In Público (23/9/2010)
Por Victor Ferreira
«Instituto de Ciências Sociais questionou 1504 residentes na capital sobre aspectos positivos e negativos da cidade. Diagnóstico está nas mãos da autarquia desde Dezembro de 2009
Micro versus macro
Uma cidade presa no trânsito, mas que não larga o carro próprio porque entende que o transporte público é mau. Uma cidade preocupada com as ruas sujas, a insegurança e com a oferta de habitação. Elites insatisfeitas com quase tudo menos no que toca à actividade cultural. Uma cidade cara, com construção a mais e sem condições para as pessoas com mobilidade reduzida. Bem-vindos à Lisboa do século XXI.
A fazer fé nos 1504 lisboetas ouvidos num inquérito realizado pelo Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, esta é a percepção que os residentes da capital têm sobre a sua cidade. Os resultados desse inquérito sugerem que, globalmente, a qualidade de vida de Lisboa é razoável, apesar das inúmeras preocupações e aspectos negativos que tiram brilho à percepção da realidade urbana.
O inquérito, cujos resultados o PÚBLICO divulga em primeira mão, foi realizado entre Maio e Julho do ano passado. Destinava-se a elucidar a Câmara de Lisboa sobre o diagnóstico que os lisboetas fazem da sua cidade. O relatório final, entregue em Dezembro de 2009 ao executivo de António Costa, é uma das partes do extenso dossier que a maioria socialista tem em mãos e do qual sobressai a proposta de um novo mapa de freguesias. Ao olharem para o futuro, a câmara quis saber o que pensam os eleitores sobre o presente. E a resposta, em muitos casos, não traz novidades.
Todos ou só os inquiridos?
Um dos problemas dos inquéritos é a extrapolação dos dados, só possível quando a amostra é representativa. A equipa que realizou o estudo sustenta que "houve evidentemente a preocupação de garantir" a representatividade da amostra e, como tal, alegam que há uma "considerável confiança" na extrapolação dos resultados para toda a cidade.
Ao avaliarem o grau de satisfação relativamente a aspectos da qualidade de vida em Lisboa, os inquiridos manifestaram a sua percepção face a 17 aspectos. Em nove dessas categorias, as opiniões negativas superam as positivas: preço e disponibilidade de habitação; estado do trânsito; oportunidades de emprego; estacionamento; qualidade do ar; ruído; segurança e policiamento; e, finalmente, a limpeza urbana. Pelo contrário, a existência de cafés/restaurantes/esplanadas, comércio e serviços são os únicos itens em que há uma maioria de gente satisfeita ou muito satisfeita.
Portagens para a cidade
Outros aspectos como transportes públicos, serviços de saúde, espaços verdes e locais para a prática desportiva acumularam mais respostas neutras, isto é, pessoas que disseram estar nem muito nem pouco satisfeitas, ou respostas de "não sabe/não responde".
O que fariam os lisboetas se houvesse uma taxa de cinco euros para andar na cidade? Mais de metade (52,9 por cento) dos 1504 residentes inquiridos respondeu que passaria a usar o transporte público. Porém, são poucos os que acreditam que a solução do tráfego passa por uma portagem urbana: apenas um em cada três acredita que uma taxa seja uma medida eficaz. A maioria defende, antes, três medidas: estacionamento gratuito na periferia; investimento nos transportes públicos na cidade e nos dos subúrbios. Contudo, 39,2 por cento destes residentes continuam a deslocar-se em viatura própria e boa parte destes até trabalham em Lisboa. A razão para apostar no carro é a má articulação da rede e os horários dos transportes públicos, resposta dada por 40,2 por cento. Além disso, consideram o transporte público lento (13,1 por cento) e sem conforto (12,5 por cento).
Este diagnóstico também tenta avaliar a cultura política e o envolvimento cívico. Do relatório emerge uma população alheada do associativismo, que se informa sobretudo pela televisão, pouco interessada em partidos e uma participação residual nas reuniões de órgãos autárquicos.»
analysis paralysis...
ResponderEliminarserá ainda preciso mias diagonósticos? isto já se sabia há 5, 10 anos... que tal passar à acção e resolver os problemas?
Sim. Nem precisavam de estudo: era ler este e outros blogs:)
ResponderEliminarDeixo uma pequena questão, cujas respostas indicam que tipo de de pais queremos. Para quem é mais fácil possuir uma habitação nova em Lisboa ? Um casal jovem com estudos superiores ? Ou um casal de raça cigana ?
ResponderEliminarNão vale a pena, este estudo vai cair em saco roto. A câmara não quer resolver os problemas, e ainda gasta dinheiro em propaganda para convencer os munícipes que a culpa é deles.
ResponderEliminarLimpar a cidade e criar estacionamento? não, isso continuam a achar que não é preciso
Ninguem se queixa dos pombos?
ResponderEliminarSó esta semana já esmaguei dois em baixo das rodas, e um deles quase que fugia.
Quando se vê isto e se lê aquilo com que a CML se preocupa pensa-se imediatamente na velha anedota de Cuba:
ResponderEliminarCuba resolveu três grandes problemas: a educação, a saúde e a igualdade. Agora, só tem três pequenos problemas por resolver: o pequeno-almoço, o almoço e o jantar.
Este executivo faz estudos a mais!
ResponderEliminar- O Plano Local de Habitação (até tem um inquérito deste tipo);
- A Carta Estratégica de Lisboa (também recolheu opiniões e sugestões);
- As reuniões descentralizadas;
- As propostas concorrentes ao Orçamento Participativo;
Ainda acaba o mandato e continuam nos estudos ...
Quanto ao facto das pessoas continuarem a andar de carro, nada vai mudar enquanto continuarem as medidas "porreiras, pá!!".
Se nem a crise reduz a utilização do automóvel, porque não uma portagem à entrada de Lisboa ou uma taxa de circulação?
Taxa de circulação e portagens já se pagam, e não diminuiram o transito pois não. Então esquece.
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