As imagens aqui reproduzidas documentam o crime horroroso perpetrado pela Câmara Municipal de Lisboa sobre as árvores da Ribeira das Naus. Estas imagens não são próprias de uma Capital Europeia do Século XXI e deveriam ser dadas a conhecer a todos os países do Mundo onde existe o respeito pela Natureza, para que o conceito sobre Portugal que existe no estrangeiro possa sair avaliado.
Apurámos com alguma perplexidade que a vereação do ambiente não intervém neste projeto que é da responsabilidade da área do urbanismo. Ora sabemos da incapacidade do urbanismo em lidar com assuntos que envolvam seres vivos. Já por várias vezes tentámos fazer ver que as árvores são seres vivos que demoram dezenas de anos a atingir a idade adulta, não são meras peças de mobiliário urbano que se encomendam numa fábrica. Mais uma vez a Câmara insistiu num erro, desta vez com consequências da maior gravidade e irreversíveis.
Desde Outubro de 2006, quando tiveram início as obras para a construção da Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, em terrenos da Administração do Porto de Lisboa, com a conivência da CML, que a zona do Cais do Sodré e Ribeira das Naus tem vindo a perder o seu coberto vegetal, fundamental para a sobrevivência de uma avifauna muito variada que a procura nomeadamente por altura das migrações sazonais. O arboricídio agora levado a cabo veio reduzir ainda mais o número de árvores adultas na área, de tal modo que se podem contar pelos dedos.
Não sabemos quantas mais virão a ser sacrificadas num futuro próximo quando da construção do parque de estacionamento, da intrusão do rio Tejo nas instalações da Marinha, bem como das obras resultantes da futura circulação viária.
Tememos pela vida dos três plátanos monumentais existentes no Cais do Sodré, frente ao nº. 11, das 8 Tipuanas ainda existentes no antigo parque de estacionamento público, das 5 árvores de grande porte existente no jardim público a ele contíguo, das 6 árvores que acompanham a rua do Arsenal, em frente ao referido parque de estacionamento e do arvoredo existente na parada do Arsenal da Marinha.
Tal arboricídio, absolutamente impensável num país civilizado, foi executado sobre árvores de valor incalculável existentes em terreno público, pelo que, numa verdadeira democracia, os lisboetas deveriam ter sido ouvidos a fim de emitirem as suas opiniões que certamente seriam a favor do seu enquadramento no futuro jardim que se pretende construir e nunca do seu abate. Esta parece-nos que teria sido a solução óbvia. Acresce que não foi respeitada a legislação criada pela própria CML para defesa das árvores em Lisboa.
De facto, o Despacho nº. 60/P/2012, emanado da Presidência da Câmara, determina que todo o abate de árvores deve ser devidamente publicitado com pelo menos 15 dias de antecedência, dando aos munícipes a possibilidade de se opor. Nada disto aconteceu.
Também as árvores agora selvaticamente abatidas estavam numeradas de 1 a 48. Recordamos que na altura (2010) foi-nos garantido por escrito que não eram para abater mas tratava-se de um trabalho de monitorização com a finalidade de as salvaguardar. Hoje, apenas uma está de pé. Até quando?
Dado o flagrante incumprimento das leis e dos compromissos escritos assumidos, recordamos que já a Administração do Porto de Lisboa se tinha comprometido por escrito a substituir as árvores que havia abatido para a construção das Agências Europeias, coisa que nunca aconteceu, e não tendo as árvores quem as defenda, já que a vontade popular é reiteradamente ignorada, não é seguro o futuro das poucas árvores adultas que subsistem no local em apreço.
Queremos terminar e em forma de balanço perguntar se valeu a pena tanto sacrifício. Será que a cidade e os lisboetas lucraram com a brutal destruição de valores naturais e paisagísticos? Esta é a pergunta que vos deixo.
João Pinto Soares
Toda esta ribeira das naus é um atentado! Não se pode impedir mais imbecilidades?
ResponderEliminarMuito bem.
ResponderEliminarComecemos pelo básico: alguém conhece o nome do responsável pela decisão de abate destas árvores?
Bom ... no limite será António Costa que deve andar mais uma vez distraído / entretido com outros temas.
Quando um arquiteto é incumbido de requalificar um edifício, sobretudo quando este tem valor arquitetónico, o seu primeiro objetivo deverá ser tentar preservar a estrutura existente, redesenhando-a sem perder de vista a identidade do edifício e do local em que este se insere. Da mesma forma, quando um arquiteto paisagista desenha um jardim deve partir do que lá existe, sobretudo quando o que lá existe são árvores com dezenas de anos, que têm valor enquanto seres vivos e enquanto paisagem que define o local e aqueles que o frequentam e se identificam com o mesmo. Isto é do mais elementar...Mas, pelos vistos, para alguns egos não é!
ResponderEliminarUm arquiteto paisagista que assina um projeto de requalificação de um espaço verde, condenando à morte dezenas de árvores saudáveis é alguém que não compreende o valor da árvore. Mesmo que a seguir, o que apenas reforça a sua ignorância, mande plantar o dobro das que mandou cortar.
