23/06/2008

"Não há nada de novo no Plano da Zona Ribeirinha"

In Diário de Notícias (23/6/2008)
LUÍSA BOTINAS

«Miguel Correia, ARQUITECTO, AUTOR DO POZOR

Que comentário lhe sugere o anunciado Plano Geral de Intervenção na Zona Ribeirinha de Lisboa?

Daquilo que conheço e do que veio a público, posso dizer que não encontrei nada de novo neste documento. A ideia lançada de que não haverá construção na frente de rio é muito cómoda, pois, quando se diz que não se vai fazer nada, não se esperam muitas críticas.

E o que tem a dizer sobre os projectos estruturantes ?

Das grandes obras que se anunciam, o nó de Alcântara, por exemplo, é uma ideia que já vem dos anos 60 e o rebaixamento da linha do caminho-de-ferro em Belém já se conhece desde os anos 80, mais concretamente quando se construiu o Centro Cultural de Belém e já estava previsto no POZOR (o Plano de Ordenamento da Zona Ribeirinha promovido pelo Porto de Lisboa). Todavia, sobre a zona de Pedrouços, aí o silêncio é total.

Que diferenças vê entre o POZOR e este plano?

O POZOR recebeu muitas críticas porque foi o único plano que teve a coragem de propor construção e que fez coisas. Por exemplo, o projecto da autoria do arquitecto Manuel Salgado na zona do Bom Sucesso, junto ao rio, estava previsto no POZOR e está ser construído. E é ele agora que diz que não se construirá mais nada na frente ribeirinha de Lisboa. Na zona de Santos, tínhamos previsto também alguma construção para habitação, comércio e serviços. Foi aí que estalou a polémica. De resto, ao longo destes 15 anos, o POZOR tem vindo paulatinamente a ser concretizado e um dos seus maiores sucessos foi a criação das Docas.

O que tem a dizer da saída de José Miguel Júdice da Sociedade Frente Tejo?

Não conheço as razões que estiveram na origem da sua decisão, conheço-o pessoalmente e acho que é uma pessoa com grandes qualidades . Para a sociedade gestora dos planos que iria dirigir era, sem dúvida, uma mais-valia, pois José Miguel Júdice é um catalisador de vontades.

A Câmara de Lisboa diz que este é o primeiro plano com uma visão integrada?

É bom que se explique que o POZOR foi o primeiro plano a ter uma perspectiva integrada de Algés até à Expo, compatibilizando vários projectos e formalizando decisões.

No seu entender qual deve ser a solução para reabilitar a zona ribeirinha de Lisboa?

Acima de tudo deve haver uma definição claríssima de um programa e de um desenho sobre esse programa. O desenho obriga a assumir compromissos e é isso que hoje a Câmara de Lisboa , que está refém do Bloco de Esquerda (BE), não faz. Tal como não define um regulamento para o plano, nem se conhece um modelo financeiro. É politicamente mais correcto não fazer nada.| »

Até parece que o POZOR era bom. Aliás, muito do mau(péssimo) que foi permitido na frente rio resulta, exactamente, de resquícios do malfadado POZOR. Mais palavras para quê?

3 comentários:

  1. Continuo a não entender como é possível haver quem pense em projectos e os aprove, sem pensar na cidade e na área metropolitana como um todo.
    Um espaço destes deverá ser pensado, infraestruturado e criado para ser usado e disfrutado por todos aqueles que, vivendo em Lisboa ou á sua volta, tenham ao seu dispôr, os necessários, suficientes e cómodos meios públicos de deslocação.
    Considero também, ser negativa esta guerra institucional declarada e latente, feita de protagonismos e vaidades, sobre quem manda em quê em todo este processo; retira-lhe a força e coesão necessárias, desacreditando o projecto, levando os cidadãos a virarem-lhe as costas, por entenderem haver outros interesses á mistura, que não o bem da nossa cidade...

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  2. felizmente os cidadãos oposeram-se ao famigerado POZOR e espero que se oponham a quaquer tentativa de construção á beira rio. Continuo sem perceber como é que uma pessoa com interesses imobiliários na zona continua a ser o vereador responsavel.

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  3. Esta entrevista do Arq. Miguel Correia,autor do POZOR,que quer mais construção na Zona Ribeirinha e que questiona o Arq. Manuel Salgado,(porque este construiu na Zona) que agora não quer mais construção, é um perfeito diálogo entre construtores,os "Patos-Bravos" modernos(os Arquitectos-vedeta),a vergonha dos Arquitectos e da sua silenciosa Ordem(OA) !
    O Arq.anterior,M. da Silva, acrescenta que o que "falta" é um plano, mas felizmente que há aqui um anónimo esclarecido,anterior a mim, que diz o que deve ser dito:"que se oponham a qualquer construção á beira rio",e,quem manda em quê,não interessa .Interessa que não se construa mais !A beira rio é pertença da cidade e dos cidadãos.
    Bem haja anónimo,é sempre um prazer ver-saber que há uma massa crítica saudável,para além dos arquitectos-patos-bravos "modernos"...

    24-6-08 Lobo Villa

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