In Público (6/12/2009)
Por José António Cerejo
«Vereador diz que não se trata de um problema estrutural, mas apenas de uma intervenção normal de conservação. Em 2003, um especialista já considerava a estrutura "um disparate"
Ponte mais flexível pode ter vantagens em zonas sísmicas
A passagem aérea da Rua Conde de Almoster, por onde passa a pista ciclável e que liga a zona do centro comercial Fonte Nova a Monsanto, foi fechada para obras depois de ali terem sido detectados problemas na estrutura de betão. O encerramento aconteceu "sem mais nem menos", segundo dizem utilizadores. A autarquia de Lisboa diz lamentar a falta de aviso, mas explica que é preciso fazer obras de manutenção. Há especialistas que, há seis anos, criticam esta estrutura.
"A Direcção Municipal de Projectos e Obras penitencia-se por não terem sido lá colocadas os avisos", adiantou uma assessora do presidente da câmara, Luísa Botinas, referindo-se aos painéis informativos sobre a natureza e duração da obra, de afixação obrigatória. O vereador responsável, Fernando Nunes da Silva, diz que a intervenção deverá começar dentro de duas semanas e durará cerca de um mês.
Reparos são antigos
A montagem da ponte agora encerrada ocorreu em finais de 2001, altura em que a Radial de Benfica - via rápida que passa entre a via férrea e a orla de Monsanto - foi inaugurada. Logo nessa altura não faltaram reparos à escassa superfície de contacto existente entre o tabuleiro que passa a quase seis metros de altura e os pilares que o suportam.
Dois anos depois, quando uma outra passagem pedonal pré-fabricada ruiu sobre o IC 19 na zona de Queluz, causando três feridos, foi feita uma pequena alteração na Conde de Almoster, que se limitou ao reforço da ligação do tabuleiro aos pilares, através de placas metálicas e de parafusos de grandes dimensões.
Quem não se convenceu com essa solução foi Armando Rito, um reputado especialista em estruturas de betão, com perto de meio milhar de pontes e viadutos no seu currículo. "Esses parafusos não servem rigorosamente para nada - se houver alguma tendência horizontal para derrubar, aquilo parte-se tudo imediatamente: ficam os parafusos agarrados ao betão e aquilo vem parar cá abaixo", afirmou então ao PÚBLICO.
Este género de "vigas pré-fabricadas, atendendo à relação altura-base, são inerentemente instáveis, pouco fiáveis", prossegue Armando Rito, que classifica mesmo a passagem de Benfica como um "disparate". Isto porque "as vigas são muito altas, têm uma base baixa, não têm amparo transversal, não têm solidarização - e estão sobre uma via de grande circulação".
Nunes da Silva assegura que "não há qualquer problema propriamente estrutural", mas apenas o "esboroamento do betão [nalguns pontos], o que deixou ficar a armadura de ferro à vista" e pode ocorrer por uma série de razões normais. Para evitar a oxidação do ferro, que, essa sim, poderia levantar problemas, "a única coisa que há a fazer é descascar o betão à volta do ferro, limpá-lo, pintá-lo e voltar a cobrir de betão", garantiu.»
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