In Público (17/3/2009)
Ana Henriques
«Possibilidade de construção de recinto para duas mil pessoas no Parque Mayer
e restrições ao uso do carro no local estiveram ontem em debate
Lisboa precisa de mais uma sala de espectáculos, qualquer coisa cujas dimensões estejam a meio caminho entre os cinco mil lugares do Coliseu e os pouco mais de mil do Centro Cultural de Belém? O assunto esteve ontem em debate, durante a apresentação dos termos de referência do plano de pormenor do Parque Mayer.
Os termos de referência são as regras pelas quais se vai orientar o planeamento urbanístico daquele pedaço de cidade, que a Câmara de Lisboa quer transformar num pólo lúdico-cultural, com teatros, bares, restaurantes, galerias de arte e um hotel.
Manuel Aires Mateus foi o arquitecto que ganhou o concurso para desenvolver a reabilitação da zona. Foi ele quem, perante várias objecções da assistência sobre a viabilidade de construir um teatro para duas mil pessoas, quando os que existem raramente enchem, explicou as potencialidades da ideia: "Criar novos públicos. Quando o Centro Cultural de Belém foi projectado, havia a sensação de que quer as áreas de exposição, quer os auditórios tinham dimensões megalómanas. Hoje é pequeno para as necessidades. A grande escala induz procura."
Não que esteja totalmente assente que o futuro Parque Mayer venha, de facto, a ter um equipamento cultural destas dimensões. "Há determinados espectáculos que o justificam, mas há que verificar a viabilidade de uma sala destas", acautelou o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. Na realidade, como acabou por explicar aos jornalistas no final do debate, houve já vários promotores de espectáculos que fizeram saber à câmara que alinhariam num projecto deste género, algo que, segundo o vereador, poderá custar entre 18 e 24 milhões de euros, equipamento já incluído. Mas se Aires Mateus se referiu a este novo equipamento como um teatro adaptável a várias funcionalidades, como a ópera, já Salgado vê o futuro recinto mais virado para os espectáculos musicais.
O teatro de revista manter-se-á, assegurou Aires Mateus. Há boas possibilidades de isso acontecer, mas seja como for, os concessionários dos vários equipamentos culturais que a autarquia erguer no recinto, com ajuda das verbas do jogo do Casino de Lisboa, terão de se candidatar ao concurso que o município há-de lançar para o efeito, respondeu Salgado. Os mais recentes planos da autarquia para o local incluem um hotel e três teatros - o Capitólio, que vai ser reabilitado, o Variedades, feito de novo ou recuperado, e a tal terceira grande sala.
O facto de o futuro Parque Mayer ser mais um pedaço de cidade com ruas e praças, mas destinado aos peões, devendo ser ali vedada a circulação de carros e restringido o estacionamento, preocupou vários dos intervenientes do debate de ontem - funcionários do Museu de História Natural, arquitectos e moradores da zona. Mas a câmara não parece disposta a desistir de modificar os hábitos enraizados de quem leva o carro para todo o lado, até porque a zona está bem servida de transportes públicos. "Eu nunca vi carros em redor da Tate Gallery nem do Museu de História Natural de Londres", observou o vereador Manuel Salgado. "Na maioria dos centros históricos do mundo não circulam carros." »
Efectivamente, qualquer pessoa com três dedos de testa chega à conclusão que Lisboa não precisa de mais nenhuma grande sala de espectáculos, muito menos no Parque Mayer.
Basta frequentar as salas que temos para verificar que, excepção feita nas estreias e primeiros dias dos espectáculos em cena onde o que abunda são os convites e as borlas, a verdade é que o público não abunda nos outros dias. Por outro lado, já há subsídio-dependência em abundância.
No que se refere ao Parque Mayer, que se recupere sim o Capitólio, segundo projecto original, e que se aproveitem o Variedades e/ou Maria Vitória, porque ali o que interessa mesmo é ter espaço público recuperado e usufruído, com muitas árvores. Não inventem nem construam, por favor.
Além do mais, têm ali ao lado um São Jorge envergonhado, um Tivoli mal aproveitado e um fabuloso Odéon a precisar que o salvem do camartelo.
Devem andar todos a fumar do que faz rir!
ResponderEliminarTivoli e o São Jorge envergonhados?
ResponderEliminarDo ponto de vista aqui apresentado, já que "as salas existentes não enchem", “a não ser nos primeiros dias de borlas” pergunto-me, porquê recuperar salas antigas com modelos de espectáculo que o publico levou ao insucesso?
Já que as existentes estão vazias, e se se é contra as novas salas, não percebo porque se é a favor da recuperação das antigas, afinal, se diz não haver publico para umas, não vejo onde encontra o publico para as outras.
Quem conhece o Teatro Variedades com a traça original de 1926 com certeza também quer que seja recuperado.
ResponderEliminarComparar a Tate e o Parque Mayer é o mesmo que comparar Serralves com a biblioteca de Algés. Que disparate...Só numa óptica burguesa se pode acreditar que a relevância de um projecto advém da sua equiparação "europeia"e não da sua qualidade e utilidade intrínseca.
ResponderEliminarCuidadinho ao falares da Biblioteca de Algés...passei lá bons momentos é um uma das melhores do mundo.
ResponderEliminarSó te digo. Cuidadinho...
Efectivamente, os exemplos escolhidos para comparação entre o Parque Mayer e Londres não são os melhores até porque quer na Tate (tanto a Modern, na margem sul do Tamisa, como a British, a sul de Westminster) quer no Museu de Histórial Natural, em Kensington, há autocarros e carros por todo o lado, não afunilados como cá nem em bichas descomunais com cá, mas isso é outra história, que não se resolve nem está em causa no Parque Mayer.
ResponderEliminarQuanto às salas, toda a gente sabe que no que se refere ao São Jorge a coisa se resume a dois pontos: má gestão da CML que não a sabe gerir, e estrangulamento de mercado de distribuição e exibição cinematográfico por cá, sem que nada nem ninguém se dê ao trabalho de fazer seja o que for contra ambos os pontos. No que se refere ao Tivoli, está entregue às produções de Herman, sem que a CML, mais uma vez, utilize a cláusula que vem do tempo da cedência do hotel vizinho e da caixa de palco do Tivoli ao grupo do novo hotel e c.c. que lhe permite utilizar o Tivoli por um determinado período durante o ano. O Tivoli, como toda a gente sabe, perdeu a caixa de palco que tinha e está por isso impedido de ser um verdadeiro teatro, mas pode ser muitas outras coisas, como é óbvio, tem potencial para isso e muito mais, é uma questão de imaginação e bom gosto de quem a explora. O Odéon é apenas a sala de cinema mais bonita de Lisboa, com pormenores fabulosos, que só nesta cidade é que podiam ser menosprezados, sobretudo quando há um potencial imenso chamado 'cinema independente' que está 'guetizado' a pequenos festivais pontuais e a exibições esporádicas. São 3 salas importantíssimas, que juntamente com o Capitólio (mais Variedades?) são indissociáveis de um PP Parque Mayer e de um PUALZE. Haja coragem, competência e dedicação ao património da cidade, que já escasseia!!