In Diário de Notícias (28/2/2010)
por FÁTIMA ALMEIDA
«Os bolos caseiros têm receitas antigas e sabores que os clientes gostam de repetir.Nos dias de frio, sabem bem na companhia de uma xícara de chá e dois dedos de prosa.
"E se houvesse chá para oferecer?", pode ser a frase perfeita para dar início a uma casa que hoje conta com cerca de 40 anos de história. E, na verdade, assim foi com a casa de chá As Vicentinas. A data da abertura Maria Raminhos não sabe precisar, mas trabalha ali há cerca de 37 anos (pouco depois de tudo começar). O espaço foi pensado para expor os trabalhos de mulheres que não tendo uma profissão aprendiam a arte da costura e dos bordados com um grupo de voluntárias. O pronto-a-vestir triunfou e, durante as passagens de modelo, aos bolinhos pensaram ser conveniente juntar umas xícaras de chá.
E desde então que há bules a fumegar e scones quentinhos confeccionados num forno que ainda resiste, apesar dos insistentes reparos. "Um fogão muito velho, mas só ele sabe cozer melhor os scones", confessa Mariana, com voz de quem sabe. Naquela casa, a mesa de pedra, no meio de salão, exibe bolos também ali confeccionados. As receitas, essas, são sempre as mesmas - um sabor antigo que os clientes gostam de repetir.
Além de uma casa de chá, que esconde recantos poucos iluminados que atraem o sossego, As Vicentinas vendem peças feitas por pessoas carenciadas. Na montra há molduras e, por exemplo, botinhas de lã com uma missão - ajudar. Ao pagar, também se recebe um brinde: o som de uma máquina registadora das antigas. "Os mais pequeninos fartam-se de rir" com o barulho, conta Mariana.
Os pormenores na decoração são uma marca nas casas de chá. E as cartas revelam verdadeiras curiosidades. Na Chá do Carmo, por entre bules antigos, há um convite às experiências do sabor. "Pleine Lune - esplendor de lua cheia, mistura poeticamente os sabores dos frutos e especiarias raras e mel. Chá Luminoso", lê-se na subdivisão do Chá Preto Perfumado. Mas nas cerca de 50 variedades há ainda um chá para os apaixonados, outro para o Natal e ainda um para a Páscoa. Um botão, de jasmim, também se abre em flor num bule transparente ao mesmo tempo que perfuma a água, mostra Manuela Cunha, da casa Chá do Carmo, fundada em 1998. O segredo é experimentar. E descobrir, ainda, numa vitrina velas e incenso com os cheiros do chá.
Também na Cultura do Chá, surgem novidades. Além dos chás tradicionais e do Chá dos Açores, sempre presente (e o único produzido na Europa) todos os anos há novidades. Para este, a carta reserva o Chá Azul, uma mistura de chá verde do Japão com algas, e o Chai, mistura de chá preto da Índia com especiarias, conta Luís, um dos proprietários. Mas naquela casa de chá, apesar de os sabores fundirem especiarias de várias partes do mundo, há "um toque português" por todo o espaço.
Aos móveis fabricados em Portugal, juntam-se bules e outros "objectos que nos levam para pormenores tradicionais". Os azulejos verdes que formam desenhos, na copa, e a janela com um vaso verde e suaves cortinas faz lembrar uma típica cozinha portuguesa. E, ainda que dali não se alcance o céu inteiro, vem à memória o verso "sem dar conta a cortina da janela é o luar". Isto porque, apesar de haver também toques de modernidade, em alguns aspectos a canção É Uma Casa Portuguesa, interpretada por Amália Rodrigues, entra por muitas casas de chá adentro.
Também em Sintra se ergueu de umas ruínas com história (ver caixa) uma casa de chá com um sabor bem português. Ao Café Saudade, aberto desde Junho do ano passado, há quem lhe "chame a casa da avó" ou diga que ali nasce a sensação de estar "a lanchar em casa de amigos", o que é "muito bom" conta Mary Pereira, que gere o negócio com o marido. Os sacos de panos para o pão e os aventais pendurados são apenas um sinal, que cheira a saudade, naquele lugar onde "A vida e a arte do povo português" acontecem.
No final do pequeno roteiro, na Grande Lisboa, outras histórias de aconchego para os dias frios de Inverno ficam por contar e muitos sabores por descobrir. Da Lapa (Casa Chá da Lapa, fundada em 1982) a Alfama (Ó-Chá), ao Jardim do Chá (Santo Amaro de Oeiras), há muitos espaços a desvendar.»
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São boas notícias, mesmo para mim que não gosto de chá, talvez porque o tenha tomado em demasia em pequeno. Continuo fiel, isso sim, aos scones, mas esses raras vezes são bem feitos.
O destaque da Saudade é meritório.
ResponderEliminarSintra deve ter orgulho e acarinhar esta Casa.
Parabéns.
"sintrense"
Ahhh e os scones são óptimos !!!
ResponderEliminarFalar de "Casas de Chá da capital" é espantoso! Não existem casas de chá em Lisboa. O hábito não faz o monge. Não é por existirem 2 ou 3 que se pode falar na tradição das casas de chá. Eu direi mesmo que é extremamente difícil beber um bom chá em Lisboa. Parece que houve uma marca que se impôs e ninguém conhece outras. Há sítios onde o chá sabe a água de peixe cozido. Eu adoro chá e tenho por hábito bebê-lo e aprecio um chá bom. Já desisti de o beber em quase todas as casas da capital. Nem a Versailles ou a Bénard têm chá de qualidade nem o servem como deviam. E agora, não sei se é por questões de poupança, até o bule pouco mais dá que 1 chávena.
ResponderEliminarSe as pessoas acham que uma casa de chá é boa pelos seus scones não digam que o é pelo seu chá!
Se temoos em Lisboa boas casas de café o mesmo não aconece com casas de chá.