23/06/2008

Não vai haver construção à beira-rio, promete Câmara de Lisboa

In Público (23/6/2008)
Ana Henriques

«José Miguel Júdice abandonou reabilitação da zona do Terreiro do Paço e de Belém, depois de estar há 15 meses à espera de ser nomeado. António Costa nega divergências e desvaloriza: "É uma questão lateral"

Não vai haver construção à beira-rio. A promessa foi ontem repetida pelo vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, durante a apresentação dos planos da autarquia para os 19 quilómetros de frente de rio da cidade. Na véspera, soube-se que o advogado encarregue pelo Governo de dirigir a reabilitação de Belém e ao Terreiro do Paço, José Miguel Júdice, abandonou o projecto, depois de ter estado 15 meses à espera de ser nomeado para o cargo.
José Miguel Júdice, que já em Março tinha ameaçado o primeiro-ministro José Sócrates de se ir embora, caso não fosse rapidamente empossado como presidente da sociedade de capitais públicos Frente Tejo - para a qual tinha sido convidado pelo governante, e em que ia trabalhar a título gracioso - salienta os 15 meses que ficou à espera de começar a dirigir uma empresa que continua por constituir. As várias obras a cargo da Frente Tejo, que viu o seu orçamento reduzido em 20 milhões de euros, têm de estar prontas a tempo das comemorações do centenário da República, em Outubro de 2010.
Depois de, como figura indigitada por Sócrates, ter levado a cabo inúmeros contactos com as várias instituições com responsabilidades na frente ribeirinha, como a Marinha e vários ministérios, o advogado claudicou perante os obstáculos às suas intenções de transformar estas duas zonas da cidade. E diz que um dia vai escrever um livro sobre a experiência por que passou, por esta ser reveladora sobre a forma como se trabalha - ou não - em Portugal.
José Miguel Júdice nega quaisquer desentendimentos com o presidente da câmara, António Costa. O autarca também. Menos pacífico terá sido o seu relacionamento com Manuel Salgado, com quem esgrimiu divergências sobre a construção de um silo automóvel na zona do futuro Museu dos Coches, em Belém. O vereador do Urbanismo disse ter sabido do abandono de Júdice pela televisão, apesar de António Costa ter garantido que o advogado o avisou pessoalmente da sua decisão. Seja como for, o presidente da câmara desvaloriza a saída: "Lamento. [Mas] trata-se de uma questão lateral, porque ele ia dirigir uma sociedade com duas intervenções muito precisas, nas zonas de Belém e do Terreiro do Paço, a que o Governo dará execução no prazo que definiu".
"Mais em que pensar"
O abandono de Júdice em nada compromete o andamento da reabilitação da beira-rio, afirmam os responsáveis máximos da autarquia, que esperam agora a sua substituição. Por quem? "O primeiro-ministro tem estado no Conselho Europeu de Bruxelas. Tem com certeza mais em que pensar", respondeu António Costa.
Mas não era só com Salgado que Júdice tinha divergências. Aliado dos socialistas na câmara, o vereador José Sá Fernandes mostrou-se sempre avesso ao advogado. O executivo camarário acabou por se recusar a votar a sua nomeação para a sociedade Frente Tejo, alegando que não cabia nas suas competências pronunciar-se sobre tal matéria.
Ontem, na apresentação dos planos da autarquia para a frente de rio nos próximos 25 anos, falou-se pouco dos projectos de Júdice - embora se tenha percebido que, pelo menos num dos casos, o do enterramento das vias rodoviárias que passam à frente dos Jerónimos, os responsáveis camarários preferem que seja a linha do comboio a passar no subsolo. Os custos da obra podem, no entanto, inviabilizá-la, admite Salgado. Por outro lado, percebeu-se que o anunciado alargamento do terminal de contentores de Alcântara negociado pelo Governo não é do seu agrado.
Os projectos camarários mereceram elogios do presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, eleito comunista pouco dado a este tipo de louvores, e do arquitecto Manuel Graça Dias. Este último deixou, no entanto, um reparo relacionado com o futuro funcionamento dos transportes à beira-rio. Para o arquitecto, uma linha de eléctrico rápido entre o Trancão e Algés é indispensável. O vereador do Urbanismo assegurou-
-lhe que serão privilegiados os modos de transporte mais leves, sejam o trólei, o eléctrico ou a bicicleta. E o andar a pé. António Costa chamou a atenção para a mobilização da sociedade civil, que, "com as suas críticas e sugestões, pode fazer com que este plano se torne irreversível".»

2 comentários:

  1. "uma linha de eléctrico rápido entre o Trancão e Algés é indispensável"

    ResponderEliminar
  2. Depois do ruidoso "Não" Irlandês,esta é a melhor notícia para Lisboa !!
    Haja Deus que Júdice foi advogar para outra freguesia !(esta que se cuide).
    Parabéns Zona Ribeirinha de Lisboa,talvez te livres de mais betão por mais uns anos...Nunca se sabe,porém.


    24-6-08 Lobo Villa

    ResponderEliminar