No último artigo onde se dissertou sobre o que faz de um país
uma marca de referência, com atratividade e força de mercado, tive a
oportunidade de chamar a atenção dos leitores deste espaço sobre o que tem sido
e é, a política da preservação do património edificado – nem quero entrar pela
preservação do património monumental porque me levaria a conclusões ainda mais
amargas. E enquanto escrevia vinham a lume notícias desencorajantes sobre o
projeto que a EDP quer ver construído na frente ribeirinha de Belém, ao lado da
Central Elétrica, que obrigará à demolição de edifícios de serviços da central. Não posso deixar de pressentir que Belém se está a transformar numa
Expo II, depois dos projetos do novo museu dos coches – projeto devastadoramente
instrusivo – e do tal hotel “à beira-mar plantado” pelos lados da Torre de Belém,
entre outros. Como referi, por coincidência preparava, na mesma altura, este artigo onde me
iria debruçar sobre o saldo final destas décadas de esbulho patrimonial. A minha
conclusão é a que esperam já: no livro de contabilidade sobre os edifícios de Lisboa, somadas as duas colunas, a dos “Em Risco” e a dos “Desaparecidos”,
mesmo equacionando as boas obras e intervenções, o saldo é avassaladoramente
negativo e já estamos em “dívida” para com a cidade.
Sem que possa ilustrar minimamente o que quero aqui expressar porque os exemplos são infindáveis, deixo alguns exemplos para vossa consideração de edifícios malogrados ou que estão no caminho do “buldozer” da especulação, insensibilidade do abandono e da impunidade.
Sem que possa ilustrar minimamente o que quero aqui expressar porque os exemplos são infindáveis, deixo alguns exemplos para vossa consideração de edifícios malogrados ou que estão no caminho do “buldozer” da especulação, insensibilidade do abandono e da impunidade.
Este belíssimo edifício, com uma cobertura única de mansarda em cúpula, viu autorizada a demolição integral de interiores e cobertura. No processo ruiu completamente, levando com ele o prédio à esquerda. Vejam o que se escreveu aqui neste espaço, para mais pormenores |
Deste, no gaveto da Alexandre Herculano, resta a fachada e a entrada. As obras estão em curso e salvo reconstruam os interiores, temos uma perda total. |
Demolido. No gaveto da Avenida Defensores de Chaves ergue-se, agora, uma caixa de betão e vidro, igual a mil outras, por todo o mundo. |
Em frente ao anterior. Resta a fachada e claro, o logradoro já não existe. |
Na Avenida Casal Ribeiro, no número 14, este eleganíssimo prédio Arte Nova recebeu um daqueles tratamentos e só lhe sobrou a fachada, e esta com janelas a fingir que são as antigas... |
Já não existem... A Praça Duque de Saldanha é um desastre... |
É claro que todos se lembram o que aconteceu recentemente a um elegante palacete da Avenida Duque de Loulé (aqui) e outros nessa artéria, da casa onde morreu Almeida Garret (aqui), com o nº 25 da Avenida da República (aqui) e a muitos, muitos outros.
Quando acordarmos deste pesadelo vamos estar a viver numa cidade que é igual aos seus subúrbios.
O admirável mundo novo!
Continua...
Penso que é urgente salvar o património Arte-Nova e Art-Déco que resta em Lisboa. Toda a zona das grandes avenidas e avenidas novas, está a ser desfigurada e destruída. É imperioso que se organiza uma conferencia internacional sobre o património edificado nesses períodos como forma de sensibilizar as autoridades e o público.
ResponderEliminarOs edifícios Arte-Nova e Art-Déco sao as primeiras vítmias do saque a que Lisboa está votada. Uma cidade que pouco respeita o seu legado histórico e que maltrata a sua incomparável beleza.