05/11/2010

'Graffiti' cobrem igrejas há semanas


In Diário de Notícias (5/11/2010)
por INÊS BANHA


«Sé e Mosteiro de São Vicente de Fora foram alvo de alegados grupos anarquistas. Lisboetas e turistas criticam


"Resorts, TGV, antenas de telecomunicação... O progresso é uma máquina de morte." Esta é apenas uma das várias frases que há semanas cobrem as fachadas da Sé Catedral de Lisboa e do Mosteiro de São Vicente de Fora, também em Lisboa. A Polícia de Segurança Pública (PSP) não esteve no local para averiguar sobre as pinturas, mas as letras garrafais têm provocado a indignação de turistas e lisboetas.

Não se sabe ao certo quando é que a fachada frontal da Sé de Lisboa foi vandalizada, mas Fábio e Shaahid, comerciantes num quiosque perto da igreja, dizem que tudo terá acontecido durante a noite, há pelo menos uma semana, talvez 15 dias. Ao DN, afirmaram, indignados, que "é uma vergonha" o que foi feito àquele monumento, propriedade do Patriar- cado de Lisboa. Com algum pesar, revelaram que os próprios turistas acabam, muitas vezes, por dar mais destaque nas suas fotografias às frases ali presentes do que ao próprio templo.

Não foi esse o caso do grupo de turistas irlandeses que o DN encontrou no local. Questionados sobre o que pensavam acerca das expressões patentes na fachada principal do mais antigo monumento religioso da cidade de Lisboa, expressaram veementemente o seu desagrado. "Desrespeitoso", "uma desgraça" foram as expressões que mais vezes repetiram, mesmo sem compreenderem as palavras grafitadas. Esclarecidos pelo DN acerca do significado das frases a preto (ver foto), consideraram os actos praticados "um ataque à fé das pessoas" .

Na realidade, numa tentativa de compreensão dos mesmos, referiram e criticaram o facto de "a Igreja ter sido atacada em todo o lado, de agora toda a gente atacar a Igreja". Só assim explicam que a instituição tenha sido associada ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e à expulsão de imigrantes.

Associação semelhante é visível um pouco por todas as paredes exteriores do Mosteiro de São Vicente de Fora, na Graça. À repetição da expressão patente na Sé Catedral de Lisboa, adiciona-se, na fachada principal do Mosteiro de São Vicente, a frase "a Igreja colabora na detenção de imigrantes". É também neste momento que surgem as principais críticas ao progresso - "Progresso = destruição ambiental e controlo social"- e às actuações da polícia - "Pela violência revolucionar. Polícia = Assassinos". Em muitas, está também presente o símbolo anarquista (ver foto).

Segundo uma funcionária do Patriarcado de Lisboa, sediado no Mosteiro de São Vicente de Fora, no caso do mosteiro as paredes terão sido vandalizadas há já pelo menos um mês. Porém, tal não significa que já todos tenham visto as frases patentes nas fachadas. Uma utente do Patriarcado, informada pela equipa do DN da existência das mesmas, não hesitou em expressar a sua indignação.

Também Pedro Gouveia, abordado pelo DN quando se encontrava na esplanada do Museu de São Vicente de Fora, foi peremptório em criticar o que classificou como "vandalismo puro", acrescentando que, "se toda a gente soubesse quanto custa manter monumentos, se calhar não os estragava". Até porque, recordou, todos nós pagamos os serviços de manutenção e recuperação dos monumentos históricos.

Fonte das relações públicas do Comando da PSP de Lisboa afirmou, contactada pelo DN, que não tem registo de qualquer ocorrência relacionada com a pintura dos graffitti na Sé de Lisboa e no Mosteiro de São Vicente de Fora, o que significa que aquela força de segurança não se deslocou a qualquer um daqueles edifícios religiosos. Este facto explica a dificuldade em se apurar a data exacta dos actos alegadamente praticados por anarquistas.

Todavia, para quem habitualmente frequenta a área da Sé Catedral, esta situação não surpreende. Fábio e Shaahid confidenciaram que aquele tipo de vandalismo é comum naquela zona, apontando para o quiosque em que trabalham, no qual são visíveis algumas palavras rabiscadas a tinta.

De facto, a própria equipa do DN pôde comprovar esta situação. No percurso realizado a pé nas imediações da Sé Catedral de Lisboa, foi possível verificar que já a Igreja de Santa Luzia, localizada a poucos metros, tinha sido alvo de actos semelhantes.

