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04/12/2011
Chelas: o que era novo e moderno ignorou as pessoas
A urbanização social das Amendoeiras faz parte dos "bairros-ilha" de Chelas
Com a edificação do Hospital Oriental de Lisboa em Chelas quer-se promover a coesão social no território, que foi um falhanço urbanístico. Pôr gente nas ruas que foram feitas para carros pode ser tarefa impossível
Por Carlos Filipe in Público
Diz-se que a culpa é da Carta de Atenas e que dos seus princípios gerais enferma ainda o urbanismo de Chelas, um território feito de ilhas, onde as relações de vizinhança são difíceis. Quase 50 anos depois do plano que o definiu, um outro está em elaboração, com o qual se pretende dar-lhe coesão e diversidade funcional. Mas será que a construção de um grande hospital ajudará a corrigir tantos erros grosseiros na concepção de cidade?
Especialistas de arquitectura e urbanismo ouvidos pelo PÚBLICO apontam os erros e o futuro da missão: se para um é impossível, para outro ainda há remédio, mas a cura será longa.
A Carta de Atenas foi um documento de compromisso, redigido em 1933 por arquitectos e urbanistas internacionais, entre os quais se destaca Le Corbusier. Surgiu após a conclusão do Congresso de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos, realizado na capital grega, dois anos antes. Aqueles princípios serviram de guia urbanístico e como inspiração para a arquitectura contemporânea - seria suprimido o conhecido traçado das cidades, então com ruas e quadras, para se implantar um zoneamento selectivo, uma divisão de áreas funcionais: habitação, trabalho, circulação, lazer.
António Sérgio Rosa de Carvalho, historiador de arquitectura, enfatiza no que diz ser o fulcro da questão: "Abdica-se de dois elementos fundamentais para a constituição de uma cidade: a rua-corredor, elemento integrador e das vivências do quotidiano (residencial/comercial/contactar/movimentar/trabalhar) e a praça-fórum, mais dirigida à vivência institucionalizada (mercado/reuniões/edifícios públicos/monumentos."
Pensada e não acabada
A urbanização de Chelas teve as suas origens no início dos anos de 1960 após estudos do então chamado Gabinete Técnico de Habitação da Câmara de Lisboa. Estimava-se então que estivesse concluída em 2000. Foi pensada para acolher operários e trabalhadores da função pública, como aconteceu com Alvalade e Olivais, mas o plano não correu bem, fosse pela dificuldade de aquisição ou expropriação de terrenos, fosse pela agitação social e o fenómeno das ocupações em 1975. E ainda eclodiu a necessidade de alojar cidadãos oriundos das ex-colónias, e outros pelo início da erradicação dos bairros de barracas. Curraleira, em 2001, foi o último exemplo. A zona polarizou-se em bairros-ilha, sendo os principais Amendoeiras/Olival, Armador, Condado, Flamenga e Lóios.
Com o advento da Expo-98, o território fragmentou-se ainda mais com a multiplicação das vias rápidas de acesso ao Parque das Nações. Cortaram-se as ligações e os habitantes ficaram mais afastados das zonas de comércio e serviços. O cenário verde e idílico que a orografia e o sistema de vales propiciava ficou comprometido. "Criaram-se grandes distâncias a percorrer, com as conhecidas dependências de transporte individual e colectivo, com consequências para a qualidade de vida e ambiental", nota o historiador.
António Baptista Coelho, do Núcleo de Arquitectura e Urbanismo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), assume-se um "passeante inveterado que em Chelas não encontra o seu sítio - provavelmente poucas pessoas o encontrarão." "É preciso ter a ideia de que ali se tentou fazer novo e fazer melhor, mas talvez já tivesse havido tempo de se perceber que não resultou, mas que é um sítio fantástico, com exposição solar e vistas privilegiadas", salienta o arquitecto, que lamenta tal exercício urbanístico, quando comparado com outro, anterior no tempo: "Uma das malhas urbanas mais humanizadas e naturalizadas de Lisboa e de Portugal é a de Olivais-Norte/Encarnação, onde há um percurso agradável no verde, acompanhado por vistas de janelas, uma zona pedonal que não inibe uma funcionalidade adequada dos veículos e que se integra na perfeição com actividades comerciais e cívicas, bem servido de transportes, e tudo bem desenhado, o que é fundamental."
