18/07/2011

Coretos buscam nova vida em Lisboa

In Diário de Notícias (18/7/2011)
Inês Banha


«Ar livre. Na cidade sobrevivem seis exemplares da estrutura que, no século XIX, revolucionou a sociabilidade urbana


Começaram por ser estruturas móveis, ainda no século XVIII, mas foi na segunda metade do século seguinte que os coretos ganharam popularidade e transformaram a sociabilidade da capital. Apenas seis chegaram aos dias de hoje, mas têm potencial para continuar a ser "um motor da cultura urbana", defende Pedro Bebiano Braga, autor de uma tese de mestrado em mobiliário urbano e do livro, em parceria com Eunice Relvas, Coretos em Lisboa: 1790- -1990, da Editorial Fragmentos. "Os coretos vão sobrevivendo sobretudo no Verão, mas podem ser, ainda hoje, um motor da cultura urbana", como o foram no século XIX, explica ao DN Pedro Bebiano Braga. Até porque, lembra o historiador, são estruturas que podem receber outro tipo de actividades para além da música, como teatro, workshops e marionetas.

Isto apesar de, nos dias que correm, a cultura urbana ser "muito individualizada", contrariamente ao que acontecia no século XIX "Nós hoje estamos no metro e vamos com os auscultadores nos ouvidos, a ouvir música. É completamente diferente de ir ao jardim com a família", como se fazia, justifica Pedro Bebiano Braga. Nessa altura, os coretos, contemporâneos da iluminação pública e dos quiosques, deram oportunidade aos lisboetas de sair à rua e assistir com frequência a concertos numa "verdadeira festa". "Havia quase sempre, à volta do coreto, quiosques" e "até se alugavam cadeiras" para os espectadores estarem confortáveis, conta.

Tábuas em risco de cair na Estrela O presidente da Junta de Freguesia da Lapa não se conforma. Em causa está a proibição, que vigora desde dia 6 deste mês, dos cidadãos acederem ao coreto do Jardim da Estrela. "A Câmara [Municipal de Lisboa] optou pelo mais fácil - fechar", acusa Nuno Ferro. Contactado pelo DN, José Sá Fernandes, vereador com o pelouro dos Espaços Verdes, frisou que prefere garantir a segurança das pessoas. "Aquilo são uma série de tábuas do tecto que estão a cair desde o Outjazz [evento musical que se realiza durante o Verão nos jardins de Lisboa]. Já lá se fizeram as comemorações do Dia da Criança e nada se fez para pregar as tábuas. E agora optou-se pela lógica mais fácil, que é fechar", queixa-se o presidente da junta.

Por enquanto, ainda não se sabe quando é que a estrutura ficará reparada, embora Sá Fernandes deseje que séja"rapidamente". Certo é que, no ultimo sábado, já tinham sido montados andaimes no interior do mais antigo coreto da capital, o que parece indiciar que a solução está para breve.

Coreto da Estrela nasceu na Avenida da Liberdade

Construído originalmente na Avenida da Liberdade, em 1894, é o coreto mais antigo de Lisboa e custou quase 6,5 milhões de réis. Mudou de localização por razões acústicas, já que a intensificação do tráfego automóvel, no início da década de 1930, tornou impossível ouvir os concertos que nele aconteciam. A inauguração aconteceu a 25 de Outubro de 1936, com a banda da GNR.

Madeira queimada no dia inaugural deu lugar a pedra

Originalmente de madeira, o coreto da Praça da Viscondessa dos Olivais foi mais tarde reconstruído de pedra, devido a um incêndio no dia da inauguração, a 9 de Agosto de 1896. A culpa foi de um candeeiro a petróleo que queimou a corda pela qual estava pendurado e derramou petróleo sobre o palco. O balanço final foi um coreto chamuscado e apenas quatro instrumentos salvos.

Ciclone arrancou cúpula e fez crer que aquela nunca existira

Inaugurado em simultâneo com a linha do eléctrico número 13, a 14 de Abril de 1929, nasceu por iniciativa da Sociedade União Operária de Carnide. Em Fevereiro de 1941, um ciclone arrancou-lhe a cúpula. Passaram mais de 50 anos até que fosse substituída, o que levou carnidenses e visitantes a duvidar de que alguma vez tivesse existido. Hoje em dia, já tem uma cobertura.

Exemplar do Jardim Zoológico foi uma oferta de Oeiras

Foi uma oferta, em 1988, da Câmara de Oeiras e a sua estrutura é uma réplica da do coreto de Porto Salvo, naquele concelho. Pensado pelo engenheiro Guilherme Costa, tem uma base revestida com oito painéis de azulejos decorados com imagens de animais selvagens. Perto dele nasceu, em 1938, um outro, em formato reduzido, dedicado a um público infantil.

Uma cobertura de plátanos e oliveiras

Da autoria do engenheiro agrónomo P. Fontes, nasceu, no Beato, sem cúpula artificial. Em alternativa, foram plantados em seu redor vários plátanos e oliveiras - uma cobertura natural. Actualmente, quase ninguém reconhece nele um coreto, servindo para as crianças brincarem. Foi inaugurado a 13 de Julho de 1958.

Em obras após ser 'abandonado'

Com o desenho de Alexandre Soares, aprovado em Dezembro de 1912, o coreto da Praça José Fontana teve um orçamento de 1490 réis. No final da década de 1950, sofreu uma remodelação profunda no interior da sua base, com a escada em caracol de acesso ao palco, que passou para o exterior, a dar lugar a uma arrecadação e a casas-de-banho. Beneficia agora de obras de manutenção, após ter sido votado ao abandono. »

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