In Jornal de Notícias (21/4/2008)
JOSÉ SENA GOULãO / lusa
Feliciano Barreiras Duarte, Professor universitário
«Está situado na cidade capital de Portugal. E bem pode ser considerado um dos escândalos emblemáticos de Lisboa e do país. Exemplo lapidar da vergonha dos poderes públicos portugueses. Da incúria de um país não saber preservar e respeitar a memória histórica e o património de uma instituição cultural de referência. Trata-se do salão nobre do Conservatório Nacional. Em plena Lisboa, capital de Portugal, está a olhos vistos prestes a cair dado o seu adiantado estado de degradação.
O seu valor sentimental e patrimonial é imenso. O salão nobre do Conservatório Nacional, inaugurado em 1881 segundo um projecto do arquitecto Eugénio Cotrim e que dispõe de um tecto pintado pelo saudoso José Malhoa, não é alvo de obras de preservação e manutenção há mais de 60 anos. Isso mesmo 60 anos! Onde é que estão os responsáveis das políticas públicas para a área da Cultura em Lisboa e no país? Será que não têm vergonha desta situação! É que o salão nobre do Conservatório Nacional de Lisboa é (ou deveria ser) a montra principal desta instituição cultural. Faz parte de um edifício integrante do Convento dos Caetanos. E tem sido ao longo da sua história palco de relevantes acontecimentos culturais e sociais (como, por exemplo, a primeira audição em Portugal integral das sonatas para piano de Beethoven por parte da pianista Vianna da Motta no ano de 1927). E recebeu muitas outras manifestações culturais relevantes, como o concerto da violinista Guilhermina Suggia, em 25 de Março de 2001.
Hoje em dia, a Escola de Música do Conservatório Nacional (actual designação por sucessão ao Conservatório Real da Música) conta com 100 professores e 700 alunos, o que a torna a maior escola oficial de música em Portugal. A sua oferta pedagógica compreende 23 cursos (básicos e complementares ministrados com ou sem articulação com o ensino genérico), de instrumentos e de canto, de sete disciplinas de formação musical e teórica e de um grande leque de classes de conjunto, desde coro e orquestra até aos mais variados conjuntos de música de câmara, incluindo alguns de carácter permanente (classe de metais, classe de cordas, oficina de ópera, agrupamentos de música contemporânea, conjuntos vocais à capela, a orquestra de clarinetes "José Canongia" e outros).
A Escola de Música do Conservatório Nacional realiza concertos públicos, entre os quais os de fim de trimestre, e já institucionalizou uma "temporada de música de câmara" que se tem realizado em colaboração com o Museu Nacional de Arte Antiga e o seu Museu Botânico. Esta escola é membro da European League of Institutes of the Arts (ELIA), o que tem favorecido a prática de intercâmbios e o estabelecimento de protocolos de cooperação com outras instituições pedagógicas no país e no estrangeiro.
Recentemente, o Fórum Cidadania por Lisboa fez chegar à Assembleia da República uma petição subscrita por 5043 cidadãos que teve no Parlamento como relatora a deputada Matilde de Sousa Franco. Este escândalo (autêntico!) leva-me a afirmar que é um exemplo claro de como Lisboa está do ponto de vista cultural muito mal. Muito mal vai um país e uma cidade como Lisboa quando convivem bem (quase de olhos fechados) com uma situação destas. Com uma das nossas jóias culturais a ser na prática menosprezada.
Infelizmente, este é um exemplo de manifesta ausência de uma política pública para a área da cultura assente em vectores claros. É que em vez de gastarmos centenas de milhares de contos para termos cá as imitações do verdadeiro Hermitage, primeiro deveríamos priorizar a recuperação do edificado cultural do país. É que, infelizmente, este exemplo do Conservatório Nacional é apenas um. Mas há mais. E por Lisboa, a degradarem-se, são muitos.»
Vianna da Motta (1868-1948)fou UM ( e não UMA) Pianista. Muito provavelmente o nosso maior painista de sempre. Foi ainda um grande pedagogo, musicógrafo e compositor. Foi Director do Conservatório Nacional (A TAP deu o seu nome a um dos seus aviões que foi substituído pelo de Eusébio Ferreira da Silva aquando do EURO2004)
ResponderEliminarGuilhermina Suggia (1885-1950) foi uma das maiores violoncelistas de sempre. Foi a 1ª mulher a fazer carreira, a nível mundial, como solista. Tocou pela 1ª vez em Lisboa, no Salão Nobre do Conservatório Nacional em 25 de Março de 1901.
Esta sala, de qualidades enormes, tem um peso histórico-cultural impossível de ser igualado. Por lá passaram milhares de grandes nomes da música a nível mundial.
Acrescento que há anos se reclamam obras a fim de se evitar a sua perda cada vez mais iminente. Todos os responsáveis têm ficado impávidos. Outros valores mais altos "cantam" por ali. Quiçá um condomínio fechado, a exemplo do que já foi feito no vizinho Convento dos Inglesinhos, ou um "Hotel de Charme" que parece ser o que está a dar por "esta Lisboa de outras eras".
Convém também dizer que a propósito da petição que foi entregue a diversas entidades, entre elas a Assembleia da República, por ter mais de 4000 assinaturas - teve 5043 - e, de acordo com a lei das petições da AR, a mesma foi entregue para estudo a uma comissão, no caso a "Comissão de Ética, Sociedade e Cultura" que a entregou à deputada Matilde Sousa Franco. Os peticionários responsáveis foram chamados a prestar declarações perante a Comissão. Como é natural todos os partidos foram convocados mas nem UM só deputado esteve presente na reunião. Apenas a deputada relatora da mesma. Isto é Significativo. Mostra bem a falta de sensibilidade, o desinteresse que os deputados (os portugueses dum modo geral) têm por estas coisas do património.
Seria bom que os cidadãos tivessem consciência que somos nós, enquanto cidadãos, que temos que exigir a defesa, a preservação e o respeito pelo nosso património.
Cabe também às autarquias um papel fundamental neste campo mas parece que todos, mal se sentam no poder, esquecem isso.
A CMLisbos devia defender intransigentemente, para além de outras coisas, todos os pólos culturais que a pouco e pouco se vão afastando para as periferias. DE há umas décadas para cá que está a acontecer um verdadeiro terramoto em Lisboa, provocando mais efeitos destruidores do que o de 1755. Lisboa está morrer. Lisboa cai de podre e os arredores estão a ser destruídos com cimento sem qualquer qualidade. É urgente parar isto. É urgente que Lisboa volte a ser habitada, que não seja apenas um sítio onde se vem trabalhar. Enquanto isto não parar vão ser sempre precisas mais pontes sobre o Tejo, mais IC19. Teremos sempre uma Lisboa cheia de carros durante o dia e sem ninguém durante a noite.
Para não ser tudo mau, deixo a informação que na zona de Alfama estão a decorrer obras da EPAL no sub-solo, devidamente acompanhadas por funcionários de uma empresa de arqueologia, que previamente às obras fazem uma pesquisa exaustiva dos locais na busca de elementos com valor arqueológico.
ResponderEliminar....mas a substituição do nome do avião, não diz tudo do nível deste cantinho?
ResponderEliminarJA