In Público (2/12/2009)
Por José António Cerejo
«Quando a polémica intervenção no jardim se iniciou há duas semanas, só havia um parecer do instituto, datado de Maio. Dizia assim: "Na presente fase não aprovado"
Carro à frente do boi
Especialistas dizem que abatede árvores foi acertado
Não foi apenas uma nem duas vezes que o vereador José Sá Fernandes e os seus assessores garantiram, na semana passada, que o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) tinha dado um parecer favorável à "requalificação" do Jardim do Príncipe Real, iniciada há duas semanas. A garantia destinava-se a amansar os protestos que se avolumavam de dia para dia - e que estão longe de ter o apoio dos mais respeitados especialistas em jardins do país, bem pelo contrário -, mas tinha um problema grave: não correspondia à verdade.
Insistentemente solicitado ao gabinete de Sá Fernandes desde o princípio da semana, o parecer que conteria a aprovação do Igespar só chegou quinta-feira à noite. Aparentemente, tudo bem. O arquitecto paisagista que informou o pedido de intervenção camarária na Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo, concluiu, em Maio, com a proposta de "aprovação da intervenção a nível da vegetação", e de "não aprovação das intervenções no âmbito de pavimentos, equipamento e mobiliário, face a dúvidas persistentes".
Logo a seguir, a 4 de Maio, a directora de Serviços dos Bens Culturais daquela direcção regional susbcreveu as informação "nos termos propostos" e o director regional exarou o seu "concordo" no mesmo dia. Três dias depois, o director do Igespar, Elísio Sumavielle (actual secretário de Estado da Cultura), produziu o despacho final, aquele que valia e o único que traduzia oficialmente a posição do instituto. Sucede que o documento enviado ao PÚBLICO pelo gabinete do vereador trazia uma palavra cortada, por deficiente digitalização do texto.
O episódio não teria qualquer relevância, não se desse o facto de o sentido da decisão se tornar assim incompreensível. Nessa noite ainda foi pedido à câmara o envio do documento completo, mas até hoje ele não chegou. O que se percebia no despacho era apenas "na presente fase não (depois faltava uma palavra)" e, na linha de baixo: "Aguarde-se elementos." A palavra mistério, soube o PÚBLICO na sexta-feira, através do assessor de imprensa do novo secretário de Estado da Cultura, era "aprovado".
O director conclui assim de forma diferente dos seus subordinados e escreveu: "Na presente fase não aprovado. Aguarde-se elementos."
Confrontado com este facto, o assessor de Sá Fernandes, João Camolas, criou a tese de que aquilo que Sumavielle não aprovara era apenas a parte dos "pavimentos, equipamentos e mobiliário", cujo chumbo fora proposto pela informação original.
"Que não", clarificou Manuel Santana, o assessor do secretário de Estado. Não era só uma questão de português e de prática administrativa. "O dr. Sumavielle confirma que o despacho dado significa que não aprovou o parecer emitido pela direcção regional e que deu um parecer contrário porque não dispunha de elementos suficientes." A não aprovação, insistiu, abrange obviamente a totalidade da intervenção e não apenas os pavimentos e mobiliário urbano.
Contactado o gabinete do vereador do Ambiente sobre a necessidade de ouvir as explicações de Sá Fernandes, e como havia fim-de-semana e feriado pelo meio, a conversa ficou aprazada para ontem. A resposta, porém, estava num mail enviado pelo autarca a todos as redacções anteontem. Em duas páginas, assinadas nesse próprio dia, 30/11, o mesmo técnico que em Maio tinha proposto a aprovação do "vegetal" e a não aprovação do resto, propunha agora a aprovação desta parte.
Coincidência: no mesmo dia de anteontem, entre domingo e feriado, a directora de serviços dos Bens Culturais, Paula Alves, e o director regional, Luís Marques, subscreviam e concordavam.
Pormenor: o técnico (arquitecto Mário Fortes) explicava em pé de página que a directora lhe pedira parecer na sexta-feira, face às três páginas de esclarecimentos pedidos em Maio e acabados de chegar da câmara sobre os pavimentos e equipamentos. O prazo fixado no seu despacho escrito era 3 de Dezembro, mas esse prazo foi "reduzido a meio dia por instruções verbais da senhora directora (...)de 30.11.09" - informa o arquitecto na mesma nota de pé de página.
Ainda no dia de anteontem, o novo director do Igespar, Gonçalo Couceiro, proferiu o seu despacho de "aprovo". Couceiro ainda não tomou posse e a sua nomeação foi publicada no Diário da República na quarta-feira passada. Elísio Sumavielle não quis comentar.»
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Lindo de morrer. Já agora, caro Sr. Prof. Luís Marques, a DRC-LVT já providenciou alguma medida no caso da "obra" no portão lateral da Sé?
Há que apurar responsabilidades:Ao Vereador Sá Fernandes porque mentiu ao povo de Lisboa.
ResponderEliminarAo futuro director do Igespar por despachar sem ter atribuições
E consequências destes actos?
Uns são filhos outros entiados!
A justiça não é igual para todos.
Lindo, de facto.
ResponderEliminará já agora há que apurar, se é ou não verdade, que os funcionários da CML estão a ser pressionados para que, quando questionados por jornalistas, dizerem que as árvores estão doentes, mesmo que tal não aconteça.
Pois é....estes tipos conseguiram fazer mais uma "Campo Pequeno"...e responsabilidades ?????????????
ResponderEliminarPÉSSIMO INÍCIO DE MANDATO PARA O NOVO DIRECTOR DO IGESPAR ... MAS AFINAL DE ONDE É QUE ESTA "MALTA" VEM ?
ResponderEliminarda maçonaria?
ResponderEliminarBoa pergunta. Excelente pergunta. "De onde é que esta malta vem?" É um mistério! E como é que nós os colocámos lá? É outro mistério! E como é que eles se conseguem lá equilibrar sem caír? É outro mistério.Portugal é a Terra dos Mistérios.
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