CARTA AO SENHOR PRESIDENTE
De acordo com a Câmara de Lisboa o fecho do Terreiro do Paço ao trânsito automóvel, aos domingos, teve por objectivo o desfrute exclusivo desta praça pelos peões. No entanto, uma observação mais atenta permitiu-nos vislumbrar, implícitas, mais umas quantas vantagens não declaradas, que a Câmara, talvez por modéstia, não divulgou. Num momento em que alguns, maledicentemente, não hesitam em criticar tudo o que a Câmara faz, achámos por bem divulgá-las, certos que de outro modo ficariam para sempre desconhecidas. Vejamos então quais foram esses ganhos adicionais.
Ganhou o povo-automobilizado, beneficiado com um engarrafamento artificial, onde antes o trânsito era de uma fluidez desesperante.
Ganhou o povo-peão, um local onde pode ir impregnar-se da melhor publicidade que se faz neste país. Diz-se que como compensação pelos (poucos) locais da cidade onde ainda não foi possível colocar cartazes, outdoors ou telões, apesar do grande esforço do município, disponibilizando os seus próprios muros e paredes para o efeito, chegando inclusive a produzir publicidade de sua própria iniciativa.
Também os empresários ficaram a ganhar. Dispõem agora finalmente de um local central, arejado, moderno, limpo e sem emissão de CO2, para exporem os seus produtos.
Finalmente, também a Câmara ganha. Ao promover um modo de angariação de receitas que, não sendo novo nem genial é, pelo menos, adequado aos tempos de crise. Assim a Câmara demonstrou a sua modernidade. Qualquer cidadão informado sabe que as formas tradicionais e legais de angariar receitas, há muito caíram em desuso. Que o dinheiro que alguns de nós regularmente depositam nos cofres do Estado e da Câmara, faz falta para outras ocorrências mais importantes, como por exemplo, auxiliar os nossos banqueiros em dificuldades, os clubes de futebol, os empresários da construção civil (agora, como se sabe, vítimas da bolha), os proprietários de terrenos à espera de oportunidade de mudança de uso, os gestores públicos, etc. Por isso, faz bem a Câmara ao recorrer a esta e a outras formas de receitas alternativas, como também é o caso da venda do património ou da privatização dos serviços mais rentáveis, como a limpeza urbana.
Sr. Presidente:
De uma cajadada a Câmara matou uma data de coelhos. Está no bom caminho. Não se deixe portanto impressionar por aqueles que, à falta de melhores argumentos, vêm apelando ao bom gosto, à estética, à arte e até mesmo ao bom senso. O Lisboeta não liga a isso. Ele quer é petiscos. Ele só pensa em arraiais, desfiles na Avenida pelo Santo António, tapumes no Rossio com decorações de Natal, bandeirinhas à janela, etc. Louvemos por isso, as iniciativas municipais corporizadas simbolicamente nas roulottes dos churros e dos cachorros, implantadas em vários locais, como por exemplo frente à Casa dos Bicos e no Largo de S. Domingos.
Bem haja pois, Senhor Presidente.
Lisboa, 1 de Janeiro de 2008
Guilherme Alves Coelho
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