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24/06/2010
Começou a demolição de um prédio que teve Fernando Pessoa como inquilino
In Público (24/6/2010)
Por Cláudia Sobral
«Edifício na Avenida de Casal Ribeiro dará lugar a empreendimento de luxo. Directora da Casa Fernando Pessoa não se opõe mas diz que "isto prova que não estimamos o nosso património"
É um prédio de gaveto devoluto, junto ao Largo de Dona Estefânia, com paredes de tijolos a barrar as antigas entradas. Depois de anos e anos de degradação crescente e de polémicas sobre uma eventual demolição, o edifício Arte Nova vai desaparecer, para dar lugar a um projecto de luxo com a assinatura da empresa Cáfe.
Diz-se que foi uma das inúmeras moradas de Fernando Pessoa - a tal Leitaria Alentejana onde, algures entre 1915 e 1916, o senhor Sengo ofereceu dormida ao poeta, num quarto exíguo, que por alguns tempos foi do criador do universo dos heterónimos pessoanos, segundo contou o primeiro biógrafo do poeta, João Gaspar Simões, em Vida e Obra de Fernando Pessoa.
As obras de demolição começaram há pouco - ontem ainda se montavam andaimes em torno do edifício - e deverão estar concluídas dentro de um mês, conforme avançou fonte da proprietária do prédio e responsável pela obra. No seu lugar vai nascer um totalmente novo, de oito andares, para habitação e comércio, no rés-do-chão. Imitará o estilo do antigo, mas será mais alto, à semelhança dos edifícios contíguos, como explicou um funcionário da empresa, que não quis ser identificado.
Nem a fachada se mantém
Segundo a mesma fonte, o prédio chegou a um ponto de degradação que torna impossível a sua recuperação: "O prédio não tem condições físicas para se manter. Nem sequer a fachada." A directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, admite que, em certos casos, demolir os edifícios poderá ser a melhor solução. "Se está em degradação, se não está assinalado e se não há lá nada para ver, isto não me choca", afirmou. "Choca-me mais que os locais onde viveu e trabalhou Pessoa não estejam assinalados", acrescentou, adiantando ainda que o facto de ser construído um novo edifício no lugar do antigo não impede que o local seja assinalado como o lugar onde, em tempos, houve outro prédio onde terá vividoFernando Pessoa.
"Se não se pudesse mexer em cada casa onde viveu Fernando Pessoa, não se podia mexer em muitas casas de Lisboa", sublinhou, num gesto de compreensão. E explicou que a casa onde o poeta português viveu mais tempo está preservada, com o quarto tal qual como ele o deixou e com os seus objectos pessoais. "Mas claro que isto só prova que não estimamos o nosso património", rematou a directora da Casa Fernando Pessoa.
A polémica que envolve o prédio da esquina entre a Avenida de Casal Ribeiro e a Rua do Almirante Barroso arrasta-se há quase uma década. Passados nove anos desde que o primeiro pedido de demolição deu entrada na Câmara de Lisboa - recusado em 2003 - o n.º 1 da Avenida de Casal Ribeiro vai mesmo abaixo. Para a Cáfe, o problema dos entraves à destruição do edifício "já está resolvido". O PÚBLICO pediu informações à autarquia, mas não obteve resposta em tempo útil.»
...
O "engraçado" é que foi precisamente aqui, neste blogue, que começou a denúncia desta situação. Na altura foi o "snapshot" aos ladrões que, em cima de escadas, roubavam os azulejos Arte Nova. Feita a queixa à PM, nada aconteceu. E por aqui continuou a denúncia deste caso, para onde, recorde-se, a CML e a Casa Pessoa diziam ter um projecto de conservação e restauro, isto há 6-7 anos. Nada disso aconteceu, claro, e só aconteceu o que vai acontecendo por toda a Lisboa: prédio destelhado, janelas abertas, incêndios espontâneos e depois, zás, projecto de demolição e construção nova aprovado por razões de segurança. É mais um triste episódio num folhetim (resenha feita em 2008) cujo fim não se vislumbra, antes pelo contrário. Até quando?
"Segundo a mesma fonte, o prédio chegou a um ponto de degradação que torna impossível a sua recuperação: "O prédio não tem condições físicas para se manter. Nem sequer a fachada..."
ResponderEliminarPois....com telhas removidas durante anos, fico mesmo admirado que o edifício estava em más condições....
Lá se vai mais um prédio de gaveto...e este dava características a duas ruas e um largo.
Parece que esta rua, ou toda esta zona, está condenada a desaparecer?
Os nossos autarcas parece que ainda não perceberam a mais valia que a conservação e restauro de edifícios antigos representa para uma cidade.
ResponderEliminarÉ pena pelo edifício, que é muito bonito e merecia ser restaurado, e por ter lá vivido Pessoa e se perder mais uma "casa" dele. Ao menos que coloquem uma placa que mencione o facto.
ResponderEliminar"Chegou a um ponto de degradação que torna impossível a sua recuperação"???
ResponderEliminarMas esta gente pensa que somos todos parvos, ou que andamos cá a ver andar as carroças?
Este prédio sofreu um processo de degradação forçada, em pouco mais de um mês:
Tiraram-lhe uma telhas, roubaram-lhe azulejos, partiram-lhe vidros e com mais umas malandrices, conseguiram aquilo que está lá agora. E isto tudo sem que os serviços de fiscalização competentes da Câmara Municipal (aqueles que por algumas obras de escassa relevância, caem logo em cima dos munícipes, passando coimas e respectivos autos), tenham obrigado a proceder ás obras de conservação, a que os edifícios estão legalmente sujeitos pelo RGEU.
Mesmo assim, o desgraçado do prédio lá se foi aguentando de pé; sinal da sua boa construção.
Não pode ser recuperado? É mentira!
Pode, como podem muitas ruínas que por aí há e que se conseguem recuperar de forma exemplar; só é necessário haver vontade politica para acabar com esta destruição do património edificado do sec XIX em Lisboa; para alterar a Lei das rendas e actuar eficazmente na obrigação da conservação e reabilitação do património edificado.
Isto que se passa em Lisboa meus senhores, é no mínimo uma vergonha, para não chamar outra coisa.
Mais um edifício que chegou a este estado por teimosia em manter as rendas baixas. Quanto é que os seus inquilinos pagaram de rendas nos últimos 10? Como queriam que o proprietário mantivesse avultadas obras?
ResponderEliminarO que mais me entristece é ainda haver quem defenda leis tão perversas que obriguem as pessoas a degradar o seu património.
parece que nos últimos 10 anos os inquilinos pagaram 0 €, por vontade do proprietário - que deixou o prédio abandonado (ler texto).
ResponderEliminarDeixou o predio abandonado, porque o estado de degradação era tal, que já não dava para arrendar!!! Mas à 20 anos estava habitado e bastante degradado. Sempre me lembro de ver esse predio identico ao que está hoje.
ResponderEliminarclaro, há 20 anos estava igualzinho ao que estava agora (mesmo com as janelas abertas e o telhado destruído)
ResponderEliminarR.I.P. Arte Nova na cidade de Lisboa. Estaremos consigo até que o ultimo exemplar seja destrído e choraremos para sempre a perda de exemplares originais de uma arte arquitectónia Europeia.
ResponderEliminarExtremamente chocante a senhora demonstrar que "não se choca " com a destruição do prédio... Directora da casa Fernando Pessoa? :-O
ResponderEliminarQuanto a azulejos, podem passar pelo muro junto ao Pingo Doce da Lapa, ao Quelhas, onde era o instituto luso-fármaco. São do Sá Nogueira. Um dia destes, eram do Sá Nogueira...
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