O também editor da revista/blogue Infohabitar acrescenta: "Foram edifícios e espaços públicos feitos nos anos 60, mas com a sabedoria da relação com o movimento aparente do Sol. O que ali aconteceu foi ter-se feito cidade com habitação. Ainda hoje, em Chelas, estas condições não existem, pois foi feita muito para o automóvel, quando hoje as cidades estão a ser recuperadas para a pessoa, para o peão."
Para Rosa de Carvalho, "a causa do desastre de Chelas, como cidade-dormitório, radica na raiz da sua concepção errada, constituindo um laboratório de experiências sociais onde as principais vítimas são as pessoas." O historiador vai mais longe: "Este tipo de falhanços urbanísticos já começaram a ser demolidos pela Europa."
Cidade em Alvalade
Dos Olivais também aponta ter sido um bom exemplo, mas de Alvalade [do arquitecto Faria da Costa] Rosa de Carvalho afiança ter sido tão bom ou melhor, destacando a Av. da Igreja, "uma verdadeira cidade": "Tem qualidades multifuncionais, humanas, resultantes de uma escala, composição urbana (boa arquitectura em tipologia e materiais/máximo de quatro andares)".
Por que razão falhou Chelas? "Talvez porque na altura haveria uma ideia de modernidade, que tinha que ver com aspectos até políticos, talvez porque não se conseguiu ter adequado discernimento relativamente a conjuntos ali ao lado bem conseguidos em termos habitacionais e urbanos - Alvalade, ainda um exemplo de escala e humanização, Olivais Norte, onde se fizeram pela primeira vez em Portugal, os edifícios no meio do verde e dos jardins, e certas zonas de Olivais Sul", explica o investigador do LNEC.
"O zonamento monofuncional de Chelas, de arquitectura baseada em modelos (escala-tipologias-materiais) errados, exercendo um efeito perverso no campo sociológico, foi ainda agravado pela falta de contacto com o exterior até aos anos 90, transformando as suas cinco ilhas isoladas num baldio", esclarece, por seu lado, o historiador.
Mas o plano com o hospital pode ser remédio? "A única tentativa que pode ser feita (missão quase impossível) é tratar cada uma das zonas independentemente, e desenvolver em cada uma delas, uma aproximação a uma pequena cidade - ruas, comércio, praças, centros cívicos, pontos de referência e identidade", diz Rosa de Carvalho.
António Baptista Coelho adverte que há em Chelas "excelentes peças de arquitectura habitacional". E cita o arquitecto Manuel Taínha, na revista Arquitectura e Vida, de Março 2000:" É mais do que tempo para regenerar, reabilitar, reconverter, preencher e requalificar Chelas, e, quem sabe, o tempo que passou nos permita fazer ali uma intervenção tão sensível e adequada, como estruturalmente reabilitadora da realidade que ali se vive."
A integração de equipamentos hospitalares em Chelas, admite, só "poderá ajudar a "desenclavar" o bairro (que hoje ainda o não é), mas é evidente que o que se foi fazendo mal ao longo de decénios não será remediado em meia dúzia de anos". No entanto, conclui, "é possível privilegiar e é vital calendarizar medidas e opções que atribuam a Chelas um sentido de vivência urbana e humana".
Só um idiota é que planeia um bairro com base numa carta e que ainda por cima está ultrapassada.
ResponderEliminarChelas é mesmo um falhanço urbanistimo, fez-se ilhas de bairros bairros com um sobredimensionamento incrivel de estradas à volta. parece que o objectivo foi segregar população e destruir a maior área possivel de solo.
Não se iludam...o hospital vai ser mais uma ilhota no meio de tantas! Temos de parar com esta politica de substituição. Tirar de um lado para por no outro, é ridículo e ruinoso para as nossas carteiras!
ResponderEliminarDe qualquer maneira fico contente que finalmente chega por cá um pouco de reflexão sobre estas áreas urbanas planeadas na total indiferença pelo ser humano, visto que arquitectos e urbanistas parecem estar mais preocupados com decoração e design.
No entanto quanto tempo levaremos para perceber que o problema não está limitado a Chelas e aos bairros sociais? O problema está também, e sobretudo, nas outras ilhotas de classe media e alta espalhadas em torno às cidades onde quase toda a gente se transferiu com as mais variadas desculpas- segurança, acessibilidade, ar puro, verde, etc. Entretanto as cidades portuguesas vão morrendo e espanta qualquer estrangeiro que cá vem.
