In Público (20/4/2008)
Carlos Cipriano
«Proposta do presidente da Câmara de Lisboa para a estação terminal lisboeta contestada pelas empresas do sector ferroviário
A proposta de António Costa de desactivar a estação de Santa Apolónia para a transformar num terminal de cruzeiros não é viável nem desejável, dizem a CP e a Rede Ferroviária Nacional (Refer), pela importância de manter um canal com um transporte de elevada capacidade até ao coração da cidade.
O porta-voz da CP diz que a empresa "tem em mente continuar a efectuar a ligação suburbana sobre Santa Apolónia" e realça o facto de há pouco tempo ter sido inaugurada a ligação entre o metro e comboio, o que "é relevante para o sistema de mobilidade da Área Metropolitana de Lisboa". A CP chama ainda a atenção para o facto de aquela eventual eliminação provocar o congestionamento sobre a Linha da Cintura, por desvio de tráfegos que se dirigem a Santa Apolónia.
Por parte da Refer, as propostas do presidente da Câmara de Lisboa "não fazem sentido, são despropositadas e caíram muito mal no conselho de administração da empresa", disse uma fonte da empresa. Oficialmente, porém, o gabinete de comunicação da gestora de infra-estruturas ferroviárias respondeu que a Refer não se pronuncia sobre esta questão.
A empresa está de acordo com a requalificação daquela área, mas entende que seria um erro eliminar o canal ferroviário dali, não só pelo sistema de transportes (a vantagem de se chegar ao centro da cidade e à ligação com o metro), como pela necessidade de parqueamento dos comboios e de ter a actividade logística indispensável a qualquer estação terminal e que será impossível assegurar na Gare do Oriente por absoluta falta de espaço.
Aliás, a própria sede da Refer, presentemente instalada no complexo de Santa Apolónia, esteve para se mudar para Braço de Prata, mas tal revelou-se impossível devido à ocupação daquela área pelas linhas do comboio de alta velocidade. Alcântara surge agora como a hipótese mais provável para fixar a sede da empresa.
"Uma coisa é a requalificação daquele espaço, com a qual estamos de acordo e para a qual achamos que se devem trazer mais serviços e actividades para dar vida à estação e criar mais valor, outra é eliminar simplesmente o caminho-de-ferro dali, o que seria um grave erro", disse uma fonte da empresa.
Para o próprio Metropolitano de Lisboa, tal também não era desejável, uma vez que iria congestionar a Linha Vermelha no Oriente, em vez de distribuir a procura entre aquela estação e a de Santa Apolónia e o seu interface com a Linha Vermelha.
"António Costa defende o uso do transporte público e a redução de viaturas em Lisboa e depois vem defender o encerramento de uma via férrea que serve o centro da cidade." A frase é de um alto quadro da Refer, que pediu o anonimato e que lamenta o "tique" dos autarcas lisboetas em querer fechar linhas para eliminar o seu "efeito barreira" na cidade. Já Pedro Santana Lopes, em 2004, propôs o fim do Cais do Sodré para que a Linha de Cascais terminasse em Alcântara e, numa segunda fase, em Algés, para requalificação da zona ribeirinha. Ana Paula Vitorino, secretária de Estado dos Transportes, considerou então a ideia "inconsistente, absurda e inviável", defendendo a manutenção do Cais do Sodré, por estar ligada ao metro.»
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