24/05/2019

Mas Lisboa continua a ser uma belíssima cidade

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Pórtico do Carmo depois do excelente restauro, jacarandás no Largo do Carmo, fachada de São Vicente.

Uma cidade como esta merece todas as lutas e todos os esforços.

Parece que a Sra. Directora do Património acha que na Lapa não há nada para classificar.

E a julgar por esta "prenda", diríamos todos o mesmo. Casa dourada na Rua dos Remédios à Lapa.

Mas é para salvar o muito que ainda, felizmente, resta que vários membros deste Fórum propuseram a classificação do bairro da Lapa para evitar que ele continue ao Déus-dará das boas-vontades dos promotores ou do bom-gosto dos arquitectos, classe que tem vindo a impor à cidade soluções que grande parte dos lisboetas não gostam nem querem.

- Martim Moniz, Museu Judaico, casa Aires Mateus na Lapa, torre de 60 metros no quarteirão da Portugália, casa Souto Moura na Praça das Flores e quase todas as recentes intervenções na Lapa, são alguns dos exemplos emblemáticos deste estado de coisas: em que uma classe trata todas as outras como irremediavelmente incultas, próximo do atavismo primário dos que abominam as mudanças, pacóvios sem remédio

Ao que consta, para os lados da Ajuda a ordem é: contra estes bota-de-elástico que ousam afrontar-nos, marchar, marchar.

"Reabilitar" Lisboa - devolve-se à cidade o que antes se destrói

Entrada do prédio Entre-Séculos do Largo do S. Carlos.

O que interessam os mosaicos hidráulicos originais que pavimentavam o átrio? O que importa a belíssima moldura de madeira trabalhada? Para quê salvar os vitrais que tornavam o emolduramento da entrada mais bonito?

A resposta está patente: nada. O que interessa é atirar todos os escombros da imensa demolição de interiores pelo saguão das escadas.

Não restou nada de estuques, azulejos novecentistas que pudessem ter existido nas cozinhas, mosaicos, madeiras.  O que interessa é revendê-lo rapidamente, usando a linguagem asséptica das imobilliárias "Edifício em zona prime, totalmente remodelado, respeitando a traça original." 

Da velha clarabóia já pouco resta. Irá na voragem da reabilitação à la Salgado que, não há dúvida, tem conseguido ludibriar até os mais atentos a estas coisas do património.

Haveria que desmontar a tese de Salgado e dos seus correligionários que afirmam que reabilitar não é restaurar, mas sim devolver à cidade  o que estava abandonado. E, assim, deitando mão de todos os expedientes, dá-se luz verde a verdadeiros atentados patrimoniais onde todos os interiores são varridos do mapa, as cérceas alteadas, as trapeiras substituídas por caixas de zinco.

Para isso, basta chamar um dos vários ateliers de arquitectura disponíveis, autênticas brigadas de esterilização , que da diversidade pré-existente, fazem um papel químico da sua última experiência: tectos rebaixados, branco mais branco não há, pvcs em todas as janelas e os famigerados "acabamentos de luxo".

Devolver o património à cidade, sim, mas não a qualquer preço.

Caixotes do lixo retirados de Alfama "por causa dos Santos Populares"!??


Exmo. Senhor Vereador
Dr. Carlos Castro


Cc. PCML, AML e JF

Constatámos que os serviços da Câmara Municipal de Lisboa acabam de retirar de Alfama todos os caixotes de lixo, nas vésperas de começarem as festas de Lisboa e os Santos Populares, e, ao que fomos informados, por causa destes!?

Ainda há pouco tempo, no dia 15 de Maio, o Fórum Cidadania Lx dava os parabéns à Junta e à CML pela forma como estavam a lidar com "o amontoado de carros e lixo", mas passados nem 15 dias o lixo no chão voltou...