O Porto é exemplo disso. É deprimente ver uma cidade que em pleno seculo XXI não consiga inverter a situação de total abandono.
Chelas tem pouco de carta de Atenas, só mesmo a monofuncionalidade. Exemplo da Carta de Atenas são os Olivais Norte. Os Olivais Sul tem forte influência também, mas com a correcção de alguns erros, aproximandodo-se mais das "new towns" inglesas.
ResponderEliminarLá por Chelas ter uma ou outra característica parcial da Carta de Atenas, não pode ser usada como bom ou mau exemplo da carta em questão.
Muito gostam as pessoas de falar mal de Chelas...e sem razão ainda por cima! É engraçado que só fala mal de Chelas quem não vive na zona senão viam que é dos melhores sitios de Lisboa para se viver.
ResponderEliminarDepois vai-se inquirir as pessoas que moram em Chelas e quase todas gostam da zona, as queixas que há vêm sempre do barulho que os vizinhos fazem, e isso nada tem a ver com o urbanismo do bairro, tem a ver com a falta de civismo de alguns que lá vivem, principalmente os de etnia cigana que não respeitam as restantes raças, precisamente o que acontece em todos os outros sitios de Portugal em que há mistura de ciganos com outras raças.
A outra queixa é a ausencia de comércio no Bº da Flamenga que por acaso até é um bairro de 1996. Em 1960 só lá havia barracas e hortas e baldios.
Ou seja nada tem a ver com o tipo de urbanismo.
O unico erro que eu aponto a Chelas é terem feito os R/C de habitação na Flamenga em vez de terem feito lojas, o que obriga a uma constante ida ao centro comercial da Bela Vista ou ao Bº dos Lóios ou a Alvalade à Av D. Rodrigo da Cunha para ir ao café ou à papelaria ou ás compras.
Chelas é identico ao Restelo em urbanismo, falem mal do Restelo vá...à pois, dos bairros dos ricos é proibido falar mal...
As torres do Restelo são identicas à Zona J em urbanismo, os predios da EPUL do Restelo são identicos ao Bº da Flamenga...no entanto ninguem fala mal!!!
Um conselho que eu dou...não venham com mariquices de mudar Chelas porque os residentes de Chelas gostam da zona como está.
As acessibilidades à Expo 98 foi precisamente o melhor que Chelas conquistou nos ultimos 15 anos, hoje está plenamente integrada na cidade, antes é que não estava.
O titulo é mentiroso. É mentira que as pessoas de Chelas tenham sido ignoradas, a maioria dos bairros até está em bom estado de conservação, e o que não está, é culpa de quem neles habita, que é precisamente quem estraga. Ex: os interiores de alguns edificios remodelados pelo Santana Lopes na Zona J que estão com as paredes e chão todo sujo porque os próprios moradores são porcos. Aliás nalguns lotes até foram postos papeis na escada pelos vizinhos a pedir para outros vizinhos não atirarem sacos do lixo pela janela nem deixarem os cães fazer cocó na escada, elevadores e varandas dos edificios. Os lotes 528 e 530 são disso exemplo.
ResponderEliminarxico comenta os transportes e deixa-te de temas que não percebes puto. da próxima evita deixar uma imagem de ignorância...
ResponderEliminarclaro que a maioria das pessoas gostam do bairro que onde sempre viveram, ou encontraram melhores condições do que barracas. vais lá perguntar aos habitantes da cova da moura e muitos dizem que também gostam do bairro porque o conhecem desde sempre, sentem-se protegidos lá.
chelas é uma segregação das pessoas em bairros ilha longe da cidade consolidade e com "autoestradas" entre eles.
os exemplos ~concretos que deste são de arquitectura limpeza e não de urbanismo (claro que não pois não percebes nada diso)
comparar com o restelo é um argumento fraco são sitios diferentes de classes diferentes e de áreas diferentes. no teu comentário parece que chelas é boa porque o restelo norte é igual a chelas em urbanismo. que LOL
Aguardo aprovação dos meus dois comentarios de resposta.
ResponderEliminarContinuo à espera!
ResponderEliminarse o cavalheiro das 9:25 não percebeu o que leu aprovem-me os comentarios (já vão 3 em espera)...
ResponderEliminarSe não têm tempo nem descerenimento para selecionar comentarios metam esta porcaria automatica.