11/11/2011

Palácio histórico voltado para o futuro

In Sol (11/11/2011)
Por Fernanda Pedro

«O Palácio dos Condes de Murça, em Santos-o-Velho, vai tomar-se um condomínio residencial de luxo. Os arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valssassina são os responsáveis pelo projecto de reabilitação deste palácio do século XVI

Mais um edifício histórico da capital portuguesa vai ser reabilitado. Desta vez é o Palácio dos Condes de Murça, situado na Rua de Santos-o-Velho, junto à Lapa. Um imóvel histórico que remonta ao século XVI e que além de servir de habitação aos Condes de Murça, passou a funcionar como a Escola Industrial de Fonseca Benevides a partir de 1914. No século XXI passará a ser o condomínio Palácio Condes de Murça, composto por 24 apartamentos com tipologias entre T1 e T6. Destes, 19 estarão no edifício do jardim e cinco no interior do palácio.

Os responsáveis por este projecto de reabilitação são os arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina. A junção entre o antigo e o moderno, entre o passado e presente, está bem marcada em todo o programa arquitectónico. O arquitecto Manuel Aires Mateus refere mesmo que «uma intervenção, um projecto, deve pôr em evidência os valores encontrados lendo, seleccionando, e sublinhando um legado do tempo e da história. No projecto de recuperação do Palácio Condes de Murça, o contexto é o centro Histórico, nobre, da cidade de Lisboa, junto ao rio Tejo, um lugar de continuidades urbanas densas, pontuadas por edifícios notáveis: palácios, conventos e igrejas. O edifício, monumental, tem a sobriedade da nossa história e o projecto assenta na sua continuidade».


Investimento de 18,5 milhões

A renovação do Palácio dos Condes de Murça, é promovida pela ESRU II e a LISBON URBAN, e envolve várias entidades, como a ESAF, na gestão dos fundos imobiliários e a AFA Consulta, no decorrer do projeto. A fiscalização está a cargo da Kerpro, e a gestão imobiliária com a Artepura. Já a Corpogest, está na coordenação e a Concreto Plano, como gestor empreiteiro. O investimento para esta obra está previsto em cerca de 18,5 milhões de euros.

«Este projecto é misto, uma vez que se trata, por um lado, de uma requalificação de um antigo palácio e, por outro, do reaproveitamento do espaço do jardim e das construções obsoletas que lá estavam. Houve uma grande preocupação em manter a traça do antigo Palácio dos Condes de Murça, que tem pormenores únicos, mas ao mesmo tempo dar-lhe uma vivência contemporânea e dotá-lo de todo o conforto, num projecto de topo», refere Francisco Sottomayor, director de promoção da CB Richard Ellis, uma das empresas responsáveis pela comercialização.

Neste processo de transformação da funcionalidade, o responsável revela que foi necessário dotar o edifício de estacionamento, de todas as instalações técnicas de grande qualidade e de repensar as funções dos vários espaços. Diogo Jardim, responsável da Artepura - empresa que gere e promove investimentos imobiliários na área da reabilitação urbana residencial de qualidade, em Portugal e no Estrangeiro - explica as maiores dificuldades sentidas. «O mais difícil foi, sem dúvida, o equilíbrio alcançado entre a reabilitação de um antigo palácio e da moderna construção realizada no jardim. Os arquitectos conseguiram recuperar um palácio mantendo toda a herança histórica que o mesmo transporta, ao mesmo tempo que criavam no seu jardim um 'muro habitado'. Se o antigo edifício nos criou a dificuldade de o adaptar aos tempos actuais, conferindo-lhe a qualidade e a modernidade que hoje são exigidas, a nova construção teve o desafio de o complementar com uma arquitectura moderna, um projecto carregado de história». Diogo Jardim realça ainda a abertura e a colaboração das duas entidades, IGESPAR e Câmara Municipal de Lisboa.

De acordo com Francisco Sottomayor, não se trata apenas de reparar o edifício, mas sim de o alterar na medida do necessário para que este seja dotado das funcionalidades, níveis de conforto e de eficiência dos edifícios construídos actualmente de raiz para uma mesma função.


Luxo vende melhor

Já Frederico Mendoça, director do departamento residencial da Abacus Savills, outra das consultoras responsável pela comercialização do empreendimento, salienta o facto de que este projecto, sendo um produto de luxo, tem mais viabilidade comercial. «Ê um mercado que, apesar de tudo, está menos exposto aos climas económicos desfavoráveis, pelo que quando as oportunidades são identificadas, trata-se essencialmente de uma decisão ao nível do foro pessoal e não tanto do financeiro. Pensamos que neste caso em concreto, temos o essencial, que é um produto único, por isso consideramos que o mercado irá responder positivamente», conclui. »

4 comentários:

  1. Já por ali passei e fiquei incrédulo com o que por aqui chamam a construção no jardim...

    Trata-se ao que parece de apartamentos virados para as traseiras do tal palácio, existindo agora um beco absolutamente estapafúrdio que dá para a rua S. João da Mata.

    ResponderEliminar
  2. "Os arquitectos conseguiram recuperar um palácio mantendo toda a herança histórica..."

    Gostaria de ver....para crer!

    ResponderEliminar
  3. E haverá ainda gente para habitar tanto condominio de luxo? Acho positiva a recuperação do Património e se bem me parece do Palácio só deve haver fachada, trabalhei naquela zona entre 1980 e 1993 e já o edificio estava devoluto e em ruina, exceptuando 3lojas e uma agência bancária no piso terreo.Nesta altura de constrangimento económico muito me alegra ainda haver gente com dinheiro para adquirir condomínios de luxo.

    ResponderEliminar
  4. Reabilitação? Usar esta palavra para vender mais do mesmo pelo grupo que domina o regime e a CML, destruindo zonas históricas, atulhando-as com novos ricos
    que se soubessem o que é luxo, nunca aceitariam esta densidade gananciosa deste empreendimento. Ui! Quando será que este povo evolui. Não poderiam ter utilizado o antigo palácio para outra função, menos destruidora, por exemplo para empresas ou associações profissionais? Provávelmente não seria tão rentável, mas seria mais útil para a cidade e para a zona em questão, não sendo necessário se calhar a destruição do jardim. Também seria menos arriscado económicamente.

    ResponderEliminar