Resumidamente;

- Primeiro foram retirados os caixotes de Alfama e distribuíram-se sacos às pessoas com instruções para os porem depois no chão à porta de casa;
- Depois deixaram de distribuir os sacos às pessoas mas, como já não havia caixotes suficientes, o lixo continuou a ser posto no chão em todo o tipo de "embalagem", sacos das compras, sacos do lixo, etc;
- A seguir culpou-se o turismo e o Alojamento Local dos problemas da ineficiência do sistema de gestão e recolha do lixo, apesar do tipo de lixo colocado no espaço público ser maioritariamente dos restaurantes e comércio (caixas de cartão, garrafas, caixas do peixe e da fruta, etc.);
- Agora, que finalmente recolocam os caixotes para o lixo e alargam o horário de recolha... os caixotes desaparecem!?

Perguntamos a V. Exa.: qual é estratégia da Câmara Municipal de Lisboa?

A nosso ver, esta estratégia em ziguezague não se justifica e só contribuirá para um estado mais calamitoso do espaço público e da qualidade de vida em Alfama.

Recordamos que os Santos Populares, que de início eram apenas 3 dias, e que se traduziam apenas em convívio são e genuíno entre moradores e visitantes, são agora única e exclusivamente um negócio, que se arrasta durante todo o mês de Junho, e por vezes mais semanas, com muito ruído, por vezes para lá das 2 da manhã, a que o sistema sonoro instalado pela própria Junta de Freguesia também ajuda, e que, em vez de contribuir para o descanso dos moradores, concorre para a desertificação do bairro, realidade que todos criticamos.

Solicitamos, pois, a V. Exa. que nos esclareça sobre qual a estratégia de recolha do lixo para o bairro histórico de Alfama?

Lisboa, 24 de Maio de 2019

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bruno Palma, Bernardo Ferreira de Carvalho, Luís Serpa, João Leitão, Júlio Amorim, Ana Alves de Sousa, Eurico de Barros, Pedro Malheiros Fonseca, Irina Gomes, Jorge Pinto, Virgílio Marques, Mariana Carvalho, Jozhe Fonseca, Helena Espvall, Fátima Castanheira, Beatriz Empis

...

Ontem, dia 29 de Maio, os caixotes do lixo já tinham regressado às ruas de Alfama. Obrigado à CML e ao vereador Carlos Castro, parece que nos ouviram ...

  (foto de Bruno Palma)

22/05/2019

Mais azulejos para o lixo....


"Destruição de azulejos leva câmara a embargar obra no Chiado
Câmara de Lisboa impôs a preservação dos painéis de azulejos desenhados pelo ceramista António Vasconcelos Lapa, mas estes acabaram por ir para o lixo.

Foram destruídos 33 painéis de azulejos modernistas que decoravam a fachada de um edifício no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa. A câmara municipal decidiu, por isso, embargar as obras de adaptação do prédio a hotel.

A destruição dos azulejos aconteceu já em Fevereiro, mas só na semana passada é que a autarquia a confirmou ao PÚBLICO. Foram “verificadas desconformidades com as condições do licenciamento”, referiu fonte oficial da câmara lisboeta, explicando que a obra foi autorizada prevendo “a retirada dos azulejos da fachada, o seu aproveitamento e recolocação no interior do edifício e a entrega do remanescente material azulejar ao município”.

Mas tal não se verificou. Durante a remoção dos azulejos alguns ficaram danificados e os restantes foram parar ao lixo. É isso que se lê num documento da Divisão de Fiscalização da Direcção Municipal de Urbanismo, a que o PÚBLICO teve acesso. “Segundo fomos informados no local pelo responsável, a retirada dos ditos painéis apresentou-se tecnicamente difícil, tendo-se traduzido na quebra de alguns azulejos em todos os painéis, o que no final não permitiria a sua reposição”, escreveram os fiscais a 15 de Fevereiro."....

In Público por João Pedro Pincha
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Pode ler o resto aqui

21/05/2019

Protesto à EPAL/Museu da Água pelo estado actual do lago do Príncipe Real


Exmos. Senhores


Somos a protestar indignados pelo estado deplorável em que se encontra o lago da Patriarcal do Príncipe Real, de que é bem ilustrativa a fotografia em anexo (autoria: Grupo dos Amigos do Príncipe Real).