Isto porque, quer na fachada frontal quer na fachada lateral do edifício, são ainda visíveis algumas letras por baixo da camada de tinta branca entretanto aplicada.

O DN tentou, durante o dia de ontem, entrar em contacto com o Patriarcado de Lisboa, a fim de obter uma reacção ao vandalismo nos dois espaços. No entanto, tal não foi possível.»

7 comentários:

  1. no dia 28 de Setembro eu comuniquei a CML o facto, juntando umas fotos dos graffitis nas paredes de Sao Vicente de Fora. nesse mesmo dia o e-mail foi reenviado ao patriarcado. portanto o patriarcado ja sabe desde essa altura o que se passa. julgo que o tempo ja foi mais que suficiente para limpar as paredes....

    ja agora, a parede na rua que liga ao largo de santa clara tem graffitis com mais de que um ano...

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  2. Duvido muito que os turistas critiquem.

    Eles simplesmente adoram esta Lisboa, de completa bagunça.

    É só ver que Lisboa é constantemente recomendada como um must.

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  3. Há várias situações a serem equacionadas pelas autoridades competentes - IGESPAR e Patriarcado.
    O caso destes grafitos é inquestionável que se trata de laxismo e negligência das autoridades que parecem nada querer fazer contra o vandalismo. Mas eu pergunto-me o que está a ser feito pelo IGESPAR e pelo Patriarcado sobre o atentado ao portal lateral da Sé, ou o que foi feito quanto à substituição das janelas do Mosteiro de São Vicente de Fora por janelas de alumínio! Para que serve o IGESPAR? O que anda ele a fazer para proteger o património português. Veja-se o que está decrépito, abandonado no nosso país e veja-se como o IGESPAR fecha os olhos como se nada tivesse a ver com o caso. Se não tem serventia extinga-se, o que seria útil em momentos de contenção orçamental.

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  4. esta gente é cega?! os graffitis na fachada da Sé já lá estão pelo menos desde o dia 12 de Outubro. Foi nesse dia à noite que vi pela primeira vez os graffiti. Logo no dia seguinte escrevi à câmara a informar. Como é portanto possível este artigo dizer que os graffiti lá estão «há pelo menos 1 semana»???? Isto está tudo LOUCO e CEGO!

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  5. Apenas uma nota.
    Mesmo sem actos de vandalismo propriamente ditos, parece-me que o IGESPAR tem demasiadas pontas soltas com que lidar. Em Miróbriga, há coisa de um ano e meio, fiquei surpreendida por poder - literalmente - andar sobre as ruínas. Não havia placas, sinalização, pessoal, cordas, barreiras, o que fosse.
    O sítio estava deserto, era início de Setembro; sou estudante de arquitectura e fiquei fascinada por poder ver, espreitar, fotografar. Passaram-se uns bons vinte minutos de explorações por minha conta antes que um senhor - guarda? Sem identificação ou uniforme, em qualquer dos casos - viesse dar-me um berro para sair dali. Que aquela zona estava vedada ao público.
    Quando lhe perguntei o porquê, e lhe fiz ver que na prática não havia nada que me impedisse de estar ali, respondeu-me simplesmente que o IGESPAR não tinha verba para comprar corda.
    Reconheço que, tivesse havido bom senso da minha parte, não teria sequer sonhado em passar o que me pareceu instintivamente um limite. E passei o do vandalismo - andei ali. À falta de informação, com excesso de curiosidade.
    Na verdade, no Alentejo, as ruínas estão espalhadas como cogumelos, o mais das vezes ao Deus-dará. E mesmo as que são geridas pelo IGESPAR fazem pena - ou estão desertas ou, como São Cucufate, fecham ao fim-de-semana, nos dois dias de sete em que poderia haver visitantes.
    Os quê, três euros do bilhete da entrada nem devem ser suficientes para ajudar a pagar o salário da senhora da bilheteira, quanto mais cordas. E, nos entretantos, vândalos como eu - ou os que 'grafitam' e escrevem o que quer que achem que têm a dizer - vão deixando rasto. Tudo debaixo dos olhos dos senhores que deviam tomar conta.

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  6. È a badalhoquice normal numa das cidades mais imundas da Europa..nada de novo...é o deixa andar do país do faz de conta...

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  7. Todas as cidades da Europa são imundas. Há de tudo em todo o lado. Há sitios imundos e outros impecavelmente limpos. Em Lisboa tambem é assim. Logo Lisboa está dentro da media europeia.

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