In Público (24/2/2009)
Luís Francisco
«Os navegadores trouxeram-nas e elas criaram raízes. Nas ruas, praças e jardins há árvores de todos os continentes. Vale a pena conhecê-las
Quem passa pelo seu tronco claro, desfiando-se em farripas que parecem dissolver-se no ar, dificilmente se dá conta de que está perante um dos mais ilustres exemplares da flora lisboeta. Num dos cantos do pequeno Jardim Constantino, ali entre o Largo da Estefânia e a Avenida do Almirante Reis, ergue-se a única Me-
laleuca styphelioides Smith, vulgo árvore-papel, da cidade. É apenas uma das 114 espécies diferentes que povoam a capital portuguesa.
Por influência directa dos Descobrimentos e graças à generosidade do seu clima, Lisboa é uma cidade extraordinária para as árvores. Os na-
vegadores correram mundo e, hoje, a antiga capital do Império anima-se com espécies exóticas de locais tão longínquos e díspares como a Austrália ou as Américas, a Ásia ou a África. De todos os continentes, em suma, se excluirmos a desarborizada Antárctida... Mas será que as pessoas estão sensibilizadas para esta riqueza?
Esta semana, uma proposta do PCP para a elaboração de um regulamento de protecção das árvores e arbustos da cidade será debatida na reunião do executivo da autarquia lisboeta. Porque na capital há povoamentos importantes e exemplares isolados que estão classificados, mas, no entender dos vereadores Ruben de Carvalho e Rita Magrinho, essa protecção revela-se insuficiente.
Uma das regras básicas da protecção ambiental é a divulgação. As pessoas sentem-se muito mais motivadas para protegerem aquilo que conhecem e de que gostam. Mas, salvo os mais dedicados à causa, quantos dos habitantes ou visitantes de Lisboa conhecem realmente este património?
Num esforço para divulgar a riqueza botânica da capital, a Câmara Municipal de Lisboa explica, no site LisboaVerde (http://lisboaverde.cm-lisboa.pt), quais são e onde se podem encontrar as árvores mais notáveis da cidade, sejam as espécies isoladas, sejam agrupadas em povoamentos, e fornece mesmo uma série de percursos para as encontrar (http://lisboaverde.cm-lisboa.pt/index.php?id=4392).
Imigrantes com raízes
A associação Montes e Vales (www.montesevales.com) vai mais longe: organiza caminhadas guiadas pela cidade, sob a orientação de Isabel Zilhão, doutorada em Biologia e uma confessa apaixonada por árvores.
O próximo passeio será a 28 de Março, mas o PÚBLICO desafiou a guia para uma pequena expedição particular. Que, como os mais atentos poderão já ter adivinhado, começou no Jardim Constantino, à sombra modesta, mas única, da Melaleuca styphelioides Smith.
25 metros de copa
Ali ao lado, bem mais imponente, uma Ficus macrophylla fornece sombra aos vários reformados que alinham uma animada jogatina de bisca no suave final de tarde de um dia de semana.
Muito mais depressa o nosso olhar se prende neste gigante com 25 metros de diâmetro de copa e enormes raízes protuberantes. O seu nome comum dá-nos uma pista sobre as suas origens: "figueira-da-Baía-de-
-Moreton", avança a nossa guia. Como?! "Também é conhecida como figueira-da-Austrália..."
A forma como este imigrante dos antípodas se enraizou, literalmente, no solo de Lisboa é apenas a confirmação de como as espécies exóticas encontram na capital portuguesa um meio ambiente favorável ao seu desenvolvimento. Magnólias dos Estados Unidos, camélias da China, tipuanas da América do Sul, palmeiras das Canárias. E, muito notavelmente, jacarandás do Brasil, que chegada em breve da Primavera fará florir para atapetar as avenidas lisboetas de pétalas roxas. »
já era bom que fossem plantadas espécies mediterrânicas. não era preciso que fossem exóticas.
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