apartamentos ou centros de congressos.
Segundo artigos científicos recentes, os espaços preenchidos por vegetação frondosa filtram a poluição e capturam partículas minúsculas de sujidade e fuligem: as árvores das ruas podem reduzir as partículas em suspensão libertadas pelos tubos de escape. As folhas das árvores também bloqueiam a luz solar, criando ilhas de arrefecimento na cidade.
Os parques e os jardins são também essenciais para o bem estar social e psicológico do ser humano. Segundo Francês Kuo, os seres humanos tornam-se criaturas muito diferentes quando não têm acesso a relva e plantas. Na última década, Francês e os seus colegas do Laboratório de Saúde Humana e Paisagem da Universidade do Illinois investigaram os efeitos dos espaços verdes no comportamento dos habitantes urbanos. A equipa realizou muitos dos seus estudos nos bairros de habitação social de Chicago, onde extensões áridas de betão reflectem o velho ponto de vista segundo o qual a vegetação é um luxo extravagante que a cidade não pode pagar. Francês e a sua equipa descobriram que as pessoas residentes em edifícios próximos das áreas verdes tinham um espírito comunitário mais apurado e lidavam melhor com as tensões e dificuldades do quotidiano. Eram menos agressivas, menos violentas, atingiam melhores níveis de desempenho em testes de concentração e conseguiam gerir os seus problemas de forma mais eficaz. Os cientistas descobriram igualmente que os espaços verdes têm um efeito restaurador sobre a nossa atenção reflexiva : o tipo de concentração intensa necessária para trabalhar ou estudar, para ignorar distracções e realizar tarefas. A atenção reflexiva, voluntária, é como um músculo mental : exercitamo-la em quase todos os aspectos da nossa vida. É ela que dita a forma como pensamos e como nos comportamos em situações complicadas – se nos adaptamos rapidamente ou se perdemos a cabeça. Viver numa cidade, sob a opressão do ruído e do trânsito, dos conflitos e das exigências torna-nos “irritáveis e impulsivos”, diz Francês Kuo. Em contacto com a natureza, refrescamos a mente e repousamos a atenção reflexiva, rendendo-nos a atenção espontânea e reparando frequentemente, de forma involuntária, nos estímulos provocados nos nossos sentidos pelo ambiente que nos rodeia. No mundo contemporâneo, o contacto com a natureza em espaços urbanos pode ser mais fundamental do que nunca. Uma metrópole com bastantes parques ajuda-nos a manter a saúde mental e a combatera obesidade e a diabetes. Dois importantes estudos sobre centros urbanos populosos da Holanda e do Japão demonstraram que os seres humanos que vivem em zonas com fácil acesso a espaços verdes onde podem caminhar gozam de melhor saúde e a sua taxa de mortalidade é inferior à das pessoas sem esse acesso. Investigações na área da saúde humana sugerem que até um contacto relativamente passivo com a natureza permite baixar a tensão arterial e os níveis de ansiedade.”
In National Geographic Portugal, Outubro de 2006
Carlos Leite de Sousa
óptimo texto. mas será que Lisboa e os lisboetas vão conseguir transformar a presente cidade numa urbe mais verde? Lisboa precisa urgentemente de um plano para árvores de alinhamento. Uma vez que já não existem grandes possibilidades para construir novos parques (excepto na zona Marvila/Chelas/Beato) o que poderá fazer a diferença em Lisboa será a arborização de ruas. Podemos acrescentar milhares de árvores e com isso melhorar muito a qualidade de vida de todos.
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