In Público (17/2/2008)
António Marujo
«Ministro atribuiu derrapagens de custos à mudança de empreiteiro e José Sócrates diz que reabertura do Rossio resolve mais um "estrangulamento" dos transportes da região de Lisboa
Um "ícone de Lisboa", chamou-lhe o primeiro-ministro, José Sócrates. No final da manhã de ontem, com alguma pompa e pouca festa, os renovados túnel e estação do Rossio, em Lisboa, foram reabertos depois das obras de renovação da infra-estrutura. Uma forma de homenagear "hoje o génio dos que decidiram a sua construção no fim do século XIX", afirmou Sócrates.
A cerimónia começou ainda na Estação de Campolide, onde o primeiro-ministro chegou às 11h00. Ajeitam-se os nós das gravatas e os botões dos casacos para os cumprimentos da praxe, entre as três dezenas de pessoas da comitiva que acompanha Sócrates, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, e a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
Em cima, na plataforma, há mais uma centena de pessoas que também apanha o primeiro comboio, limpinho para a ocasião. Os oito minutos e 2613 metros da viagem até ao Rossio decorrem entre conversas e olhares de relance para o túnel renovado e cheio de luz. À chegada ao Rossio, há mais uns 200 convidados à espera. A festa ficará para a tarde, com as viagens grátis entre Lisboa e Sintra (que continuam hoje) e o concerto de Maria João e Mário Laginha.
Cumprindo a liturgia própria, a placa comemorativa coberta pela bandeira portuguesa foi descerrada pelos três governantes, mais o presidente da Refer, Luís Pardal. A seguir, uma curta visita a uma exposição evocativa da história da estação, do túnel e desta obra, executada por uma média de 366 trabalhadores em cada fase da sua execução.
Os discursos oficiais, no entanto, tratarão de agradecer a todos - projectistas, fiscalizadores, empreiteiros, técnicos, administradores -, mas esquecem essa mão-de-obra que por ali passou. Tão-pouco referem a derrapagem dos custos. O ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, justificaria depois, em declarações aos jornalistas, os 9,5 milhões de euros a mais gastos na obra: "A derrapagem ficou a dever-se ao facto de se ter rescindido o contrato com o primeiro empreiteiro", o consórcio Teixeira Duarte/Epos, e ainda ao trabalho de monitorização da obra, que inicialmente não estava previsto.
No discurso de inauguração, o ministro, trocando várias vezes o género aos artigos gramaticais, garantiu ainda que "a mais importante obra de engenharia realizada em Portugal no século XIX" tinha todas as condições de segurança e que a oferta em número de comboios será "a mesma" de 2004, quando o túnel foi encerrado à circulação. O ministro deseja mesmo que aumente o número dos que utilizam a Linha de Sintra - há quatro anos, eram 65 mil por dia.
José Sócrates preferiu falar do valor simbólico do túnel e da estação. Quer como forma de resolver mais um "estrangulamento" nos transportes da região de Lisboa, quer como parte da "identidade e da memória" de Lisboa e do país. A recuperação do edifício, afirmou, "combina tradição com modernidade". A estação "era bonita e mantém-se bonita".
2250
escudos, era o custo de uma viagem até Paris, em 1930, partindo do Rossio; hoje, seria o equivalente a 11 euros.
24,26
é o desnível existente (em metros) entre Campolide e o Rossio.
49.256
metros cúbicos de betão foram aplicados no suporte primário e no revestimento definitivo da obra do túnel.»
Diz e diz muito bem. Agora os génios são 'génios', a começar pelos falsos gurús da 'engenharia financeira'.
Mas, voltando ao túnel, quando é que se deixam de 'inaugurações' a coisas que estiveram em obras de recuperação, e quando é que deixam de fazer de cada momento desses que devia fazer parte do quotidiano, e não um 'momento', uma romaria popular? Aquelas cenas que passaram nas televisões são o maior atestado de mentecapto que se podia passar a um povo e a uma capital de um estado.
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