In Público (19/1/2010)
Por Inês Boaventura
«A criação de um equipamento no Cinema Europa está dependente da compra do espaço, com a qual a autarquia não se comprometeu
E os projectos eleitos em 2009?
A criação de um equipamento cultural no piso térreo do antigo Cinema Europa, em Campo de Ourique, foi a segunda proposta mais votada no Orçamento Participativo de 2010 da Câmara de Lisboa, tendo-lhe sido destinada uma verba de 690 mil euros. Mas o espaço é propriedade de um privado e a autarquia admitiu em 2008, naquela que é a última posição assumida formalmente sobre o caso, que "a oportunidade e conveniência" de o adquirir "ainda não foi objecto de uma decisão definitiva".
A luta pela preservação do imóvel, corporizada no movimento SOS Cinema Europa, começou em 2005, na sequência de notícias sobre a sua demolição. Júlio Quaresma, arquitecto autor do projecto para o prédio na esquina da Rua Francisco Metrass com a Rua Almeida e Sousa, explicou ontem ao PÚBLICO que durante a presidência de Carmona Rodrigues a autarquia "exigiu que se alterasse o projecto e colocasse dois pisos para equipamentos culturais, uma biblioteca e uma videoteca".
Mas, de acordo com o arquitecto, o actual presidente solicitou a redução para apenas um piso, tendo ficado acordado que a câmara dispunha de dois anos para exercer a opção de compra dessa área. Júlio Quaresma refere que quando forem feitas as obras, com arranque previsto para Fevereiro, o piso térreo vai ficar "em tosco" porque, caso não seja adquirido, deverá ser consagrado a actividades comerciais.
O arquitecto diz que, tanto quanto se recorda, os tais dois anos começam a contar "após a conclusão" da obra - que deverá demorar o mesmo número de anos. Já o presidente da Junta de Freguesia de Santo Condestável, Pedro Cegonho, diz que a opção de compra deve ser "negociada" a partir do momento em que for levantada a licença para a empreitada, emitida pela autarquia já este ano.
Costa lembra condicionante
O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, anunciou ontem os 12 projectos vencedores, aos quais vai ser atribuída uma verba total de 4,935 milhões de euros. E no caso do Cinema Europa nada disse sobre a sua hipotética compra, mas lembrou que existe desde logo "uma condicionante": "o proprietário arrancar com a obra".
O presidente da Junta de Freguesia de Santo Condestável diz que, apesar de não existir qualquer garantia formal nesse sentido, está "profundamente convencido" de que "a câmara tem a firme intenção de exercer a opção de compra", sendo certo que tal "dependerá do rumo das negociações" com o proprietário, a Sociedade Administradora de Cinemas. Pedro Cegonho entende que a votação alcançada no Orçamento Participativo "é um vínculo político muito forte".
Bicicletas na Baixa
Também eleita, com 114 votos, foi a "melhoria das condições de tomada e largada de passageiros" junto a cinco escolas, todas elas privadas: Liceu Francês, Doroteias, Sagrado Coração de Jesus, Colégio Moderno e Externato Marista. No pelouro da mobilidade, foi ainda escolhido o "alargamento das faixas bus, permitindo a circulação de bicicletas".
O vereador Nunes da Silva adiantou ao PÚBLICO que esse último projecto, implementado com sucesso em Paris, vai avançar "a título experimental" entre o Marquês de Pombal e a Baixa, previsivelmente durante o primeiro trimestre do ano. Esta medida já foi discutida com a Carris e, segundo o autarca, vai implicar apenas mudanças ao nível da pintura, porque a Avenida da Liberdade já tem "uma faixa de um metro e pouco junto ao passeio.»
Sobre as bicicletas nos corredores BUS:
ResponderEliminarDesculpem mas, entre o Marquês de Pombal e a Baixa? Isto é a gozar? Além de ser um troço com muitas outras possibilidades para as biclas, como por exemplo através das duas placas centrais de jardim/passeio que são bastante largas, é um troço muito curto e quase sem utilidade para quem anda de bicla no dia-a-dia.
Achava muito mais interessante fazerem isso por exemplo entre o Cais do Sodré e o Parque das Nações, uma extensão muito maior em que muita gente já usa o corredor BUS para se deslocar.
Sem utilidade no dia a dia??? Eu moro em Sete Rios e trabalho na Baixa, está-me a sugerir ir à Expo para depois ir à Beira Rio ou num troço enorme em que só há contentores e estivadores até à Baixa? Chego da parte da tarde ao trabalho? Vou circular para o meio dos peões no passeio? Já leu o Código da Estrada?
ResponderEliminarAnónimo, tem toda a razão... é óbvio que quem vive na parte alta da cidade irá usar essa avenida para se desclocar e tem toda a utilidade para essas pessoas, como no seu caso...
ResponderEliminarFiz-me entender mal, reconheço agora, o que eu queria dizer é que deviam ter sido mais ambiciosos, e não fazer apenas da baixa ao marquês de pombal, porque até se faz razoavelmente bem nas condições actuais, mas até bem mais longe, ou noutros troços mais problemáticos e inseguros para quem circula de bicicleta todos os dias.
Quanto ao código da estrada, conheço muito bem e sei que até há coimas para quem circula de bicicleta nos passeios. Eu por norma não ando, e respeito os peões e os passeios (ao contrário de 99% dos automobilistas, e esses nem coimas levam por lá estacionarem). Mas o caso concreto dos passeios, placas centrais dos restauradores é especial. São muito largos e podem circular bicicletas e outros meios de transporte do género sem incomodar ninguém. Não vejo problema nenhum nisso. A nossa legislação é que é um bocado cegueta... em Barcelona, por exemplo, há zonas da cidade parecidas com os restauradores, com zonas pedonais até mais estreitas que estas, que foram convertidas em ciclovias, sem que com isso incomodassem os peões. É possível ter o melhor dos dois mundos em certos casos. E este é um deles.