28/10/2011

Tela histórica transportada sem cuidados

In Sol (28/10/2011)
Por Margarida Davim


«Obra foi manuseada sem luvas. Museu da Cidade não tem verba para transporte especial


Sem luvas, sem caixa, numa vulgar carrinha da Câmara de Lisboa. Foi assim que foi transportada a obra O Sufrágio, para ser devolvida ao Museu da Cidade de onde tinha saído para o Salão Nobre dos Paços do Concelho para as comemorações do centenário da República.

O quadro a óleo do pintor José Veloso Salgado, que representa a primeira vereação republicana eleita para a autarquia lisboeta, é considerada uma peça chave para a História da cidade, mas as dificuldades financeiras fizeram com que o seu transporte não seguisse as regras habituais.

«Não temos verba para um transporte especializado», admite ao SOL a directora do Museu da Cidade, Ana Cristina Leite, que também não tem orçamento suficiente para encomendar caixas para uma obra com as dimensões da tela de José Veloso Salgado. De resto, a directora assume que muitas das obras do Museu não têm caixas: «Quadros como O Fado de José Malhoa ou o Fernando Pessoa do Almada Negreiros têm caixas, mas infelizmente não temos caixas para todas as telas».

Ana Cristina Leite ficou «chocada» por saber que a tela foi manuseada pelos funcionários da autarquia sem luvas, mas assegura que o transporte foi supervisionado por um técnico do museu. «Deviam ter sido usadas luvas, mas sabemos que às vezes é difícil convencer os funcionários a fazè-lo, porque eles alegam sempre que perdem sensibilidade ao transportar peças tão grandes».

A tela de grandes dimensões acabou por ser levada entre cobertores, presa por fivelas à caixa da carrinha da Câmara. Uma situação que se repete, quando obras do Museu da Cidade são requisitadas para empréstimos. «Como a autarquia tem esta frota, acaba por ser assim que se faz o transporte».

A responsável garante, porém, que «o quadro foi limpo depois de chegar ao museu e está em perfeitas condições». Só a moldura teve de ser restaurada, uma vez que foi desmontada para poder passar pelas portas durante o transporte.

Para António Rosa de Carvalho, especialista em História, é «absolutamente inaceitável» a forma como uma peça tão importante para a cidade foi acondicionada. Na sua opinião, seria essencial usar uma caixa especial de transporte «para garantir a estabilidade física da obra», assegurar que a tela não estaria exposta a mais de «18 graus centígrados e 55 a 58% de humidade» e ser «sempre manuseada com luvas».

Símbolo da República

O quadro O Sufrágio é um dos símbolos da implantação da República. Foi encomendado pela Câmara de Lisboa em 1912 para substituir uma tela que ficou completamente destruída durante um incêndio no piso nobre dos Paços do Concelho, dois anos antes.

José Veloso Salgado, pintor de origem espanhola naturalizado português, recebeu dois contos de reis pelo quadro que retraía a primeira vitória nas urnas do Partido Republicano (em 1908) e onde constam figuras como Manuel de Arriaga, António José de Almeida, Teófilo Braga e Afonso Costa.»

5 comentários:

  1. Tendo em conta a forma como é apregada a nossa República, sobretudo em sectores de esquerda cujos avós de muitos faziam parte desse movimento à cem anos atrás, não acham irónico celebrarem assim o centenário (+1) da implantação da República?

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  2. Hummm.....não é só falta de caixa, é também aclimatização de alguns dias DENTRO da caixa....especialmente no novo local.

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  3. Ana Filipa Gonçalves9:00 da tarde

    desculpem, alguma das pessoas verificou o estado em que está o quadro? está em perfeitas condições, isto dito porque já o vi após este transporte.
    Claro que não se desculpa a falta de cuidado numa situação destas, mas a realidade é que um quadro com a dimensão do sufrágio teria deter uma caixa bastante grande, e não haverá verbas para isso, quanto às pessoas que fazem este tipo de trabalho, são pessoas que antes de eu nascer já faziam esta actividade, e sabem o que fazem.

    Penso que é muito fácil fazer notícias assim, mas devo dizer que nem sempre o que parece é.

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  4. Desculpe lá Ana Filipa mas se só viu o quadro a olho nu....não verificou muito sobre o estado do mesmo.
    Quanto a obras importantes, se não há dinheiro para as transportar devidamente....está-se quieto. Isso sim seria uma atitude bem profissional de qualquer museu que se preze.

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  5. E visto que não a verbas para o transporte em condições, porque não deixarem o quadro no museu...

    Parece tão simples

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