22/01/2012

Como um frigorifico iluminado de porta escancarada num salão ... por António Sérgio Rosa de Carvalho





O Chiado está em transformação determinada por ciclos económicos e sociológicos …Outrora Zona Chic de Comércio de Alta Qualidade e de Identidade Local em dialéctica permanente com sinergias Literárias e Culturais … Zona de Cafés e Clubes … de Tertúlias e compras Bon Chic Bon Genre … está agora a substituir esta Identidade Centenária por um novo ciclo comercial conduzido por cadeias internacionais dispostas a pagar quantias altíssimas por alugueres.
São as “leis do mercado”dirão muitos … e é verdade que a dinâmica financeira da Oferta-Procura-Oferta determina as transformações …
No entanto, em todas as Cidades Europeias existem Zonas onde estão situados estabelecimentos de valor Patrimonial-Arquitectónico insubstituível, e que precisamente, no seu conjunto, garantem e contribuem para o Carácter e Identidade - Prestigio que definem a Zona e o seu Valor Comercial.
Ora … é aqui que entra como factor determinante o conceito de uma Visão Estratégica, aquilo que se chama Internacionalmente , Urbanismo Comercial.
Não se trata de substituir ou apropriar-se das sinergias comerciais … mas, de estratégicamente aconselhar, estimular pedagógicamente, acompanhar com verdadeiro interesse , ao mesmo tempo que se garante e salvaguarda o Património de interiores e exteriores de importantes e insubstituíveis estabelecimentos Históricos.
Vejamos o caso da antiga Alfaiataria Piccadilly que foi substituida por uma loja de sandes e respectivo conceito de interiores e imagem de Marca …
O contraste com a zona é ilustrativo … e esse contraste não é determinado pela actividade, … mas pela forma de como a actividade quis de forma insensivel, manter a sua imagem de brancura absoluta- higiénica-híbrida-clinica, num contexto e envolvente determinados, até agora, por um carácter radicalmente oposto.
O Resultado é especialmente à noite : Como um frigorifico iluminado de porta escancarada num salão.
Independentemente das quantias mensais avultadissimas, que em termos de rendas, anularam outros possiveis candidatos com actividades mais apropriadas, o que é nítido aqui … é que não houve nem interesse, nem acompanhamento da parte da C.M.L. e do seu Departamento de urbanismo Comercial sobre a responsabilidade do Vereador Manuel Salgado.
Era possivel ter a mesma actividade, mas com uma imagem integrada na envolvente e no carácter da Zona … repare-se que este aspecto é fundamental, precisamente para manter o Prestigio e as “Características-Ambientes” que garantem esse Prestigio e consequentemente o seu valor comercial … senão estaremos mais uma vez a “matar a Galinha de ovos de Ouro”.
No entanto Manuel Salgado afirmava em entrevista ao Público no passado:
“Mais do que planos que funcionem como instrumentos de polícia, necessitamos de outra cultura de abordar a cidade. Por exemplo, a loja Casa (Vida) Portuguesa afirma-se pela valorização dos móveis antigos, das estantes antigas, de um determinado carácter que distingue a loja, para além dos produtos que vende. A Confeitaria Nacional está impecável. Isto parte muito da cultura dos próprios comerciantes.
Mas se essa cultura não existe...
Também é difícil impô-la.”

(in Público, entrevista de Ana Henriques)

E … o Director do Departamento de Urbanismo comercial da C.M.L. :
"Não há enquadramento legal para a câmara poder definir quotas por áreas de actividade", responde o director do departamento de urbanismo comercial da autarquia, Pedro Milharadas. Este e outros assuntos, como a requalificação do comércio da Baixa, "estão a ser pensados" ou "vão ser estudados", até porque uma medida deste tipo pode pôr em causa o princípio da livre concorrência, acrescenta.
Questionado sobre quais são, afinal, as funções dos funcionários deste departamento, responde: "Há bastantes anos que o departamento estagnou em matéria de estudos. O que faz é licenciamentos [de lojas]." In “Na Baixa de Lisboa umas lojas alargam horários, outras encolhem-nos”
Por Por Ana Henriques in Cidades / Publico