Relembramos a V. Exas. que este lago é parte integrante de um dos monumentos mais importantes da cidade e do país, situando-se num dos jardins belos de Lisboa e um dos mais visitados, senão o mais visitado, por turistas, pelo que a vergonha que todos sentimos é ainda maior.

Trata-se de um Monumento que se encontra à v/ guarda.

Na hipótese deste “cenário” se relacionar com eventual “mitigação” dos efeitos da seca de 2017, sugerimos que, dada a importância deste espaço, seja instalado um sistema de circulação de água em circuito fechado, como se faz noutros países.

Melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Jorge Pinto, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Ana Celeste Glória, Rui Pedro Martins, Virgílio Marques, Júlio Amorim, Maria Teresa Goulão, Helena Espvall, Jean Teixeira, Pedro Jordão, Pedro de Souza, Jozhe Fonseca, Fernando Silva Grade, Beatriz Empis, Ana Alves de Sousa, António Araújo, Fátima Castanheira, Alexandre Marques da Cruz, Maria do Rosário Reiche, João Oliveira Leonardo, Nuno Vasco Franco, Pedro Machado

CC. PCML, AML, JF e DGPC

20/05/2019

Roubo de Azulejos na Casa da Pesca em Oeiras


Exmos. Senhores

Serve o presente para apresentarmos uma queixa junto de V. Exas. sobre o roubo de azulejos ocorrido há dias na Casa da Pesca, imóvel classificado, que é propriedade do Estado e está à guarda do INIAV, ex-Estação Agronómica e organismo sob a tutela Ministério da Agricultura, conforme fotos em anexo documentam.

Solicitamos a v/melhor ajuda para este caso de roubo ao Património nacional, fruto da irresponsabilidade de quem de direito.

Foto 1: Jornal Público
Foto 2: CM Oeiras
Foto 3: Ana Celeste Glória (2016)

Colocando-nos à v/disposição para o que acharem necessário, apresentamos os nossos melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Ana Celeste Glória, Bernardo Ferreira de Carvalho

C.C. Gab. MAgricultura, Gab.MCultura e CMO

Abertura de rua sobre o Aqueduto / Teatro da Cornucópia - pedido de esclarecimentos à DGPC


Exma. Senhora Directora-Geral
Arq. Paula Silva

C.c. PCML, AML, EPAL

Tivemos conhecimento que a Câmara Municipal de Lisboa, na qualidade de nova proprietária do Teatro da Cornucópia, ao Bairro Alto, pretende abrir um arruamento para Sul do mesmo, sobre o troço do Aqueduto das Águas-Livres (MN) ali existente, com vista a facilitar o escoamento do público e a circulação de materiais, ligando o teatro directamente ao Largo Hintze Ribeiro.

Soubemos igualmente que a EPAL, nessa eventualidade, terá reforçado o muro do Aqueduto com chapadas de cimento, em vez de cal e areia como seria expectável, estando nós na presença de um Monumento Nacional.

Somos, portanto, a solicitar o melhor esclarecimento da parte da V. Exa., quanto à aprovação, ou não, deste reforço do muro e, mais importante, da abertura do arruamento referido, a fim de podermos apresentar a respectiva queixa a quem de direito.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Júlio Amorim, Luís Serpa, Beatriz Empis, Ana Celeste Glória, Rui Pedro Martins, Fátima Castanheira, Virgílio Marques, António Araújo, Carlos Moura-Carvalho, Pedro Jordão, Jorge Pinto, José Maria Amador

17/05/2019

Adeus à moradia de Cristino da Silva/Belard da Fonseca, tal como a conhecemos:


