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09/03/2012
Irmãs com 90 anos a morar numa casa a cair e sem gás
As irmãs Odete e Hortência Esteves são as únicas habitantes do prédio onde vivem, têm a casa a cair e estão sem gás há mais de um ano. Hoje foram referenciadas pelo programa Inter-Gerações, da Santa Casa da Misericórdia.
Mais do que serem as únicas habitantes num prédio com seis apartamentos, o que verdadeiramente preocupa estas irmãs, de 89 e 90 anos, é o mau estado do edifício.
«Estamos completamente sozinhas. Os outros inquilinos saíram todos devido ao estado de degradação em que se encontra o prédio. Queria que me ajudassem a pagar uma renda para ir para uma casa onde houvesse segurança e um pouco mais de comodidade», disse Odete Esteves à Agência Lusa numa visita guiada pela casa, que lhes custa 49 euros por mês de renda e onde era visível o mau estado do edifício, com buracos nos tectos e no chão, paredes degradadas e janelas estragadas.
Sem gás há mais de um ano por falta de condições na habitação, as irmãs tiveram de comprar uma placa eléctrica para confeccionarem as refeições e vão tomar banho a casa de familiares ou ao balneário da junta de freguesia de Santa Engrácia, onde residem.
Este é um dos casos referenciados pelas equipas de rua do programa Inter-gerações, que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa iniciou esta semana e que pretende identificar situações de isolamento de idosos.
Para isso, 57 jovens recém-licenciados em várias áreas vão andar durante três meses a bater às portas de Lisboa e a fazer inquéritos a todos que os recebam e tenham mais de 65 anos.
Uma ajuda preciosa para estes jovens são os moradores dos bairros, entre vizinhos, o senhor do café e da padaria, que lhes vão dizendo onde moram idosos.
Foi assim que chegaram até Maria Alice Marinho, de 79 anos, também residente na freguesia de Santa Engrácia e que está acamada.
Sobre o programa Inter-Gerações, Maria Alice disse de imediato: «Acho muito bem. Morre tanta pessoa sozinha. Se puderem ajudar é um bem que estão a fazer».
Questionada se necessitava de algum tipo de ajuda, ter companhia foi logo a resposta porque, apesar de viver com o filho, está «dias inteiros a olhar para o tecto sozinha».
Filipa Martins é uma das jovens recém-licenciadas que está a fazer inquéritos aos idosos, através dos quais tenta perceber as condições em que vivem, as condições das casas e o seu estado de saúde.
«Pergunto desde a situação de saúde, se limita o dia-a-dia, se costumam sair de casa, se convivem com outras pessoas, se os familiares os visitam. Todas essas situações são importantes para que não vivam isolados», disse à Lusa.
«Alguns estão em situação de isolamento, infelizmente», acrescentou.
Segundo o presidente da junta de Santa Engrácia, Joaquim Pires, entre 60 a 65 por cento dos habitantes daquela freguesia são idosos.
Em declarações à Lusa, o director da Acção Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Mário Rui André, disse que «já está a ser dada resposta a situações identificadas como vulneráveis» e que não eram conhecidas pela rede formal.
O responsável assegurou que, no final do levantamento, a Santa Casa irá dar resposta aos casos considerados prioritários, afirmando que «nunca a Santa Casa podia fazer um investimento destes se depois não desse resposta».
O programa Inter-Gerações é desenvolvido em parceria com as juntas de freguesia e tem somente jovens nas equipas de rua para que se sintam envolvidos nestas situações e, simultaneamente, para que saiam da situação de desemprego em que se encontravam.
Lusa/SOL
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