31/12/2010

Crise dos "pequenos" ao lado dos novos luxos

In Jornal de Notícias (31/12/2010)
Por Cristiano Pereira


«A escassos metros do glamour da avenida, lojas tradicionais agonizam

Nas ruas paralelas à Avenida da Liberdade, em Lisboa, o comércio local já viveu dias melhores. Os pequenos comerciantes queixam-se das quebras no negócio. A culpa é da crise e da desertificação de uma zona que há décadas atrás "era um autêntico mercado".

Algumas das lojas mais luxuosas de Lisboa como a Prada, a Louis Vuitton, a Prada, ou a Dolce and Gabbana, entre outras, estão ali na Avenida da Liberdade, a escassos metros. Mas nas ruas de Santa Marta e de São José, os comerciantes vivem em sobressalto com a quebra no negócio que se acentua.

Todos os comerciantes ouvidos pelo JN recordam, com saudade, os tempos em que as vendas se faziam a um outro ritmo. "Isto foi muito jeitoso mas simplesmente saiu daqui muita gente", explica Alfredo Gonçalves, de 69 anos, dono da loja de têxteis Anisa. Na sua óptica, o volume de negócios começou a diminuir quando uma série de empresas optaram por sair daquela zona, levando os trabalhadores "que eram bons clientes". "Agora", lamenta, "só se vê gente jovem que já vem viciada nas grandes áreas comerciais como a Zara ou a Mango".

Escassos metros ao lado, Carlos Santos, de 52 anos, da mercearia Bijou De Santa Marta, recorda que quando ali chegou, há 38 anos, "o ambiente era muito diferente e havia muito mais gente". Depois, surgiram as cadeias de supermercados que começaram a prejudicar-lhe o negócio. "Os clientes chegam e compram-me duas cebolas ou meio quilo de batatas só porque se esqueceram de comprar num supermercado", relatou. "Os jovens não têm o hábito de vir à mercearia", garante.

Viver a balões de soro

"Estamos a viver a balões de soro", destaca, por seu turno, Maria de Lurdes, de 65 anos, dona da "Provelho", uma loja de antiguidades que tem sofrido com "a falta de poder de compra da população".

"Esta casa tem mais de 120 anos e eu trabalho aqui há 53", conta, com orgulho, o merceeiro José Manuel Oliveira. "Agora o negócio está mesmo mau", desabafa, referindo que só ali continua porque não consegue ficar parado em casa e porque "agora, com a crise, ninguém pega nestas casas a não ser os chineses que por aí andam".

Uns metros mais abaixo, a antiga loja de instrumentos Machado (que abriu em 1912) continua em funcionamento, ainda que com o nome do proprietário que a detém desde a década de 60. Vítor Silva lembra-se dos tempos em que a loja "era o prédio inteiro". Depois "começaram a fechar lojas". Agora, "as pessoas cada vez passam menos". "Até os Sheiks vinham cá comprar guitarras", recorda, com insdisfarçável nostalgia.»

3 comentários:

  1. Mas estes comerciantes querem que os jovens vistam roupa de 1920!!!!

    Se os jovens vestem roupa da zara e da mango têm bom remedio, vendam esse estilo de roupa tambem.

    É obvio que esse estilo de lojas vai desaparecer quando os velhos (unicos clientes que ainda têm) morrerem.

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  2. Quando numa zona a população diminui fortemente como é o caso de Lisboa, mas o numero de centros comerciais aumenta exponencialmente, as lojas mais pequenas não conseguem atrair clientes, e não é uma questão de preços nem de qualidade, é pura e simplesmente impossível para uma pequena loja fazer campanhas publicitarias e ter o mesmo "peso" que os centros comerciais, e as pessoas seguem muito a publicidade e o "conforto" de passar 3 horas a passear no ar condicionado.

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  3. A melhor publicidade que pode haver é um cliente bem servido.

    Isso dos centros comerciais são tretas. Conheço imensas lojas de rua que têm clientela simplesmente porque são atrativas.

    Lisboa é um cidade envelhecida o que significa que a maioria dos habitantes são velhos. E são precisamente os velhos que mais frequentam as lojas de rua e não os centros comerciais por isso.

    Há 10 anos para aí que eu não frequento os centros comerciais do Saldanha e não me parece que algum tenha ido à falencia.

    Vá à Rua de São José e veja se se sente atraido por aquelas lojas.

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