Desejando a todos um belo fds, digam adeus à soberba moradia modernista (1920-1930), tal como a conhecemos e que devia ser Imóvel de Interesse Público, feita pelo arq. Cristino da Silva para o eng. Belard da Fonseca, ali na Av. Antº José d'Almeida, pois vai ter alterações significativas, vai ser ampliada e alterada a distribuição interior. O processo foi analisado no DBC/DGPC no âmbito da zona de protecção do INE e o projecto foi aprovado em Janeiro de 2018 tendo sido precedido de reunião em sede da ARU onde foi definida a metodologia para a ampliação. Este processo teve início no final de 2016. Sem os tiques da moda, resulta, porém, num projecto de mau gosto que em nada dignifica a arquitectura. Para aprovar isto não é preciso haver arquitectos nas entidades públicas licenciadoras. É lamentável, mas, infelizmente, está tudo aprovado há demasiado tempo! E pronto, siga.
Fotos de Júlio Amorim e Hemeroteca Municipal de Lisboa

16/05/2019

"Pimenteiros" da Av. Rio de Janeiro - Agradecimento e incentivo à CML


Exmo. Senhor Vereador da Mobilidade
Eng. Miguel Gaspar


Cc. PCML, AML. JF Alvalade e media

No seguimento do nosso alerta-solicitação de há um ano (http://cidadanialx.blogspot.com/2018/05/pimenteiros-pedido-cml-para-sua.html), sobre o assunto em epígrafe, somos a agradecer à CML o restauro já efectuado aos 2 “pimenteiros” por nós identificados e localizados nos cruzamentos da Av. Rio de Janeiro com a Avenida da Igreja e a Avenida dos Estados Unidos da América.

Aceitem, V. Exa. e a CML, os nossos aplausos pela recuperação física dos “pimenteiros” assinalados, e o nosso incentivo a que procedam à colocação, ainda em falta, dos vidros amarelos do “pimenteiro” dos semáforos da Av. Rio de Janeiro/Av. E.U.A., e a electrificação de ambos.

E o nosso maior incentivo a que a CML identifique se existem mais “pimenteiros” na cidade, procedendo a igual restauro e operacionalização; e o mesmo aos “pimenteiros” existentes em depósito camarário, recolocando-os na via pública, em alguns dos seus anteriores locais.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Rui Pedro Martins, Bernardo Ferreira de Carvalho, Júlio Amorim, Maria João Pinto, Pedro Jordão, Paulo Lopes, Alexandra de Carvalho Antunes, Alexandra Maia Mendonça, João Oliveira Leonardo, Virgílio Marques, João Pinto Soares, Pedro Machado, Ana Alves de Sousa, Nuno Caiado, Pedro Henrique Aparício, Maria Cary, Jorge D. Lopes, Pedro Malheiros Fonseca, António Araújo, Fernando Jorge, Miguel de Sepúlveda Velloso, Maria do Rosário Reiche, Beatriz Empis

Por um verdadeiro Museu de Arquitectura e de Maquetes


Pedro Machado, OPINIÃO, 16 de Maio de 2019


«A história da arquitectura portuguesa é já longa e bastante rica e os portugueses fizeram a sua própria adaptação dos estilos que se foram impondo pela Europa ao longo dos séculos – Gótico, Barroco, Neoclassicismo, Romantismo, Art Noveau, Art Déco e Modernismo – e desenvolveram outros que são mais específicos da arquitectura nacional como o Manuelino (Gótico tardio), o Pombalino e o designado Português Suave.

Em Outubro de 2015, Sérgio Andrade perguntava através de um artigo no jornal PÚBLICO: “E quando, um museu para a arquitectura portuguesa?”, descrevendo com algum detalhe as diferentes opiniões de pessoas ligadas ao sector e as dificuldades para levar a cabo tal tarefa. Esse artigo foi escrito ainda antes da abertura do MAAT (Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia). O recentemente edificado MAAT é uma construção moderna e até apreciável do ponto de vista estético, desenhando a forma de uma onda prestes a cair sobre o Tejo. A questão é se o seu conteúdo é capaz de fazer a historiografia da arquitectura portuguesa – o MAAT parece estar mais talhado para exibições temporárias de cariz artístico.

