18/07/2011

Propuseram reabilitar cidades, o júri gostou e declarou-os vencedores


Cláudia Carvalho Diogo Coutinho, Angélica Carvalho e José Paixão.
Propuseram reabilitar cidades, o júri gostou e declarou-os vencedores A primeira edição, dedicada a Diogo Vasconcelos, premeia com 50 mil euros o projecto
Reabilitar a Custo Zero, que deverá ser posto em prática já em Outubro. O concurso será bienal

Uma ideia. Qualquer projecto começa com uma ideia que é depois trabalhada, organizada, planeada. Há uns meses, foi assim para o arquitecto José Paixão, de 27 anos, a viver em Viena, na Áustria. Quando soube do concurso FAZ — Ideias de Origem Portuguesa, iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Talento, juntouse a Diogo Coutinho, engenheiro civil, e a Angélica Carvalho, futura arquitecta. Em conjunto, criaram o projecto Reabilitação a Custo Zero. A pensar nos prédios degradados na cidade do Porto, de onde são naturais, reflectiram sobre o que poderiam fazer para mudar a situação. Tiveram uma ideia e foram premiados por ela. Ganharam 50 mil euros para a pôr em prática.

PEDRO CUNHA Desde o início, a equipa teve algumas esperanças de se destacar, primeiro entre 209 candidaturas, e, no fim, entre dez finalistas. “Estávamos na expectativa, trabalhámos muito e tínhamos consciência de que o nosso trabalho tinha qualidade e potencial”, diz ao P2 José Paixão, mostrando-se cheio de vontade de começar a pôr o projecto em prática. “Já estamos a trabalhar nesse sentido.”

O projecto tem por base a criação de uma organização sem fins lucrativos para reabilitar as cidades a custo zero, através da ajuda de estudantes de Engenharia e de Arquitectura, não só de Portugal, mas de toda a Europa, que poderão voluntariar-se – uma ideia inspirada nos programas de mobilidade estudantil como o Erasmus.

O júri — presidido por João Caraça, director do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian, e composto por Daniel Bessa, director-geral da COTEC – Agência Empresarial para a Inovação, Diogo Vasconcelos (recentemente falecido), da CISCO, Isabel Almeida Rodrigues, da Heidrick & Struggles, Luísa Schmidt, investigadora, e Simone Duarte, directora-executiva do PÚBLICO Online — destacou, em comunicado, que este é o projecto que “melhor cumpre os desígnios desta iniciativa, com base nos critérios de originalidade, inovação, potencial de impacto social e sustentabilidade”.

Para Luísa Valle, directora do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, o concurso superou as expectativas, mostrando que Portugal tem talento e pode tornar-se num país melhor, através das relações entre “nós cá e os nossos portugueses lá fora”.
“Portugal é cada vez menos o rectângulo e cada vez mais o mundo. Não podemos permitir o divórcio com os portugueses no estrangeiro e a melhor forma de evitar isto é trabalhar com eles”, explicou a responsável, contando que desde que as ideias foram tornadas públicas, são muitos os interessados que querem apoiar e saber mais. “ Reabilitação a Custo Zero foi o projecto vencedor mas os outros nove finalistas também já venceram. As outras ideias que não chegaram aqui são os futuros vencedores.” Luísa Valle revelou que muitos dos outros projectos vão contar com o apoio da Gulbenkian para que se concretizem.

Entretanto, há privados que têm manifestado interesse em participar, revela José Paixão. Quando a sua ideia foi publicada no P2, ainda não a tinha apresentado à Universidade do Porto, mas também não foi preciso. A própria instituição não perdeu tempo e contactou os jovens. “Uma empresa de construção civil também já se mostrou interessada em apoiarnos” e a autarquia também não quis ficar de fora. “Estamos a formalizar agora uma parceria e se tudo correr bem, em Outubro, arrancamos já com um projecto-piloto. Um edifício na Ribeira do Porto”, conta o arquitecto, revelando que com isto vai voltar para Portugal. “Estamos mesmo dedicados ao projecto, estamos a fazer os contactos não só com empresas e instituições como com as universidades lá fora. Acreditamos que para o projecto se tornar universal tem que ser bem sucedido no Porto.”

Luísa Valle não tem dúvidas de que o projecto, que representa também uma oportunidade para os jovens estudantes da área ganharem alguma prática e aprenderem, seguirá em frente. “É preciso perceber que tudo depende de nós e acreditarmos que conseguimos, é preciso participar na mudança e estes jovens entendem isto muito bem e estão cheios de vontade.”

O sucesso e o interesse gerado foi tanto que o concurso vai voltar. Vai tornar-se numa iniciativa bienal. “Pretendemos dar um melhor acompanhamento e ajudar mesmo os projectos que não venceram de forma a que consigam implementarse no terreno, dando-os a conhecer a potenciais financiadores e investidores”, acrescenta a responsável.

A edição deste ano foi dedicada a Diogo Vasconcelos, consultor da Gulbenkian e membro do júri, que “representava o espírito de inovação e empreendedorismo”.
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A 12 de Março de 2011 escrevia eu no Público ( Que Parvos que nós Somos ?!? ) ...
“Teremos então que esperar mais 15 anos até esta “geração Deolinda” volte a Portugal, estimulada, criativa e liberta da “canga” do derrotismo e passividade e comece a actuar e a exigir da classe política os resultados prometidos quando da sua eleição ?”
Parece que não ... Aqui temos os primeiros sinais de um possivel retorno de uma geração mais exigente, mais empreendedora e usufruindo da dialéctica de comparação construtiva com uma outra Europa ...
Esperemos que consigam abalar os “Status Quo” estabelecido há décadas entre Mundo Universitário, Ordem dos Arquitectos e Autarcas-Políticos .... ou que sejam os primeiros de muitos ... I Wonder .... Desejo-lhes ... de qualquer maneira ... muito Sucesso ... e para isso, muita Perseverança ... Bem Hajam !
António Sérgio Rosa de Carvalho

3 comentários:

  1. Desejo-lhes o maior sucesso... mas lamento desconfiar muito de tudo o que é anunciado a custo zero...

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  2. Gostei de tudo até ler que alguns destes prédios servirão para como habitação social.
    Queremos ter gente das barracas, que muitas vezes não se sabem comportar e que destróiem os bairros sociais para eles construídos, a viver nos centros das nossas cidades???

    Acho que basta ficarem pelos casais jovens. Já seria excelente. Ou então simplesmente manter estas rendas a preços baixos sem recorrer à habitação social.

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  3. li e voltei a ler, e já tinha lido, e continuo sem saber o que o projecto pretende fazer a custo zero. por isso vaticino, sem ironia, que isto não vai dar nada.

    uma coisa é ter estagiários a trabalhar a custo zero, outra é ter tijolos a custo zero. por isso jeeves, confesso que não percebo esta dialéctica...

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