O relógio do Arco da Rua Augusta, em Lisboa, não funciona correctamente há vários anos. Ou está desacertado ou pura e simplesmente parado. A situação é considerada como "uma vergonha" pelos especialistas. E tudo parece estar numa situação de impasse.
"É uma situação ridícula", afirmou, ao JN, Fernando Correia de Oliveira, especialista em relojoaria, pesquisador do fenómeno do tempo, do fabrico de relógios e da Evolução Mental e autor de livros e inúmeros trabalhos sobre o assunto. "Aquilo é tão central que não passa despercebido", comentou, sublinhando que "não é um relógio de vão de esquina". "Passam ali milhares de pessoas. É uma vergonha", desabafa.
Contactado pelo JN, o relojoeiro responsável pela sua reparação e manutenção, Luís Cousinha (neto do fabricante do relógio), garantiu, por seu turno, que "o relógio não tem problemas técnicos" mas que não está a trabalhar "porque há obras" no interior do arco. O relojoeiro disse que a Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo tenciona "mudar o relógio de onde ele está" para ser "embutido num nicho grande".
Fernando Correia de Oliveira também tem conhecimento dessa intenção de "embutir o relógio na parede" mas considera tal plano "uma coisa completamente espatafúrdia".
O investigador teceu duras críticas ao projecto. "Meteu-se um arquitecto ao barulho que fez para lá um plano muito clean para open spaces e, portanto, o relógio está ali a estorvar".
Perigo público
Na sua óptica, embutir o relógio dentro da própria parede vai criar "uma grande complicação para fazer a transmissão de forças do relógio propriamente dito para os ponteiros" além de outros problemas para os pesos. "O arquitecto devia falar com alguém que perceba de relojoaria para perceber que o que ele propõe é capaz de ser um disparate até com algum perigo público porque se soltam roldanas vem tudo por ali abaixo", apontou.
O JN tentou obter esclarecimentos junto da Direcção Regional de Cultural e Vale do Tejo mas não obteve resposta até à hora do fecho desta edição.
Dar à corda
O mau funcionamento do relógio não parece ser um problema recente. Fernando Correia de Oliveira considerou que "tem estado intermitentemente ao abandono" e que nas últimas décadas o relógio tem passado "sobressaltos muito grandes".
O relojoeiro Luís Cousinha, por seu turno, lembrou que nos últimos anos o relógio trabalhava "quando lá íamos dar à corda" mas admitiu que isso nem sempre era possível e que muitas vezes se deparavam dificuldades no acesso à chave do miolo do Arco.
"Não sei de quem é a incompetência mas devem ser dois ou três factores que ali se foram congregando", apontou Fernando Correia de Oliveira. "Não estamos a falar de levar uma pessoa à lua num space shuttle", ironizou, sublinhando que "ali não há segredo" e que "é muito fácil pôr o relógio a funcionar, não estamos a falar de tecnologia de ponta".
O pesquisador lembrou ainda que "o relógio não chegou sequer a ser ligado ao próprio sino que está no terraço quando isso seria colocá-lo na sua verdadeira função" porque, diz, "o relógio não é apenas para mostrar as horas mas também para bater as horas".
In JN
preocupem-se com o essencial e não com o acessório. para ver as horas consigo olhar para o meu pulso. o que não consigo é transitar naquela zona da cidade. parece que caiu um morteiro ali há mais de 10 anos e ninguém reconstruiu. é a zona mais esburacada da cidade.
ResponderEliminarMas já não houve um restauro por parte de uma prestigiosa marca de relojoaría suiça ?!?!?!?!?!
ResponderEliminarMarca de nome JAEGER LECOULTRE.
"O relojoeiro Luís Cousinha, por seu turno, lembrou que nos últimos anos o relógio trabalhava "quando lá íamos dar à corda" mas admitiu que isso nem sempre era possível e que muitas vezes se deparavam dificuldades no acesso à chave do miolo do Arco."
Acho que está tudo dito, ou este senhor não leva o seu trabalho muito ao sério, o que pelos vistos é o caso, ou a culpa é da CML que não lhe vem a ideia que o arco tem 135 anos e que seria bem tempo de lhe fazer umas obras de restauro/conservação bem como a estátua equestre do rei D.José I na Praça do Comércio.
Cumpts.
caro Homosapiens
ResponderEliminarisso foi tudo um logro.
pode ver pormenores em Observatório Relógios Históricos. O relógio nunca funcionou regularmente. vamos ver se é desta que o relógio é restaurado como deve ser...
Obrigado Paulo.
ResponderEliminarLi com atenção o vosso link do blog:
observatoriorelogioshistoricos.blogspot.com
Penso que, o que eu disse mais em cima sobre essa grande marca de prestígio que é a JAEGER LECOULTRE, tinha a ver com a remodelação feita em 2007( nesse tempo até tinham metido publicidade dessa marca por todo o canto e esquina do arco). No artigo do JN, diz e cito que foi "uma intervenção de restauro financiada por privados mas, na verdade, o equipamento nunca chegou a funcionar correctamente durante muito tempo".
Até fico pasmado visto que a arte da relojoaria dos suiços é de alta qualidade, por isso não percebo o porquê desse mau funcionamento :/.
Até parece que foi pura propaganda comercial para alguns encherem os bolsos, afinal Portugal está cheio desses ganânciosos.
Bem que podiam tomar exemplo sobre a famosa Torre do Relógio ou Torre dos Mouros na Praça de São Marco em Veneza (Itália), que foi integralmente restaurada pela célebre empresa suiça PIAGET. Restauração feita com grande rigor.
Cumpts.
É simples de explicar: foi mal reparado pelo Sr. Cousinha.
ResponderEliminarLevar uma pessoa 'a Lua num space shuttle e' de facto capaz de ser complicado...
ResponderEliminarVERGONHA!
ResponderEliminarPequena história pessoal que pode ajudar a compreender a aqui relatada. Claro que pode haver outras causas e a extrapolação pode ser abusiva. Em qualquer caso, aqui fica a história.
ResponderEliminarContratei o Sr. Luis Cousinha, há uns anos, para me reparar um simples relógio de parede, mecânico, de pesos e pêndulo.
Parou passados poucos dias após vir das mãos do 'perito'. Ainda tenho por aí a 'declaração de garantia de conserto', algures, mas nunca a usei porque não acredito que ele sabe de relógios mecânicos o suficiente para me ser credível.
Luís Oliveira, Lisboa.