Porque não fazer um museu, com conteúdos maioritariamente permanentes, que permita conhecer a história e características da arquitectura portuguesa? Para complementar e tornar mais atractivo o museu poderiam ser criadas maquetes, de escala 1:50/1:100, de edifícios, tanto institucionais como de habitação, que sejam emblemáticos de cada um dos estilos arquitectónicos, inclusivamente edifícios de grande valor que possam já não existir fazendo com que de alguma forma renascessem. Poderiam assim ser incluídos edifícios anteriores ao terramoto de 1755 que possam ser modelados a partir de pinturas ou outros documentos históricos, tais como o Hospital de Todos os Santos, a Casa da Índia ou a Casa da Ópera, e outros desaparecidos por outros motivos como o antigo Palácio de Cristal da cidade do Porto, demolido em 1951. Quando justificável, podem ser igualmente modelados os interiores mais interessantes. A própria viagem pela história da arquitectura pode ser complementada com a evolução do perímetro da malha urbana das principais cidades portuguesas dando ao visitante uma perspectiva histórica mais alargada sobre o seu ritmo de crescimento e o seu mapa arquitectónico.

Seguindo o espírito da exposição que se realizou em 2018 no Palácio Pimenta, A Lisboa que poderia ter sido, uma das secções do futuro museu poderia exibir os projectos mais interessantes não consumados, tantas e tão interessantes foram as maquetes que foram dadas a conhecer nessa exposição.

O Museu poderia numa das suas galerias exibir uma grande maquete contemporânea do centro da cidade de Lisboa, um pouco seguindo o exemplo da extraordinária maquete viva do centro de Berlim (LOXX), em escala 1:87, com comboios e veículos em movimento. Embora não existam muitos comboios a descoberto no centro de Lisboa, poderiam ser recriadas as linhas de eléctrico onde pequenas réplicas movidas a energia eléctrica se movimentariam subindo e descendo as colinas da cidade.

Um museu com estas características poderia ser interessante do ponto de vista histórico e cientifico para dar a conhecer com alguma profundidade as características da arquitectura portuguesa, e a exibição de maquetes, em particular de uma maquete viva, torná-lo-ia muito atractivo do ponto de vista lúdico e turístico, potenciando assim a sua viabilidade financeira e o seu desenvolvimento permanente.


Matemático; membro do Fórum Cidadania Lx; autor do livro "A Lisboa que eu imaginei"»

06/05/2019

Há um plano para construir uma torre de 16 pisos no quarteirão da Portugália


In Diário de Notícias (4.5.2019)

Abandonados há décadas, os terrenos do quarteirão da Cervejaria Portugália, na Avenida Almirante Reis, preparam-se para ser urbanizados com 85 apartamentos por um fundo imobiliário alemão. Um dos edifícios tem 60 metros de altura e está no centro de uma enorme polémica.

Vista em 3D da nova torre.© D.R.

Quem desce a Avenida Almirante Reis, em Lisboa, encontra a Portugália do lado direito. Todo o quarteirão que começa na mítica cervejaria, atravessa a fábrica de cerveja em ruínas e termina no centro comercial. Esse último prédio foi casa de pelo menos dois ícones lisboetas: o jornal O Independente e a loja de música Carbono. Acima do solo, ergue-se a 21,75 metros, o que faz dele um dos mais altos da avenida. Agora vai nascer uma outra torre, com o triplo da altura. O Portugália Plaza cresce para 60,20 metros. E, em vez dos atuais cinco, vai ter 16 andares.

O projeto da parcela norte da urbanização está feito, tem parecer positivo do departamento de urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa e em consulta pública até 12 de maio. É obrigatório que assim seja, porque a volumetria do novo quarteirão lisboeta requer estatuto de exceção em relação ao PDM atual. E se é inquestionável que o Portugália Plaza recupera terrenos que estão abandonados há décadas, também é verdade que o empreendimento está longe de ser consensual.

