Lisboa já nos habituou, para grande desgosto de quem desta cidade gosta, a exemplos de intervenções em património arquitetónico - e cultural, em geral - que são, em tudo, censuráveis e lesivas para a memória cultural desta capital. Partilho das conclusões do artigo que foi replicado aqui (
ver), e que tantas reações de repulsa recebeu de quem se sentiu ofendido pelas comparações e termos usados. Mas a verdade é inalienável: Lisboa é uma cidade em Estado de Calamidade Patrimonial! Só não vê quem não quer, e muita gente não quer.
Diz-se, de nós, que somos um país de brandos costumes. Discordo! Somos, antes, um país de maus costumes, e estes nada têm de brando.
O que se fez com o Instituto Câmara Pestana, que leva o nome do
bacteriologista português de renome internacional, é um crime de lesa-património e serve este artigo para nomear, com a vossa colaboração que agradeço desde já, os responsáveis diretos por este horror, já que os indiretos somos todos nós que desenvolvemos uma sociedade totalmente indiferente à verdadeira valorização do património, salvo alguns líricos que andam por aqui e não nos lugares de decisão.
Vejam algumas imagens:
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Caminhando pela Rua de Câmara Pestana ... ou saindo do Elevador do Lavra, Monumento Nacional... |
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...somos presenteados com estes "objetos" abjetos! |
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Esta é a envolvente das preciosidades acima e garanto-vos que aqui estou a pecar por defeito, porque tanto a vista como a generalidade do construído são, simplesmente, fantásticos. Que boa vizinhança têm! Com vizinhos destes... |
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A qualidade dos materiais. Uma ordinária e vulgar rede com murete em cimento é a vedação deste conjunto. Antes tinham uma vedação com seteiras, em metal. Talvez demasiada qualidade para esta intervenção? |
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Algumas perspetivas que se podem apreciar: o comentário fica ao vosso cargo. |
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Foi este o tratamento dado a edifícios oitocentistas onde se fazia ciência, se formavam médicos. Que exemplo para a nossa geração ter todo este complexo como um museu à memória do génio científico português. Nem a placa de homenagem ao herói maior da lusitanidade, que lembra que ele teve neste chão a sua morada final, comoveu quem decidiu, planeou e autorizou esta barbaridade. O epíteto perfeito já que Camões não foi exatamente amado em vida e morreu na mais esquálida miséria. Interiores originais já não existem; janelas que arrasam com o ritmo da fachada, tanto que é o minimalismo. | |
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Este é o único edifício original que será poupado. Dentro estão laboratórios do séc. XIX e XX, preciosíssimos. Uma escadaria e um retrato a óleo da fundadora Raínha D.Amélia vi quando era criança. Ainda lá estão? Atenção! Janelas partidas. |
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Há que atribuir responsabilidades, isto num país onde a culpa morre solteira e se assobia para o lado enquanto falha a memória de se estar envolvido naquilo que nos leva à ruína. Proponho identificar os principais responsáveis deste prejuízo não quantificável. Quem souber identificar os seguintes intervenientes queira, por favor, informar-me pela caixa dos comentários e não deixarei de dar o seu a seu dono.
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Estes foram os arquitetos que riscaram este horror. |
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Presidente da CML - Reitor da Universidade de Lisboa - Demais intervenientes |
Atrás, em comentário, referi o escândalo das lages de calcário no Campo Pequeno (que se quebram, às dezenas, com a simples passagem de peões).
ResponderEliminarPois a SIC tentou saber quem eram os responsáveis pela degradação desse espaço público (e turístico...) e não conseguiu - cada um dos questionados dizia que o assunto era com outro.
Esse cinzento pertence mesmo a uma Universidade que fica no centro de Lisboa?
ResponderEliminarÉ mesmo horroroso!
Não quero dizer com isto que não goste de ver arquitectura moderna em zonas mais antigas, aqui em Londres vejo-os lado a lado e é um encanto.
Mas enfim, são edificios que não tem nada a ver com essa caixote de alumínio.
É um país em crise em todas as vertentes e sectores.
ResponderEliminarQualquer dia vai o Tejo...
Drenam-o num instante!
Deixem-me advinhar:
ResponderEliminarSão do Porto e esta foi a única solução que encontraram para dar cabo de Lisboa!
São todos edificios da Fac. Medicina.
ResponderEliminarAtelier ZT- Arquitectos Lda
ResponderEliminarArquitecto Thomas Zinterl
Arquitecto Gonçalo Sousa Byrne
Alguém que impeça a criatura da 1º imagem a tocar um dedo que seja no Palácio Nacional da Ajuda!!!
ResponderEliminarA intervenção pertence à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, não à Universidade de Lisboa.
ResponderEliminarDa responsabilidade da Universidade de Lisboa é sim o edifício principal do antigo Instituto Câmara Pestana, justamente o que não foi renovado. Sobre este tema, o anterior reitor da UL esclareceu que a Universidade adjudicou a obra de restauro por sete vezes, e que por sete vezes os empreiteiros escolhidos declararam falência.
Os edifícios foram renovados cumprindo o traçado antigo (exepto o cinzento, que é um bom exemplar de arquitectura moderna). Mentalidadezinhas...
ResponderEliminar"que é um bom exemplar de arquitectura moderna"
ResponderEliminarDe facto, o edifício amarelinho tem muito a ver com este:
http://4.bp.blogspot.com/-k4IghvhYFrI/TYyLsuint9I/AAAAAAAA-K4/_X9YpjCaEas/s400/06%2BInstituto%2BBacteriologico%2BC%25C3%25A2mara%2BPestana%2B%2BC1DM2081017_0003%255B1%255D.jpg
As janelinhas, a mansarda, os respectivos interiores...
São iguaizinhos...
Enfim.
Pior cego é aquele que não quer ver, até porque quem diz que o caixote de alumínio é um bom exemplar de arquitectura moderna e que ficou bem ali, só pode ter mesmo uma mentalidadezinha muito "inha"
Havia de ser no centro histórico de uma capital respeitável.
Punham-no logo no seu devido lugar!