O Hospital Miguel Bombarda, na Rua Gomes Freire, em Lisboa, foi o primeiro hospital de doentes psiquiátricos em Portugal. Fundado em 1848 por decisão do chefe do Governo, marechal Duque de Saldanha, ficou instalado na Quinta de Rilhafoles, no edifício do antigo convento da Congregação dos Padres da Missão de S. Vicente de Paulo, que ficou vago após a extinção das ordens religiosas, em 1834, e para o qual se transferiram os enfermos internados em precárias condições no Hospital Real de S. José.
O edifício, que resistiu ao terramoto de 1755, ficou a constituir um grande hospital, dimensionado para 300 doentes, que funcionou até ser desactivado em 2008 e encerrado três anos depois. No interior da sua cerca, dado o grande interesse patrimonial, foram classificados em 2001, sob proposta do Hospital Miguel Bombarda, como Conjunto de Interesse Público, os edifícios do balneário D. Maria II, o Pavilhão de Segurança e o edifício principal (antigo convento), pelo que o hospital no seu conjunto ficou protegido por Zona Especial de Protecção (ZEP).
O Balneário D. Maria II, ou casa dos Banhos, foi inaugurado em 29 de Outubro de 1853, data do aniversário do príncipe-consorte D. Fernando pela Rainha D. Maria II, sendo o primeiro edifício construído de raiz em Portugal para tratamento de doentes com perturbação mental. Cerca de metade dos utilizadores eram doentes externos que, por prescrição dos médicos da cidade, aí se dirigiam para serem tratados aos “nervos”. O Balneário proporcionava diversificados tipos de banhos: sauna ou de vapor com ervas aromáticas, turcos, de onda, duches verticais e laterais, de imersão, quentes, tépidos e frios, ou alternados na temperatura, que os médicos procuravam adequar às várias situações clínicas, como as de agitação ou de depressão.
O Pavilhão de Segurança, de 1896, é um dos raríssimos edifícios circulares panópticos existentes no mundo, aqui com pátio a descoberto, para beneficiar o estado mental dos pacientes e prevenir a transmissão de doenças, e apresentando arredondamentos generalizados de arestas, para evitar contusões.
O Museu, instalado no edifício do panóptico dispõe de vários arquivos específicos, mas complementares: um arquivo de centenas de livros manuscritos e outros documentos, dos quais se destacam os livros de registo de todos os doentes desde 1848; o acervo de material clínico e hospitalar, remontando ao séc. XIX; um arquivo fotográfico de doentes, além das imagens sobre o quotidiano hospitalar ao longo do tempo.O Museu dispõe ainda da mais antiga e maior colecção de pintura, desenhos e pequenas esculturas ou azulejos, de doentes do país, permitindo a descoberta e a revelação de uma outra arte portuguesa, desde 1902. Elas abrangem uma rara gama de temáticas, abordagens e emoções, de artistas como Jaime Fernandes, Hélio, Demétrio, Valentim ou José Gomes, a maioria de genuína Outsider Art – Art Brut – Arte Crua, de autores sem formação ou autodidactas, mas também arte naif e arte convencional.
Conclusão: Estamos assim em presença de um espaço riquíssimo em património e história, onde pela sua centralidade e bom estado de conservação dos edifícios, ficaria enriquecido e com ele a cidade de Lisboa, com a instalação do Arquivo Municipal de Lisboa, presentemente disperso por diversos locais da cidade. Assim haja vontade política para o fazer.
João Pinto Soares
Ora aí está uma excelente ideia!
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