Se a lista de edifícios desaparecidos e substituidos por outros de muito menor valor estético e de valor histórico nulo encheria páginas equivalentes a um romance, desta feita uma tragédia, o segundo volume dessa obra literária chama-se "Em Perigo", e é dificil não chegar ao fim do livro lavado em lágrimas. Esta cidade, com história milenar, cujo mito atribui ao herói Ulisses a sua fundação, cidade do Rei Alarico, apadrinhada por São Vicente, que viu Santo António nascer, que testemunhou a nossa Era Dourada, coroada de glória no Arco Triunfal da Rua Augusta, que sacrificou milhares de almas para erguer um dos primeiros exemplos de urbanismo moderno, é hoje um cemitério de memórias de edifícios e monumentos e um recreio de arquitetos medíocres, negligentes, autistas. Não há uma rua que esteja, inteira e criteriosamente preservada.
Deixo-vos aqui, sublinhando o meu profundo pesar, uma pequena lista de
prédios em perigo de desaparecerem, ou de sofrerem alterações de tal
ordem que é como se tivessem sido demolidos.
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Neste gaveto da Avenida Casal Ribeiro quer a Santa Casa da Misericórdia contruir um edifício bizarro (ver), depois de demolir este, claro está. Pergunto-me se teria sido essa a intenção do doador. |
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Na Rua de José Estêvão, em frente ao Jardim Constantino está à venda este imóvel com a indicação que tem licença de demolição e construção. Revestido em azulejo, com bonitas varandas e risco agradável, fica numa área tão massacrada que é a Avenida Pascoal de Melo (ver) e que não se pode dar ao luxo de ter mais lixo. |
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Este prédio na Avenida da República tem interiores belíssimos (ver) e um logradouro único com garagens para os primeiros carros que circularam pelas nossas estradas e marquises em estrutura de ferro, e depois de vendido e de se ter tentado a demolição dos interiores, está agora devoluto e com janelas períodicamente deixadas abertas. |
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Este palacete, de risco irrepreensível, com representações raras na arquitetura portuguesa de africanos, está abandonado, sem proteção legal e a ser assediado por construções novas e desqualificadas como a do Arq. Tomás Taveira. O seu futuro é incerto e a degradação galopa... |
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Pequeno imóvel na Rua Rodrigo da Fonseca. É disto que uma cidade com charme é feita. |
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Está marcado para demolição, aprovada pelo executivo do Dr. António Costa e do Arq. Manuel Salgado. Rua Andrade Corvo. |
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Estes dois imóveis, caros para quem gosta de arquitetura e história da arquitetura, sitos na Rua Rodrigo da Fonseca, estão negligenciados. No da esquerda há uma placa a anunciar a aprovação de alteração de construção mas completamente esbatida e maltratada pelo tempo, o que me leva a supor que por enquanto nada se fará. Mas quem sabe se não esperam por algo que antes não foi possível? |
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Este expressivo edifício Art Déco, com elementos decorativos como mosaicos de vidro e uma esfera armilar a encimar a fachada, está agora devoluto, inclusivé a loja. Espero o pior! |
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Ao lado do anterior, ardeu duas vezes e agora resta a fachada. Era belíssimo. |
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Na Avenida Duque de Loulé (ver), este conjunto de imóveis digníssimos viu aprovado projeto de aumento de um piso mas os interiores deveriam ser mantidos. O logradouro seria utilizado para estacionamento (o que fazer-se?) e demoliu-se um imóvel no logradouro. As obras estão paradas, parece-me que está destelhado e sem proteção contra a entrada das águas da chuva. Daqui a uns anos que interiores (que sei serem importantes) haverá para manter? |
No meu próximo artigo vou debruçar-me sobre o estilo dominante na nossa cidade e país, rivalizando já com o Manuelino como um estilo de cariz nacional com génese filosofico-cultural: O Estilo Abarracado.
"Um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados"
ResponderEliminarPapa Bento XVI, quando veio a Portugal.
Nem mais, o desastre é a descaracterização da cidade em nome de um progresso que só alguns sentem (na carteira pois claro) Antonio Costa não é arquitecto e julga que modernidade é deitar abaixo e refazer uma cidade igual às outras de 3º mundo.
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