Passemos agora a outro caso que é imperativo acompanhar com o maior rigor e atenção … ou seja Grande Vigilância Preocupada … a ourivesaria Aliança.
As imagens falam por si …
Há uns anos, através da C.M.L. e do Núcleo de Estudos do Património, tentei uma classificação mais "forte" dos interiores da Ourivesaria Aliança , e recebi como resposta do então IPPAR que cabia a esta instituição a sua classificação (!?!)”
Este Estabelecimento esteve para ser classificado pelo Igespar como Imóvel de Interesse Público mas depois o caso foi “arrumado” e arquivado, com o argumento de que ele ja estava protegido por força do estatuto Baixa-Chiado
Entretanto foi Aprovada em sessão de CML de Janeiro de 2010 a transformação em hotel do prédio da Rua Garrett, nº42-52 (592/EDI/2009), com uma memória descritiva onde o promotor jurava a pés juntos que tudo era para manter porque a ourivesaria era uma mais valia para o hotel.
A Ourivesaria declara entretanto em informação clara e visivel, que encerra definitivamente a partir do dia 15 de Fevereiro . A questão reside na palavra DEFINITIVAMENTE … Vão os interiores ser mantidos com uma nova função ? O que se passa ?


Incluo uma imagem muito recente de outro caso no Chiado, onde um novo estabelecimento que foi ocupar o local de outra antiga Ourivesaria, soube adoptar a sua imagem de forma inteligente ao Contexto,Envolvente e Carácter da Zona, aproveitando elementos dos interiores e mobiliário da antiga Ourivesaria.
E isto … apesar de a “Globe”pertencer a uma cadeia Internacional …











8 comentários:

  1. A Livraria Portugal na Rua do Carmo, com 70 anos, também vai encerrar. Talvez seja substituída por uma loja de produtos kitsch "Made in China" como já se encontra nessa rua. É um sinal dos tempos e de uma cidade sem qualquer rumo ou visão de capital Europeia.

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  2. O Chiado está a ficar plastificado!
    Há anos a Benetton destruiu o Ramiro & Leão... e o processo de descaracterização continua sem que a CML / IGESPAR tomem medidas para a salvaguarda destes espaços!

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  3. UMA CIDADE PERDIDA, DIRIGIDA POR PESSOAS SEM QUALQUER NOÇÃO DO QUE É DIRIGIR UMA CIDADE COM HISTÓRIA.

    VERGONHA DE TER VOTADO NO SR. ANTÓNIO COSTA! Grande desilusão se tem revelado o seu último mandato...
    Está na hora de pôr, nomeadamente o Arq. Manuel Salgado na rua! Nem deve saber o que significa respeitar o património.

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  4. Uma cidade onde não existe dinheiro nem cultura para sustentar comércio de qualidade. Começa por aí. E continuam a bater na mesma tecla. Se queremos manter as nossas "Bond Street" e Jeremyn Street" temos em primeiro lugar de colocar esta cidade no topo dos rendimentos. Rendimentos elevados = comércio de Qualidade. Rendimentos baixos = Comércio sem qualidade. Ou pensam que estas lojas se mantêm da beleza da sua história ?

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  5. Devo ter entrado na caixa de comentários errada.

    Porque eu vinha comentar aquele post onde uma cadeia de lojas fast food, adaptou o seu conceito em termos de imagem à identidade da zona, de forma a não se perderem totalmente as características históricas e culturais, para elogiar essa mesma cadeia por ter abdicado do seu modelo "copy paste" que certamente seria mais económico de implementar em favor de uma opção onde se preservam alguns dos valores existentes, que o comércio de antigamente já não consegue por manifesta falta de adaptação aos consumidores.

    Vou ter de procurar melhor essa caixa de comentários para elogiar a Vitaminas.

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  6. A lei da vida é os mais velhos partirem e surgirem novos que vão mudando a personalidade das zonas. Quem não se adapta a isto só pode ser uma pedra, e até essas têm um processo de erosão.

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  7. yuck!!!

    E já alguém se deu ao trabalho de enviar um mail à Vitaminas!!!

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  8. Caro Chico,

    quando perdemos contato com o património acabamos exatamente como estamos agora, com uma sociedade ignorante, que se deslumbra com qualquer pseudo-design que lhe ponham na frente à laia de moderno, que nada vê de errado nas taveiradas, que destrói património ativa ou passivamente. Que grandes idiotas somos, aquilo que nos pode dar dinheiro no futuro é exatamente o que destruimos agora. É que para ver ruas de cidade de América Latina ninguém vem a Portugal. Que suicídio, destruir a memória. Que nos julguem os nossos filhos e os filhos deles porque já agora somos julgados pelos estrangeiros que nos visitam e não voltam mais!

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