"Isto é pura e simplesmente um absurdo", diz ao DN Ana Jara, arquiteta e vereadora da Câmara de Lisboa pelo PCP. "Não tinha dúvidas de que, num antigo terreno industrial abandonado há décadas, teria de se pensar num novo uso. E nem sou por princípio contra a arquitetura de rutura, como esta é. Mas as exceções têm de servir um propósito público e esta só tem interesse para os investidores privados. Nunca existiu um edifício assim na Avenida Almirante Reis, um eixo essencial e histórico de Lisboa - e abrir este precedente é assumir uma cidade que não serve o interesse dos cidadãos."

O atual estado do Quarteirão da Portugália.© Paulo Spranger/Global Imagens

O Portugália Plaza é sobretudo um projeto habitacional, que vai criar 85 novos apartamentos numa das zonas mais apetecíveis da capital portuguesa. Serão cinco fogos T0, 44 fogos T1, 17 fogos T2, 17 fogos T3 e dois T4. Tem, além disso, 16 escritórios e espaços de cowork, mais uma zona comercial no piso térreo, que vai rodear duas praças interiores. Será possível transitar pelo meio do quarteirão entre a Avenida Almirante Reis e a Rua António Pedro, algo que até agora não acontecia.

As obras custam 40 milhões de euros e os investidores preveem que estejam concluídas até ao final do primeiro trimestre de 2016. David Teixeira, o diretor operacional do projeto que agora está em consulta pública, diz que a torre de 16 pisos aposta num novo conceito de habitação urbana: o co-living. "É um conceito inovador focado na convivência, garantindo a privacidade através da oferta de unidades de habitação de tipologias mais pequenas e a partilha de áreas comuns, que potenciam o sentido de pertença através da concretização de eventos inspiradores." Dá um exemplo: "Na praça interior podemos ter sessões de cinema ao ar livre."

David Teixeira trabalha para a Essentia, a empresa que coordena os projetos do Fundo Imobiliário Fechado Sete Colinas. Criada em 2006, o Sete Colinas tem sede no edifício da Caixa Geral de Depósitos mas pertence a um grupo de investimento alemão - que não aparece na maior parte dos registos, segundo a Essentia porque quer "manter um perfil discreto". Têm uma carteira volumosa de investimentos imobiliários na cidade, orçada em 550 milhões de euros, e apostando sobretudo nos setores da hotelaria e dos condomínios de luxo.

A cervejaria Portugália permanecerá como marco da cidade.© Paulo Spranger/Global Imagens

Quem gere este Fundo é a SilVip, gestora imobiliária que conta entre os seus acionistas com José Manuel Pinheiro Espírito Santos Silva, administrador do BES no período de vigência de Ricardo Salgado - que por sua vez é primo de Manuel Salgado, vereador de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa. A operacionalidade dos trabalhos foi, no entanto, sempre assegurada pelo terceiro parceiro. A Essentia abriu inclusivamente um concurso a arquitetos em 2016, depois de uma primeira versão do Portugália Plaza ser rejeitada pelo município.

O concurso de ideias para o quarteirão da Portugália envolveu oito gabinetes de arquitetura e o júri foi presidido por Juhani Pallasmaa, professor e crítico finlandês, figura incontornável da arquitetura e cultura contemporâneas. E, aos seus olhos, o projeto que os irmãos Nuno e José Mateus, da ARX, venceram tem vantagens inquestionáveis: "Esta proposta completa o quarteirão da Portugália de uma forma convincente, equilibrada, enriquecedora e sem esforço", disse na sua avaliação.

Sobre a rutura com o espaço envolvente, foi igualmente claro: "Os novos edifícios propostos ecoam a escala, o grão, o carácter e a coloração do ambiente vizinho, que, conectados com o espaço público ao ar livre, é provável que antecipem a direção do futuro desenvolvimento urbano nesta área de Lisboa."

A praça norte, segundo o projeto.© D.R.

