In Público (24/11/2008)
Ana Henriques
«Ficam por explicar as razões do atraso da reabilitação das frentes ribeirinhas da Baixa. Nem o novo Museu dos Coches deve abrir aos visitantes no prazo previsto
É longe do rio, num escritório por cima da livraria Buchholz, ao Marquês de Pombal, que se planeiam as intervenções de reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa, da Sociedade Frente Tejo. Tudo se encaminha para que a montanha vá parir um rato daqui a dois anos, no mês de Outubro, quando se comemorar o centenário da implantação da República: depois de todas as promessas do Governo, o homem que sucedeu a José Miguel Júdice à frente desta entidade, o arquitecto Bienchard Cruz, vai ter de contentar-se com menos dinheiro do que o previsto e já percebeu que os atrasos vão fazer com que quase nada do que foi anunciado fique pronto a tempo e horas. Algumas das obras inicialmente previstas não verão nunca a luz do dia.
Já disse que este projecto não vai cumprir os prazos inicialmente anunciados...
Vamos fazer os possíveis por cumpri-los. Mas, por razões várias, atrasou-se.
Que razões?
Mudança de presidência, etc.
Mas José Miguel Júdice foi-se embora precisamente por o Governo não cumprir prazos nas suas decisões que lhe permitiriam ter tudo pronto a tempo das comemorações do centenário da República, em Outubro de 2010, como previsto.
Isso tem de ser perguntado a ele. Não me pergunte a mim, que fui nomeado há pouco tempo.
Já cá estava como vogal antes de ser presidente. Que razões foram essas?
Foram múltiplas, e nem conheço todas.
Quais são as que conhece?
É difícil, não sei exactamente quais foram. Não é fácil lançar uma obra desta dimensão.
Mas a dimensão não diminuiu já? Que percentagem do que foi anunciado vai afinal ser concretizada?
Para já, tudo: de Santa Apolónia ao Cais do Sodré e na zona Ajuda-Belém. Não caiu projecto nenhum.
Incluindo o enterramento da via rodoviária diante do Mosteiro dos Jerónimos?
Tinha-se pensado nisso, mas como a certa altura soubemos que se estava a pensar em fazer
o enterramento do caminho-de-ferro em vala, essa ideia foi abandonada.
Mantém-se a transformação da zona da Ribeira das Naus?
Sim, para fazer um jardim. O trânsito continuará a passar entre a Ribeira das Naus e o rio, eventualmente de forma diferente da de hoje, mas essa é uma decisão que depende da câmara.
Como é o seu sonho para o Terreiro do Paço?
É tê-lo cheio de pessoas, de vida, para além das horas normais de expediente. Transformá-lo num sítio onde as pessoas se sintam bem. Estamos neste momento a
lançar um estudo de urbanismo comercial para saber que tipo
de lojas lá devemos ter. Os passeios junto às arcadas vão ser alargados.
Continuará a haver ali trânsito?
Nenhuma das hipóteses de alteração tira de lá totalmente o tráfego, mas a palavra final pertencerá à câmara. Uma delas consiste em pôr os transportes públicos todos de um lado e os privados todos do outro.
E quanto à placa central?
Não há ainda um projecto feito, mas as obras poderão dar-lhe características diferentes das que tem neste momento. Questões polémicas: vamos pôr árvores ou não? Já lá existiram, por exemplo, laranjeiras. E vamos dourar a estátua, para ela voltar ao que era no início? E se puséssemos quatro jactos de água nos cantos da praça? Podemos discutir algumas ideias, ainda que absurdas, para chegarmos a uma conclusão interessante.
Tenciona lançar um concurso de ideias, é isso?
Não, o arquitecto Bruno Soares é que está encarregue desse estudo. Seria interessante ser a imprensa a lançar esse concurso de ideias. A Sociedade Frente Tejo tem prazos, tem que se pôr a mexer. Não pode fazer tudo.
E o hotel no Terreiro do Paço?
Continua previsto para o Ministério da Administração Interna.
Também para Outubro de 2010?
Vai depender do privado que ganhar a concessão de construção e exploração. Antes disso, tem de ser feito um projecto que mereça a aprovação do Instituto do Património Arquitectónico.
As obras da Sociedade Frente Tejo não têm uma "via verde", como aconteceu com as do Parque das Nações?
Não será tanto como foi na Expo, que teve poderes muito maiores do que nós. Nem serão necessários, desde que haja vontade política. E ela existe.
Se conseguir dar vida ao Terreiro do Paço sinto-me realizado. Pode ser o início da revitalização da Baixa.
Vai conseguir?
No dia em que desistir, vou-me embora. Por enquanto, acho que vou conseguir.
Quais serão, afinal, as fontes de financiamento do projecto?
As concessões das unidades hoteleiras - está previsto também um hotel para o tribunal da Boa-Hora - e do comércio das arcadas do Terreiro do Paço.
São menos verbas do que o incialmente previsto.
É. Vamos ver como vamos resolver o problema. O Governo está consciente dele e iremos apresentar-lhe um ponto da situação caso a caso.
Vai reivindicar mais verbas?
Vou dizer ao Governo o que é possível fazer e aquilo que não é.
Que parte dos 145 milhões previstos para obras está inscrita no Orçamento de Estado de 2009?
Se quer que lhe diga, não verifiquei. A sociedade já recebeu o que estava previsto no que diz respeito ao Fundo Remanescente do Chiado e ao seu capital social.
O novo Terreiro do Paço irá ter equipamentos culturais? Falou-se em tempos de um museu do terramoto.
Há espaços, nomeadamente o pátio da galé, que podem ter essa vocação.
Se sentir que há demasiados obstáculos à sua missão demitir-se-á, tal como fez o seu antecessor José Miguel Júdice?
(risos) Tentarei ultrapassá-los. Se não for possível... di-lo-ei ao Governo. Mas se houver uma pressão contínua da opinião pública isto acaba por se fazer.
O projecto de reabilitação da frente ribeirinha também incluía um elevador para o Chiado...
Fazia todo o sentido. Mas pode não estar contabilizado.
Tenciona pagar compensações aos empreiteiros para anteciparem prazos?
Depende das instruções do Governo. Eu não vou propor nada disso.»
Em jeito de comentário global, diria que estas são as respostas previsíveis de alguém que passou incólume no mesmo cargo por 'n' governos de cores diferentes. Mais palavras para quê?
Mas porque razão ninguem pode fazer nada e só Bruno Soares é que faz ou fez? Ou que sabe? Quem é, e porquê?
ResponderEliminarNão se lhe conhece nada que o justifique, e sempre que se trata destas questões lá aparece o nome dele, o dono da bola.
Parece uma cartelização entre colegas dividiram a cidade?
Alguém sabe porquê?
In Publico, "...Tenciona lançar um concurso de ideias, é isso?
Não, o arquitecto Bruno Soares é que está encarregue desse estudo. Seria interessante ser a imprensa a lançar esse concurso de ideias. A Sociedade Frente Tejo tem prazos, tem que se pôr a mexer. Não pode fazer tudo..."