In Público (10/7/2009)
Ana Henriques
«Juízes entendem que descanso é um direito constitucional e dispensam medições dos níveis de ruído, numa sentença que "não é comum"
Que marteladas eram aquelas que se ouviam no andar de cima durante a noite? Seria gente surda a que ali morava, para ouvirem a televisão aos altos berros? Nos primeiros tempos, o casal com duas crianças e uma terceira a caminho ficou à espera que a vida no prédio voltasse à normalidade. Mas o que se seguiu foi o calvário de noites a fio sem pregar olho, porque em lugar do silêncio ouviam-se estrondos, mais marteladas e música.
No início deste mês, fez-se justiça. O Supremo Tribunal de Justiça condenou a barulhenta vizinha desta família a indemnizá-la em cerca de 25 mil euros. "Não é uma sentença comum. Lamento que não haja mais tribunais a tomar este tipo de decisão", comenta o presidente da Associação de Inquilinos Lisbonenses, Romão Lavadinho, ressalvando que são raros os queixosos que decidem ir a tribunal, devido aos custos envolvidos. Isso, aliado ao facto de os autores do ruído se transformarem, perante as reclamações, em potenciais agressores dos queixosos, faz com que "a maioria das pessoas se acobarde" quando é confrontada com uma situação do género. "Esta sentença vai ajudar muita gente a recorrer a tribunal", antevê o representante dos inquilinos de Lisboa.
Menos de um mês depois das primeiras queixas na PSP, em Setembro de 2001, o casal e as duas crianças começaram a sofrer retaliações. Primeiro a vizinha de cima atirou-lhes água. O polícia que tomou conta da ocorrência escreveu no relatório que as roupas que vestiam cheiravam a lixívia. Depois foi um vaso em barro, que atingiu o pai das crianças na cabeça. Veio acompanhado de um rol de insultos e ameaças: "Seus cabrões de merda", "Porcos", "Podem ir chamar a polícia, que eu não abro a porta", "Vou fazer-
-vos a vida infernal com o barulho que vou fazer". A promessa foi cumprida, ao ponto de a família ter de ir dormir para pensões e hotéis várias vezes.
"Terror de voltar a casa"
Ficou provado em tribunal que as duas meninas, uma de quatro e outra de seis anos, "tinham terror de voltar para casa", enquanto a mãe, que estava grávida, "passou a ter crises compulsivas de choro e a andar deprimida". A família passou a frequentar o psicólogo. Às despesas com a saúde mental e com os retiros temporários fora de casa juntavam-se ainda os gastos com obras destinadas pelo menos a minorar o problema. O primeiro tecto falso não resultou. Foi preciso fazer novo isolamento acústico. Mas as paredes de tabique continuavam a deixar-lhes as madrugadas em branco.
Um ano depois de o pesadelo começar no apartamento de Lisboa onde moravam, em Abril de 2002, meteram a acção em tribunal. Não houve instância judicial que não lhes tenha dado razão. Foram os recursos da vizinha de hábitos nocturnos que levaram o caso até ao Supremo. Nessa altura já o Tribunal da Relação tinha dito que quando se impede sistematicamente alguém de repousar à noite se põe em causa o direito constitucional a um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Os juízes-conselheiros salientam que casos como este dispensam medições dos níveis de ruído, um processo complicado e por vezes infrutífero: "A ilicitude de um comportamento ruidoso que prejudique o sono de terceiros está precisamente no facto de, injustificadamente e para além dos limites do socialmente tolerável", se lesar "o direito à integridade pessoal".
Presidente da Associação de Inquilinos Lisbonenses pensa que esta sentença pode ajudar muita gente»
Salvo melhor opinião, sentenças como essa não ajudam ninguém, pelo motivo simples de que ninguém as fará cumprir.
ResponderEliminarQualquer pessoa o sabe.
Agora basta multiplicar este caso por 4 ou 5 mil. São umas 4 ou 5 mil famílias em Lisboa que não conseguem dormir (ou têm que fugir de casa para dormir) por causa de bares e discotecas que ficam a fazer barulho até às 4 ou 6 ou 8 da manhã, com as autoridades todas (CML, PSP, etc) a assobiar para o lado.
ResponderEliminarMas há quem ache que a algazarra nocturna é um direito constitucional...
e a quantidade de vizinhos que tem cães e que acha normal que ladrem noite e dia incomodando os outros?
ResponderEliminarMas quais tribunais?
ResponderEliminarEste processo demorou 7 ANOS! Sim, 7 anos! Para quê? Para levar com lixívia em cima, vasos e outros? E depois ter a "miragem" do pagamento de 25 mil euros, que provavelmente nem vão ser pagos!
E 25 mil euros servem para quê? Provalmente nem devem cobrir os custos de tribunais, hotéis, obras, psicologo....
São estes os exemplos de como mais vale resolver o assunto pelas próprias mãos do que recorrer à justiça.
Este tipo de comportamento só tem comparação nos métodos de privação de sono das prisões Iraquianas!
"e a quantidade de vizinhos que tem cães e que acha normal que ladrem noite e dia incomodando os outros?"
ResponderEliminarQuantidade de bestas queria o anónimo dizer?
Tambem ha casos em que as vitimas furam pneus dos carros, roubam contadores de agua, tiram as matriculas, destroem contadores de electricidade e riscam os carros das pessoas que ouvem musica alto e ainda metem um processo no tribunal. Serah que estas pessoas que ouvem musica alto devem pagar 25 mil euros depois de sofrer estes actos de vandalismo?
ResponderEliminarTambem ha casos invertidos em que os queixosos tambem cometem actos de vandalismo contra os supostos barulhentos.
Refiro-me a uma historia que ouvi dum amigo meu. Simplesmente hilariante.
Casos invertidos é o que mais há. E agora até se vão poder casar.
ResponderEliminarA este saiu caro o barulho da vizinhança: http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=01F54EDA-B562-486A-BF4E-2C84E45D053C&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010
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