30/01/2012

Material da mostra sobre Darwin custou 375 mil euros a Oeiras e não serve para expor


A exposição registou grande afluência de público na Gulbenkian e no Porto

Por Marisa Soares in Público

Autarquia recebeu da Gulbenkian peças da exposição A Evolução de Darwinpartidas e apodrecidas. Técnicos camarários dizem que o material não tem condições para ser exposto

A Câmara de Oeiras financiou a exposição A Evolução de Darwin,promovida com grande sucesso pela Gulbenkian, em 2009, na condição de ficar com parte do acervo para o futuro Museu da Ciência do concelho. Mas o material que recebeu no ano passado está "em mau estado" e, segundo técnicos camarários, não serve para voltar a montar a exposição.
Com pompa e circunstância, a autarquia assinou um protocolo com a Gulbenkian, em 2008, no qual se comprometia a contribuir com meio milhão de euros (do qual já pagou 375 mil euros) para a exposição comemorativa dos 200 anos de Charles Darwin, em troca de parte dos materiais da exposição. Além disso, a fundação apoiaria tecnicamente o município na montagem da exposição no futuro Museu da Ciência, que deverá ficar sedeado na Fábrica da Pólvora de Barcarena (ver caixa).
Depois da Gulbenkian, a exposição seguiu para Granada, Espanha, e para a Casa Andresen, no Porto, onde esteve até Julho de 2011. O que chegou a Oeiras em Agosto foi "material expositor na sua maioria em mau estado, desconjuntado, apodrecido, algumas coisas partidas e outras sem qualquer aproveitamento", lê-se em documentos internos da câmara. Em resposta escrita ao PÚBLICO, a autarquia diz apenas que os materiais "estão acondicionados nas melhores condições, tal como vieram da exposição do Porto". O problema é que muitos deles já chegaram ao Porto estragados e nem sequer foram expostos.
A maior parte do conteúdo científico e das réplicas de animais que integravam a exposição pertencem a outras entidades - como o Museu de História Natural de Lisboa ou o Aquário Vasco da Gama -, que no fim reclamaram as peças. Por este motivo, o que foi para Oeiras é "muito mais uma lista de material de equipamento de suporte físico à exposição" do que "o conteúdo de uma exposição", revelam os documentos municipais.
A Oeiras chegaram vitrinas, prateleiras, vidros, painéis, floreiras, suportes, alguns computadores, alguns monitores LCD, bancos e outras estruturas de suporte. Mas o material para expor é reduzido: existe uma "ilha de bichos", uma figura de Darwin em cera, parte do Beagle (navio utilizado pelo naturalista nas suas pesquisas) e alguns pássaros, bem como fotocópias de livros do cientista.
A lista de material recebido não corresponde na íntegra à listagem anexa ao protocolo, negociado entre o ex-chefe de gabinete de Isaltino Morais, Nuno Manalvo, e o administrador da Gulbenkian Diogo de Lucena. Mesmo assim, a lista inicial "não é suficiente para construir uma exposição", referem os técnicos municipais.
Em Outubro, a câmara pediu à fundação que fosse criada uma equipa técnica mista para fazer o inventário e a avaliação patrimonial do material depositado em Oeiras, com vista ao "cabal esclarecimento" do valor do acervo e das condições de viabilidade de concretização do projecto do Museu da Ciência. O PÚBLICO questionou a Gulbenkian sobre este processo, mas a instituição escusou-se a prestar quaisquer declarações.

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