04/03/2013

Imagens de Marca - Lisboa/Portugal (continuação)

Se a lista de edifícios desaparecidos e substituidos por outros de muito menor valor estético e de valor histórico nulo encheria páginas equivalentes a um romance, desta feita uma tragédia, o segundo volume dessa obra literária chama-se "Em Perigo", e é dificil não chegar ao fim do livro lavado em lágrimas. Esta cidade, com história milenar, cujo mito atribui ao herói Ulisses a sua fundação, cidade do Rei Alarico, apadrinhada por São Vicente, que viu Santo António nascer, que testemunhou a nossa Era Dourada, coroada de glória no Arco Triunfal da Rua Augusta, que sacrificou milhares de almas para erguer um dos primeiros exemplos de urbanismo moderno, é hoje um cemitério de memórias de edifícios e monumentos e um recreio de arquitetos medíocres, negligentes, autistas. Não há uma rua que esteja, inteira e criteriosamente preservada.
Deixo-vos aqui, sublinhando o meu profundo pesar, uma pequena lista de prédios em perigo de desaparecerem, ou de sofrerem alterações de tal ordem que é como se tivessem sido demolidos.

Neste gaveto da Avenida Casal Ribeiro quer a Santa Casa da Misericórdia contruir um edifício bizarro (ver), depois de demolir este, claro está.  Pergunto-me se teria sido essa a intenção do doador.

Na Rua de José Estêvão, em frente ao Jardim Constantino está à venda este imóvel com a indicação que tem licença de demolição e construção. Revestido em azulejo, com bonitas varandas e risco agradável, fica numa área tão massacrada que é a Avenida Pascoal de Melo (ver) e que não se pode dar ao luxo de ter mais lixo.

Este prédio na Avenida da República tem interiores belíssimos (ver) e um logradouro único com garagens para os primeiros carros que circularam pelas nossas estradas e marquises em estrutura de ferro, e depois de vendido e de se ter tentado a demolição dos interiores, está agora devoluto e com janelas períodicamente deixadas abertas.

Este palacete, de risco irrepreensível, com representações raras na arquitetura portuguesa de africanos, está abandonado, sem proteção legal e a ser assediado por construções novas e desqualificadas como a do Arq. Tomás Taveira. O seu futuro é incerto e a degradação galopa...

Pequeno imóvel na Rua Rodrigo da Fonseca. É disto que uma cidade com charme é feita.

Está marcado para demolição, aprovada pelo executivo do Dr. António Costa e do Arq. Manuel Salgado.
Rua Andrade Corvo.

Estes dois imóveis, caros para quem gosta de arquitetura e história da arquitetura, sitos na Rua Rodrigo da Fonseca, estão negligenciados. No da esquerda há uma placa a anunciar a aprovação de alteração de construção mas completamente esbatida e maltratada pelo tempo, o que me leva a supor que por enquanto nada se fará. Mas quem sabe se não esperam por algo que antes não foi possível?
Este expressivo edifício Art Déco, com elementos decorativos como mosaicos de vidro e uma esfera armilar a encimar a fachada, está agora devoluto, inclusivé a loja. Espero o pior!

Ao lado do anterior, ardeu duas vezes e agora resta a fachada. Era belíssimo.
Na Avenida Duque de Loulé (ver), este conjunto de imóveis digníssimos viu aprovado projeto de aumento de um piso mas os interiores deveriam ser mantidos. O logradouro seria utilizado para estacionamento (o que fazer-se?) e demoliu-se um imóvel no logradouro. As obras estão paradas, parece-me que está destelhado e sem proteção contra a entrada das águas da chuva. Daqui a uns anos que interiores (que sei serem importantes) haverá para manter?
 No meu próximo artigo vou debruçar-me sobre o estilo dominante na nossa cidade e país, rivalizando já com o Manuelino como um estilo de cariz nacional com génese filosofico-cultural: O Estilo Abarracado.


2 comentários:

Anónimo disse...

"Um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados"

Papa Bento XVI, quando veio a Portugal.

Anónimo disse...

Nem mais, o desastre é a descaracterização da cidade em nome de um progresso que só alguns sentem (na carteira pois claro) Antonio Costa não é arquitecto e julga que modernidade é deitar abaixo e refazer uma cidade igual às outras de 3º mundo.