Poderá até ter a licenciatura, tirada na melhor das universidades, com o maior dos louvores, mas, na prática, uma pessoa que destrói a paisagem não pode ser um arquiteto paisagista. Será, quando muito, um destruidor da alegria!
Adenda: "O homem que é insensível ou indiferente à poesia, à música ou à pintura é um homem ensurdecido no seu ser e diminuído na sua existência. Um homem mutilado, anormal e temível. É o destruidor da alegria".
Sophia de Mello Breyner Andresen
1 - O abate de árvores só pode resultar de necessidade fitossanitária
ResponderEliminarou risco grave para a segurança por falta de resistência
mecânica, determinadas por técnico competente, ou,
excecionalmente, mediante autorização do Presidente da
Câmara, por necessidade imperiosa decorrente da realização
de obra de interesse público e seja tecnicamente inviável
o seu transplante;
2 - A intenção e data prevista para o abate ou remoção de árvores
deve ser comunicada previamente à Junta de Freguesia
do local, acompanhada de toda a documentação técnica
relevante, e solicitando que a disponibilize para consulta
a qualquer interessado;
3 - Toda a informação deve igualmente constar de microsite
a criar especificamente para o efeito, com um endereço
de domínio alusivo ao assunto, e que deve estar em destaque
na página de entrada no site oficial da Câmara Municipal
de Lisboa;
4 - Os Serviços publicitam ainda a sua intenção mediante
afixação de placa junto à arvore com os dizeres: «Árvore
para abate» ou «Árvore a transplantar», seguido de «Consulte
toda a informação em destaque no portal da Câmara Municipal
de Lisboa» seguido do endereço do site;
5 - Será ainda distribuído nas caixas de correio da vizinhança
folheto informativo sobre a ação prevista, seu fundamento
e demais informações úteis, designadamente locais onde
é possível obter informação complementar e meios graciosos
ao dispor dos munícipes para se opor, querendo;
6 - As comunicações e ações de informação previstas nos
n.os 2 a 5 têm lugar com, pelo menos, 15 dias de antecedência
relativamente à data prevista para a remoção, salvo
em situações de comprovada urgência em que esteja em causa
perigo para a segurança de pessoas e bens.
Largo do Intendente, em 2012/07/20.
O Presidente,
(a) António Costa
Nada disto foi feito. Portanto das duas uma:Ou nos serviços da Câmara liga aos despachos do Sr. Presidente ou o referido despacho é só para inglês ver e o abate avançou por instrução ou, pelo menos, conivência, do propriamente dito.
Hediondo crime? crime horroroso ?
ResponderEliminarÉ como a cena do cão-zico, não?
Acho que podiam pensar seriamente em GAL.
Cumprimentos, Luís
Também gostaria de saber nomes e moradas dos criminosos que propuseram e pactuaram com isto. Concordo com todos os anteriores comentários, sobretudo este último, quem fez isto deve ser um destes novos arquitectos idiotas "estrelas" ou um arquitecto Paisagista que queria era ser Arquitecto também estrela... Pois arquitecto a sério ou Paisagista a sério como anteriormente já foi dito, nunca faria isto. Para além da vaidade há aqui negócio que deveria ser investigado do princípio ao fim, comissões, obras, para onde vai a madeira, quem assinou isto tudo, etc, etc.
ResponderEliminarDeviamos exigir a demissão do Vereador do Urbanismo, pois não tinha competências para esta barbaridade, o homem é um destruidor por Natureza, Lisboa está cada vez mais feia e descaracterizada com este vaidoso e esfomeado por construção, que anda ainda por cima incontolávelmente perigoso com a conivência do sr. presidente que lhe faz tudo, desde que o Bes o ponha num poleiro mais alto deste país que com esta gente está a virar colónia dos mafiosos internacionais.
Sim! Também gostava de saber quem é a "amostrazinha" de ser humano, neste caso,arquitecto, responsável por este projecto criminoso!!!
ResponderEliminarAlguém?
A amostrazinha é muito salgadinha
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ResponderEliminarRÉQUIEM POR UM CHOUPO
Era uma cidade com aromas de viagem,
Aquela onde um dia fui criança,
Esta noite estrangularam outra árvore habituada
A ver-me passar, e ninguém se importou com o assunto.
E eu que varri muitas folhas derramadas dessa farta
cabeleira num Outono já distante estremeci
com o ruído seco do velho choupo a morrer.
Aconselharam-me a ficar calado:Não há tempo para escutar
canções de melros entre ramagens.
Mas sou teimoso!Ridículo é aceitar que o alcatrão
vença e os anestesiados se dirijam cada vez mais velozes
para a sua verdade infeliz!
Então peguei no meu caderno de emoções
e escrevi com uma lágrima de raiva:
Quando a cidade não ama
As suas árvores, que medalha
deverá um Poeta pôr no peito
dos que a governam?
Luís Filipe Maçarico,"A Essência", 1993.