In Público (14/11/2009)
Por Inês Boaventura
«Imóvel no Bairro Alto foi transformado, mas há um processo judicial pendente há quase cinco anos. Anúncio na Internet desapareceu ontem
Vende-se igreja "T0"
Processo polémico
A Chamartín Imobiliária está a tentar vender, por dois milhões de eu-ros, a antiga igreja do Convento dos Inglesinhos, em Lisboa, para a qual chegou a projectar a construção de um edifício de dois pisos que obrigaria à demolição do altar-mor e altares laterais. A notícia da venda fez ressurgir a indignação do realizador José Fonseca e Costa, cuja acção judicial interposta para travar a transformação do imóvel do século XVII num condomínio de luxo continua por julgar há vários anos.
O cineasta, que tem sido o principal rosto da contestação ao empreendimento, actualmente concluído, fala numa "negociata feia", lembrando queo Convento dos Inglesinhos foi comprado na década de 1980 pela Misericórdia de Lisboa com a finalidade de ali instalar uma unidade piloto na área dos cuidados continuados e da gerontologia. O objectivo nunca foi realizado e o imóvel, situado no Bairro Alto, acabou por ser vendido em 2000 ao grupo Amorim, naquele que Maria José Nogueira Pinto, ex-provedora da Misericórdia, considerou ser "um péssimo negócio", efectuado por uma antecessora.
"É um escândalo", reagiu Fonseca eCosta quando confrontado com a no-tícia da venda da Igreja de São Pedro e São Paulo, não hesitando em usar adjectivos como "repugnante" e?"nojento" para classificar o processo. Além da tal "negociata feia", alguns dos aspectos desde sempre criticados pelo cineasta são o "arrasar" do jar-dim em patamares, o abate de "árvores centenárias", a "violenta deforma-?ção" do muro (cuja autoria tem sido atribuída a Carlos Mardel) e a alteração da fachada do edifício.
"É extraordinário", diz de forma mais contida José Sá Fernandes, o segundo autor da acção judicial interposta em 2005 (e cuja providência cautelar foi indeferida), salientando a importância de se garantir a preservação da igreja agora à venda.
Em 2008, a vereadora Helena Roseta pediu a reanálise deste processo urbanístico pela Câmara de Lisboa, mas o grupo de trabalho criado para esse efeito na sequência da sindicância aos serviços do urbanismo concluiu que tal não era possível, porque o processo de licenciamento está na posse do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa. Já a unidade especial de investigação da Procuradoria-Geral da República, criada após a sindicância para apurar eventuais crimes cometidos naqueles serviços de urbanismo, abriu um inquérito sobre o caso, mas acabou por o arquivar há alguns meses.
Questionado pelo PÚBLICO sobre a venda da igreja, Artur Soutinho, administrador da Chamartín Imobiliária, desvalorizou a questão, frisando que o espaço "deixou de ser um local de culto nos anos 70". Certo é que,ontem, depois de o assunto ter despertado a atenção, o anúncio da venda colocado na Internet deixou de estar disponível.
O director do departamento de bens culturais do Patriarcado de Lisboa confessou que acha "um boca-dinho estranho" ter-se recuperado a igreja tal como ela era para, depois, a utilizar como estabelecimento comercial, e questiona se a divisão interna a que tal provavelmente obrigará não irá "matar" o espaço. Ainda assim, o padre António Oliveira não se opõe a que lugares de culto desafectados dessa função tenham "outro tipo de utilização" e diz, aliás, que o Bairro Alto "não tem de certeza falta de igrejas".
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Nos Inglesinhos, a VERGONHA continua.
Não me choca nada uma igreja ter outro tipo de utilização, seja ela restaurante, livraria, galeria de arte, sala de concertos, discoteca, bar, etc etc etc.
ResponderEliminarÉ definitivamente preferível a ter mais um edifício histórico arruinado e é pratica comum por esse mundo fora, com excelentes resultados.
o padre António Oliveira não se opõe a que lugares de culto desafectados dessa função tenham "outro tipo de utilização"...
ResponderEliminarÉ um visionário - a igreja quer mais fieis mas não se importa de vender e fechar igrejas... Desde que entre $$$.
Vão passar a fazer missas on-line e assim os fieis até podem contribuir por cartão de crédito.
É uma vergonha e verdadeiramente repugnante a submissão de tudo e todos ao dinheiro - até da igreja...
Em Dublin vi uma igreja que foi transformada em Bar e não me chocou, o que me choca é ver o património todo em ruínas.Já se fôr para habitação não acho tão bem porque aí só pode ser usufruída pelos donos da casa uma coisa que à partida era de todos
ResponderEliminarOra aqui está algo que se deve questionar a nova ministra
ResponderEliminarO que faz falta é haver pessoas.
ResponderEliminarÉ uma pena que os valores patrimoniais, neste caso o património integrado da igreja não seja devidamente acautelado: mármores,talhas, estuques balaustradas e o órgão raríssimo do século XIX. Tudo depende da utilização que for dada a este imóvel. Felizmente que não pode ser transformada em garagem a não que destruam a escadaria exterior e a substituam por uma rampa. Tudo é possível quando a preocupação predominante é apenas a obtenção mais valias.
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