Margarida Martins, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, não tem uma opinião formada sobre o edifício, nem quer pronunciar-se sobre a sua volumetria numa altura em que o projeto está em discussão pública. "Era uma lixeira a céu aberto, fico contente que haja finalmente uma intervenção." Mas também analisa o conjunto urbano da freguesia. "Temos um edificado muito estabelecido, é muito difícil encontrarmos novos espaços para construir jardins ou equipamentos desportivos." Uma parte do Portugália Plaza será cedida como equipamento público e as duas praças interiores terão como principais elementos o verde e a água. Os promotores acreditam que "o projeto criará uma nova centralidade em termos de recreio e lazer ao ar livre".

Mas é também em Arroios que se sente o "assalto às habitações da capital", nas palavras de Margarida Martins. Na parte sul da freguesia, a zona do Intendente, vários residentes têm saído para verem as suas casas darem lugar a alojamentos locais. Na parte norte, como a zona da Portugália, verifica-se um aumento brutal de rendas de longa duração, expulsando as classes menos abastadas do centro da cidade. "Em quatro anos, as rendas triplicaram."

A fábrica da cerveja será recuperada.© Paulo Spranger/Global Imagens

"Uma Lisboa saudável tem de ter espaço para todos", diz a presidente da Junta de Freguesia de Arroios. "Arroios sempre foi a zona dos artistas, das classes trabalhadoras, e perdermos essa característica é uma perda para toda a cidade." Exige-se por isso um plano rápido de habitações a preços controlados. O quarteirão da Portugália, no entanto, caminha num sentido diferente. "São 85 apartamentos com layout e design funcionais e contemporâneos, dirigidos a famílias e jovens profissionais portugueses da classe média", diz Diogo Teixeira.

O projeto Portugália Plaza está para consulta pública até 12 de maio, na sede da Junta de Freguesia de Arroios e no centro de documentação DMEM, no edifício da Câmara Municipal de Lisboa no Campo Grande. Aí, os cidadãos podem fazer as suas sugestões ao município. Ana Jara, vereadora comunista, preferia um processo de esclarecimento antes da abertura da consulta. "Uma coisa é certa, vamos discutir isto intensamente na Assembleia Municipal."

Entretanto, já no domingo, a CML decidiu organizar duas reuniões de esclarecimento aos munícipes sobre este projeto - ainda sem data anunciada.»

02/05/2019

Geo-monumento da R. Virgilio Correia abandonado e em perigo com loteamento


Exmo. Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina


C.c. AML, Vereador MS, Vereador JSF, Vereadora CVP, JF

Constatámos, com surpresa, que a junta ao estado de abandono a que está votado o geo-monumento existente entre a Rua Virgílio Correia e a Rua São Tomás de Aquino, existe agora um aviso dando conta de uma operação de loteamento para o local (proc. nº 15/URB/2019), ainda em apreciação nos serviços da CML.

Solicitamos a V. Exa. que nos esclareça quanto ao futuro deste geo-monumento no quadro de uma eventual aprovação desse loteamento, isto é, se o mesmo, identificado com o nº 9 no mapa difundido pela própria CML (https://cml.maps.arcgis.com/apps/MapJournal/index.html?appid=292fa0698542496199e61a5fe32c0501) será preservado na íntegra e devidamente protegido, como outros já o foram no âmbito do programa (http://www.cm-lisboa.pt/viver/ambiente/geomonumentos) em boa hora desenvolvido pela CML a partir de 2007, e por sugestão directa do prof. Galopim de Carvalho.

Junto anexamos algumas fotos tiradas a 30 de Abril de 2019.

Na expectativa, apresentamos os melhores cumprimentos

Lisboa, 2 de Maio de 2019

Paulo Ferrero, Virgílio Marques, Bernardo Ferreira de Carvalho, Júlio Amorim, Miguel de Sepúlveda Velloso, Ana Alves de Sousa, Rui Pedro Martins, João Oliveira Leonardo, António Araújo, Inês Beleza Barreiros, Fátima Castanheira

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Resposta do Sr. Vereador Manuel Salgado: