30/11/2013

Série Avenidas - 2 - Avenida Duque de Loulé (3)

Prédio gaveto. Precisa de obras urgentes. Mas é, sem dúvida, mais uma das presenças marcantes na Avenida Duque de Loulé, 17/11/2013

Embora escasseiem, os bons exemplos existem. Esta moradia foi alvo de um bom restauro. Sabemos que nem todos os edíficios deste período teriam categoria para ter sido salvos. Mas quando a arbitrariedade e o oportunismo mandam mais do que o elementar desejo de ter uma cidade equilibrada e bonita, a hecatombe é geral e todos os exemplares que sobreviveram, deveriam ser preservados. Há bancos de dados, há bancos de livros, há bancos de dinheiro, façam-se bancos de edíficios.  Perpendicular à Av. Dq de Loulé, 17/11/2013

Aqui está, posto na prática, o desvario colectivo que tem tomado conta da cidade. Se é para construir esta "obra-prima", por que razão deitaram abaixo o prédio anterior com varandim e volumetrias muito mais interessantes. A pressa em fazê-lo foi grande, o inútil está ainda para arrendar. Avenida Dq. de Loulé. 17/11/2013

Facahada em vidro espelhado da maravilha anterior. Em reflexo vê-se a fachada de um digníssimo Arte-Nova., felizmente bem restaurado e poupado à fúria com que arquitectos e engenheiros têm vindo a arrasar o legado fim-de-século de Lisboa. Disseram-lhes um dia que nada disto era arquitectura e que Arte-Nova em Lisboa não existia. para obras-primas desse período, deveríamos todos rumar a Viena, Bruxelas,  Barcelona, etc. Felizmente, nem todos acreditaram. Há sempre quem resista. Av. Dq. de Loulé a dar para a R. de Sta Marta. 17/11/2013

Sobre este muito tem sido dito por aqui. Já foram pedidas justificações à CML,  à Provedoria que agisse, aos pelouros que nos dissessem porquê. Este prédio é um colosso que vence o desnível Dq. de Loulé - R. de Sta. Marta de uma maneira invulgar para a época, mais de seis andares envolvidos numa fachada de grande qualidade. Tudo é hoje um buraco. Parece que o próprio prédio não teria resistido a tantos anos de abandono, tendo parte da sua estrutura descaído. A solução (?) seria o abate total ou salvar-lhe a cara, dando-lhe um novo interior. Ganhou a segunda. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Aspecto da parte de cornija da fachada que dá para a R. de Sta. Marta. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2014

Este é o aspecto actual do interior do prédio. Um imenso vazio que será preenchido com divisões muito quadradas e muito assépticas, na senda do fachadismo com que nos têm vindo a habituar e a iludir. Av. Dq. de Loulé, 17/11/2013

Outro bom exemplo numa avenida massacrada. Este faz parte de um duo em muito bom estado. As fachadas estão devolvidas à sua respectiva glória, os azulejos de friso e de frontão vêem renovados o seu brilho e a sua presença, recuperado o trabalho de ferro de varandas dianteiras ou traseiras. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Aqui estão os dois. Para que os possamos ver e aplaudir. Exemplares quase únicos num cenário que se vai perdendo. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Interessantes varandas de gaveto. Arquitectura do ferro. As possibilidades práticas dadas pela Revolução Industrial ao chegar a Lisboa. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Numa cidade de contrastes, património equivalente ao anterior é deixado ao uso do tempo. Frontão de azulejos num prédio Arte-Nova. Dq. de Loulé, 17/11/2013

Fachada do mesmo prédio. Deveria todo ele ser preservado, os ferros, azulejos, cantarias das janelas são de uma grande qualidade. Ainda está habitado. Dq. de Loulé, 17/11/2013

Insiro esta, para chamar a atenção para as clarabóias de Lisboa, verdadeiras obras de mestre, a forma como se elevam dos telhados term marcado pela positiva o perfil da cidade. Muitas vezes cobertas de chapa, outras de telhas. Com terminações de ferro trabalhadas, são mais um dos elementos de luz de um património em extinção. O mesmo prédio, Dq. de Loulé, 17/11/2013


Este prédio é um dos poucos com janelas de ferradura com vitrais, tem um corpo avançado numa preocupação habitual neste período de romper a momotonia das fachadas em linhas uniformes. Já houve um telão a dizer-nos que pertencia a um promotor espanhol. Actualmente, está num estado deplorável. Salve-se o que sobra, que mesmo assim, ainda é muito e é bom. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Vitrais coloridos Arte-Nova na janela que é o natural prolongamneto da belíssima varanda. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Janela de ferradura com alguns vitrais. Exemplos raros em Lisboa. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Buracos, escombros de toda a espécie e feitio, braçadeiras de ferro que seguram a ruína para que outra ruína não caia antes de tempo e nos supreenda todos os dias.  Nenhum lisboeta devia merecer uma cidade assim. E Lisboa também não. A beleza é uma coisa frágil. Mesmo a de Lisboa. Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013

Baixa Chiado....

 
..ou rebaixa o Chiado ?
 
Alguém que consiga fazer pior que isto ??

LIXEIRAS DE LISBOA: R. Cidade de Liverpool

Uma das muitas lixeiras oficializadas por certo grupo de lisboetas que assim tratam as suas próprias ruas e bairros. Lisboa, Feia, Porca e Má!

29/11/2013

LISBOA, Capital Europeia da Demolição: Rua Capitão Renato Baptista 73

 ANTES
DEPOIS
Esta foi mais uma triste vítima de uma doença urbanística ainda sem cura em Lisboa. Em vez de se reabilitar (e até ampliar com sensibilidade) o edifício dos finais do séc. XIX, com revestimento de Azulejo de época (reparar na barra de Azulejo Arte Nova na platibanda), o promotor, com a aprovação da CML, demoliu-o na íntegra para dar lugar a uma Construção Nova - o pastiche de péssima qualidade (também há bons e maus pastiches) com valor patrimonial nulo que se vê na imagem. Absolutamente nada foi aproveitado/reciclado do edifício original: nem uma guarda de varanda em ferro forjado, nem um azulejo, nem uma peça de cantaria. Foi tudo parar a um vazadouro com todo o desprezo que se dá ao lixo. O novo prédio exibe varandas e molduras de vãos em betão! E os novos interiores são fáceis de adivinhar na sua banal mediocridade assustadora. E, claro, lá está a gigante e desqualificada porta de garagem, importantíssima mais valia dos "apartamentos" novos como nos tentam vender. Muito provavelmente também o logradouro/quintal nas traseiras foi suprimido e impermeabilizado para lá nascer o sacro-santo alojamento dos carros. E a tudo isto chamou o promotor «Condomínio Paço da Rainha» (!). Porque ainda se permitem estes equivocos em Lisboa?

Câmara de Lisboa arrasou dezenas de barracas de mendigos e arrumadores de carros


In Público Online (29.11.2013)
Por José António Cerejo

«Os serviços de limpeza da autarquia, com o apoio da Polícia Municipal, destruíram e despejaram em contentores de lixo, no passado dia 20, cerca de 30 abrigos precários de cidadão romenos que pedem esmola nos cruzamentos da cidade.

Não foi no pino do Verão, nem nos moldes habituais de intervenção dos serviços de acção social do município. Na quarta-feira da semana passada, dia em que a temperatura mínima registada atingiu os 8º, os serviços do Departamento de Higiene Urbana da Câmara de Lisboa, com o apoio de efectivos da Polícia Municipal, deitaram por terra um acampamento precário de ciganos romenos que estava instalado por baixo de um viaduto do Eixo Norte-Sul, entre Sete Rios e Campolide.

A operação foi desencadeada durante a manhã, altura em que as largas dezenas de pessoas que ali estavam alojadas há algumas semanas se encontravam ausentes, espalhadas pela cidade, a mendigar e a arrumar carros. Ao fim do tarde, ao regressarem, os homens e mulheres que ali pernoitavam, cozinhavam e se aqueciam em inúmeras fogueiras visíveis de algumas vias rápidas que envolvem aquela terra de ninguém não encontraram nada.

Nem as barracas feitas de estruturas de canas secas atadas com trapos e cobertas de caixotes de papelão espalmados, nem os haveres que não tivessem levado consigo, ou escondido nalgum buraco, como fazem com frequência, nem o muito lixo, incluindo, segundo a Polícia Municipal, "colchões velhos, roupas imundas e fezes humanas" que lá estava.

Nada. Tudo tinha desparecido. Ficaram apenas os montículos de pedras e as cinzas que haviam sobrado das fogueiras da véspera. A reportagem do PÚBLICO esteve no local na manhã seguinte e estava à vista que algo tinha acontecido. Se o grupo tivesse abandonado o acampamento por sua iniciativa, como faz por vezes, quando opta por se estabelecer noutros locais, ou regressar temporariamente à Roménia, como sucede no Verão, as barracas estariam de pé e o lixo permaneceria no local. Os hábitos destas populações seminómadas não valorizam o ambiente e a higiene.

No dia seguinte, sexta-feira, o terreno, onde apenas se chega atravessando os perigosos acessos ao Eixo Norte-Sul e à Radial de Benfica, já voltara, porém, a ter sinais de vida. Uma dezena de estruturas de canas, ainda sem cartões e panos a cobri-las, já estava meio montada (ver foto). Ao fim do dia desta quarta-feira já eram novamente largas dezenas as barracas, as fogueiras e os maltrapilhos que ali se encontravam.

Questionado logo na quinta-feira da semana passada sobre o desaparecimento das barracas, o gabinete do vereador João Afonso, responsável pelo pelouro da Acção Social da Câmara de Lisboa, respondeu que nem os serviços da autarquia, nem a Polícia Municipal tinham tido qualquer intervenção no local na véspera. [...]»

...

Ooooops.

Miradouro de Nossa Senhora do Monte


Chegado por e-mail:

«Exmo. Sr. Vereador José Sá Fernandes,

Exmo. Sr. Arq. Artur Madeira,
Exmo. Sr. Eng. Ângelo Mesquita,


A Liga dos Amigos do Jardim Botânico (LAJB) informa que no local em epigrafe, se registam alguns problemas como por exemplo:

- estacionamento selvagem que impera nos passeios (a instalação de pilaretes resolveria este abuso que se regista há anos);
- grafitis em vários muros e outros equipamentos do miradouro;
- caldeiras sem árvores (faltam pelo menos 2 oliveiras);
- cipreste em caldeira a necessitar de novo/melhor tutor (junto da torre da capela);
- área de canteiro plano, de nível com o miradouro, sem cobertura vegetal, com aspecto abandonado;
- área em declive com pouca cobertura vegetal (poderia ser plantada com arbustos e outras plantas xerófitas de forma a qualificar esta envolvente do miradouro, ajudando também a prevenir o vandalismo com grafiti dos muros de suporte);

Considerando o bom trabalho de recuperação efectuado pela CML em vários miradouros, era importante dar resposta a estes problemas com a maior brevidade possível.

Por último, sugerimos que se considere o estudo dos seguintes melhoramentos:

- o aumento da área dedicada ao uso pedonal (espaço de circulação e estacionamento de veículos parece ser demasiado).
- a instalação de um quiosque com esplanada (para animar e melhorar a segurança deste ambiente urbano).
- a iluminação cénica da torre da capela (hoje em dia é imperceptível durante a noite apesar do marco urbano que representa)


Muito obrigado.

Com os nossos melhores cumprimentos,

A Presidente da Liga dos Amigos do Jardim Botânico

Manuela Correia»

Publicidade gratuita e não enganosa:


O Mercado de Campo de Ourique está diferente, para melhor, acho, e apoio a 100%. Parabéns à CML!!!


Fotos: Mercado de Campo de Ourique (facebook)

CÂMARA DIZ-SE SEM MEIOS PARA DEFENDER COMÉRCIO TRADICIONAL


In O Corvo (28.11.2013)
Texto: Samuel Alemão

«A Câmara Municipal de Lisboa diz que, de momento, não tem forma de estancar a razia de estabelecimentos de comércio tradicional, que fecham portas como consequência da Lei das Rendas. Para além das 170 lojas identificadas no Plano Director Municipal (PDM) como estabelecimentos a defender a todo o custo, a autarquia admite que pouco pode fazer para deter a vaga de encerramentos em virtude da incapacidade dos empresários fazerem face às novas rendas propostas pelos senhorios. “Este é um problema que nos preocupa e sobremaneira”, admite o verador do Urbanismo, Manuel Salgado. Em preparação está um regulamento comercial, que poderá vir a dificultar o desaparecimento de lojas mais carismáticas.

“O comércio da cidade tem sido muito afectado pela Lei das Rendas, com várias lojas emblemáticas a fecharem. A Câmara não tem capacidade de suprir as necessidades dos inquilinos que não conseguem pagar as suas rendas”, disse Salgado, durante a primeira reunião pública do executivo camarário, realizada na tarde desta quarta-feira – foi presidida por Fernando Medina, o “número dois” de António Costa, que não compareceu. A questão acabou por ocupar a primeira hora e meia da reunião, consequência da discussão de uma recomendação dos vereadores do PCP, João Ferreira e Carlos Moura, sobre esta matéria. O assunto deu azo a uma encarniçada discussão envolvendo questões políticas, jurídicas e administrativas. No final, e mesmo com alterações à proposta, a mesma acabou chumbada pela maioria socialista. [...] Os eleitos comunistas queriam, por isso, que o executivo desse “instruções aos serviços do município para que estes na recepção de pedidos de informação prévia e ou de licenciamento para as referidas obras e outras alterações tenham em conta a situação dos inquilinos habitacionais e não habitacionais e que os respectivos pedidos de licenciamento sejam definidos depois de uma análise mais profunda e concreta a essa situação”. Ou seja, cada casa deveria ser analisado de forma própria. E nesta pretensão tiveram o apoio dos eleitos pelos dois partidos da direita.

Mas a ideia não agradou aos membros do executivo, a começar por Manuel Salgado, vereador que tutela a área. “A Câmara não tem instrumentos para definir e especificar que usos comerciais devem ter os estabelecimentos. Para o bem e para o mal, temos uma Lei das Rendas e temos que cumprir a lei”, disse Salgado, invocando ainda o estrito cumprimento dos regulamentos. “Os serviços da câmara têm regras e não podem inventar outras. As balizas são muito rigorosas”. Tanto o Manuel Salgado, como Fernando Medina e ainda João Afonso recriminaram a recomendação como sendo ferida de legalidade, por defender uma “apreciação política e não técnica”.

Manuel Salgado disse ser “apologista de que as lojas históricas não sejam removidas” e garantiu estar “atento a isso”. E até garantiu que os serviços por si dirigidos têm tido especial atenção para garantir que as obras de remodelação profunda não são meros expedientes para expulsar os lojistas-inquilinos de longa data. Quando disse que nada mais podia fazer senão cumprir o Regulamento Municipal de Urbanização e Edificação de Lisboa, o PCP alterou a sua recomendação para que ela contivesse uma proposta de alteração do dito regulamento nos artigos que dissessem respeito a este assunto. Mas a mesma acabou chumbada, apesar do apoio do resto da oposição – na qual se contaram as estreias dos vereadores do PSD Fernando Seara e Teresa Leal Coelho.»

...

Ok, mas, Sr. Vereador Manuel Salgado, diga o que podemos, todos, fazer!

Colina de Santana: a segunda fase do debate

Há um vasto património, classificado e por classificar, que está ameaçado com a construção nova e os novos usos.

Artigo de opinião - Paulo Ferrero, Jornal Público de 28 Nov 2013

Continua um mistério, o "preâmbulo" das "Operações de Loteamento a Realizar nos Hospitais de S. José, Sta. Marta, Capuchos e Miguel Bombarda", i.e., ignoram-se os bastidores do Novo Hospital de Todos-os-Santos – causa maior daqueles loteamentos.

Desconhecem-se a PPP que o "musculou", o envolvimento Estamo-CML, o investimento total estimado, o custo-benefício por comparação com a desafectação dos hospitais ainda em funcionamento (número de camas, pessoal, equipamentos, serviços, de cariz económico, social, psicológico, acessibilidade), se houve concurso público (havia quem se preparasse para executar a obra!), etc. Finalmente, por decisão recente do Governo, parece que vai voltar tudo à estaca zero!

Mas se nada se sabe sobre isso, o mesmo se sabia sobre os loteamentos referidos, pois só há poucos meses a CML abriu uma "discussão pública" sobre os pedidos de informação prévia (PIP) submetidos à CML pelo promotor (Estamo), sendo que aquela, contudo, neste Verão, em final de mandato, a publicaria num anúncio "invisível" (alguns dos vereadores nem o viram e não o veriam, não fora o alerta público dado por alguns atentos), estipulando um prazo de participação tão miserável que apenas se explica pela sofreguidão em o fechar “ASAP”. Mas as pessoas mobilizaram-se, por e-mail, carta, expondo a quem de direito, em artigos de opinião, abaixo-assinados, SMS. A "sociedade civil" está de parabéns!

Contudo, passaram já dois meses e ainda não houve divulgação do relatório de ponderação. É que se a CML o costuma publicar (obrigada por lei, é certo) aquando dos planos de pormenor, também aqui o deve fazer, pois são loteamentos de grande importância para o futuro da cidade que conhecemos; além do mais, é uma questão de boas práticas.

Em vez disso, a CML anunciou que, "face ao interesse que estes projectos têm despoletado… será de realizar uma segunda fase de debate". Muito bem. E há dias que a Assembleia Municipal de Lisboa a irá protagonizar com "uma sessão de abertura, outra de encerramento e três debates", cabendo aos deputados municipais moderar e relatar "sobre o que os cidadãos venham a perguntar ou opinar". Depois, a AML "tomará a decisão final sobre o loteamento em causa". À primeira vista, parece que voltamos a ter AML, mas fica a dúvida: terá esta poderes (Lei n.º 75/2013, artigo 25.º) para chumbar loteamentos? Pois. Porque se é para dali se produzirem recomendações à CML, o "filme" no antigo Cinema Roma será de reprise: o vereador do Urbanismo já referiu publicamente (e tem razão) que recomendações são apenas e só recomendações.

Voltando ao essencial, aos PIP para a “Colina de Sant’Ana” (o que faz Santa Marta numa colina?), e reconhecendo, obviamente, que no caso de Todos-os-Santos avançarem há mesmo que planear novos usos e valências para os hospitais a encerrar, e demolir muito anexo e recuperar muito atraso, é bom não esquecer o seguinte:

Há um vasto património, classificado e por classificar, que está ameaçado com a construção nova e os novos usos, e as memórias justificativas e descritivas dos PIP não o defendem por inteiro porque padecem de erros crassos, omissões, inventários incompletos (ex.: S. José "esqueceu-se" de S. Lázaro; não existe memória sobre o tributo imenso dos Jesuítas; a história do hospital é reduzida ao trivial; há edifícios de valor que é como se não o tivessem – Instituto de Medicina Legal; cozinha, enfermarias e Convento do Bombarda, etc.), pelo que se devem corrigir os PIP.

Além disso, nada se sabe de concreto sobre o uso futuro dos edifícios já classificados de interesse público e existentes nos lotes: igreja, Sala da Esfera, escadaria e corpo central do Convento de S. José; Pavilhão de Segurança e Balneário D. Maria II do Miguel Bombarda, igreja e claustro de Sta. Marta, alas azulejadas do Palácio Melo, nos Capuchos. E há uma confusão imensa sobre algo que há muito devia ser consensual: Lisboa precisa de um Museu Nacional da Saúde (S. José?) e de um Arquivo Municipal condigno (enfermarias e corpo conventual do Bombarda?). E muita indiferença sobre uma evidência: Lisboa deve manter o seu Museu de Arte Outsider in situ, i.e., também no Bombarda.

Finalmente, e talvez mais importante, estes loteamentos vão "fazer colina" e fazer cidade, e os PIP em apreço (ainda que uns mais do que outros) vão fazer nestes locais mais cidade de inspiração Expo, com torres, estacionamento subterrâneo, superfícies comerciais, condomínios, muito perfil de alumínio e muita árvore-bibelot. Será uma cidade radicalmente diferente. Haja debate!

E os passeios no Areeiro ERAM assim:


Pois este piso já era, já foi. Agora há uma coisa chamada Plano de Acessibilidade Pedonal (nada contra tal ideia, designação e objectivos finais) e a calçada portuguesa não faz parte dele salvo em zonas turísticas. O Areeiro tem autoria de nomes como Cristino da Silva, e deve parecer mal tratar o Areeiro com dignidade, devem pensar alguns.


Foto: Estúdio Horácio Novais (fonte: Malomil)

27/11/2013

A «RAINHA» DO ESTACIONAMENTO de LISBOA



Imagens chegadas por email do Paço da Rainha... e que dispensam comentários!

Calçada à portuguesa abre 'guerra'

In Sol Online (26/11/2013)
Por Margarida Davim

«A Rua da Vitória, na Baixa, o Alto de Santa Catarina, a Avenida de Roma e o cruzamento da Elias Garcia com a 5 de Outubro são algumas zonas de Lisboa onde a tradicional calçada à portuguesa está a desaparecer – substituída por pedra lioz, nos dois primeiros casos, ou uma mistura betuminosa, no caso das Avenidas Novas. Estas obras são o rosto visível do Plano de Acessibilidade Pedonal desenhado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) para tornar a cidade mais cómoda para idosos, pessoas com mobilidade reduzida e todos os que gostam de andar a pé. Mas o projecto – que esteve em discussão pública até 31 de Outubro – levantou uma onda de indignação nas redes sociais e motivou uma petição online para defender a calçada portuguesa, que conta já com 1.200 assinaturas.

Fonte oficial da CML assegura que se trata “apenas de um plano ainda em estudo” e que a proposta final, que deverá estar definida dentro de cerca de um mês, terá em conta “todos os contributos” recolhidos na discussão pública.

Mas os defensores do património argumentam com as obras que já foram feitas e atacam a falta de publicidade à discussão do plano. Aliás, foi já depois de terminado o período de consulta pública que a polémica estalou.

“Está em causa a nossa cultura. A calçada de vidrilho, com desenhos do século XIX e inspirada no mosaico romano, faz parte da cultura de Lisboa”, defende o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que não vê como fazer a distinção – contida na proposta da autarquia liderada por António Costa – entre as ‘zonas turísticas’ que devem manter este pavimento e o resto da cidade. “Como é que se delimita isso? Mesmo Carnide ou Telheiras têm zonas históricas onde faz sentido a calçada”.

Carlos Moura, vereador do PCP e um dos apoiantes da petição contra o fim da calçada fora das zonas históricas da capital, recorda que não há nenhum documento que defina o que são ‘zonas turísticas’. “Não conheço nenhuma definição de zona turística em Lisboa excepto do ponto de vista empírico”.

[...]

A solução mais ecológica

Carlos Moura considera “redutor” ver este piso “apenas do ponto de vista da monumentalidade”. A permeabilidade, a durabilidade e a regulação climatérica são outros argumentos para manter a calçada. “É mais ecológico”, defende, explicando que materiais como o cimento aquecem no Verão, “aumentando a temperatura desses espaços, com menor reflexo dos raios solares, com as consequentes correntes de convecção e alteração das brisas circulantes”.

Além disso, aponta Carlos Moura, a calçada, por ser permeável à chuva, “representa um importante factor de aumento dos tempos de retenção e de diminuição dos caudais de cheia a jusante”.

Mas há quem não se compadeça com estes argumentos. “Por favor, dr. António Costa, vá em frente sem hesitar. Dê-me passeios, de betão ou cimento, como nos países civilizados, onde eu possa caminhar sem medo de entorses ou até de uma ruptura de ligamentos num pé, como as que devo à histórica calçada à portuguesa”, escreveu Miguel Sousa Tavares, numa crónica no Expresso.

E não faltam comentários nos sites de viagens onde os turistas contam as histórias dos perigos das calçada. “Os passeios de Lisboa são maravilhosos, mas também perigosos”, queixa-se um turista, que relata a queda aparatosa da sua mulher “e de uma jovem rapariga que acabou por ficar no chão à espera de um médico”. Relatos deste tipo sucedem-se e acabam com o mesmo conselho: “Escolha calçado adequado”.

A solução, defende-se na petição do Fórum Cidadina Lx, pode ser outra: “Impedir os carros e as cargas excessivas nos passeios, proibir a colocação de calçada por curiosos, lançar equipas de calceteiros que monitorizem diariamente a cidade, usar pisos mistos nas ruas íngremes”, [...]

Em Lisboa, o tema já tinha animado as autárquicas de 2009, quando a então candidata pelo CDS, Maria José Nogueira Pinto, lembrou a incompatibilidade entre as pedras da calçada e os sapatos das senhoras. Carlos Moura recorda que os saltos altos tipo agulha já eram moda nos anos 50 e 60 e nessa altura não havia queixas. “Porquê? Porque a justaposição das pedras era muito mais cuidada, os leitos de cada pedra eram feitos de forma a que esta assentasse perfeitamente, sendo depois calcadas com um maço até constituírem uma superfície plana e perfeita”.p> Hoje, a falta de calceteiros qualificados faz com que a construção e manutenção do pavimento seja menos cuidada, resultando em pedras soltas e buracos. “Com isto, qualquer pressão, limpeza de rua ou intempérie erode o material de preenchimento, deixa a pedra descalça e aparecem buracos”, conclui.

Há 12 novos calceteiros

Criada em 1986, a Escola de Calceteiros da CML formou apenas 150 trabalhadores em 27 anos. A falta de mão-de-obra qualificada reflecte-se no quadro da Câmara, que tem só 20 calceteiros. O salário inicial é de cerca de 500 euros e um ordenado médio ronda os 700 – que pode chegar aos mil, em funções de encarregado geral. [...] “É um trabalho duro, à chuva e ao sol, e de grande precisão”, explica Manuel Torres da Silva, um dos responsáveis pela abertura da escola, em 1986. Critica a falta de debate sobre o assunto e diz-se “perplexo” por a CML ter avançado já com algumas intervenções. [...]»

Petição foi hoje entregue na A.R.:

Conforme anunciado, foi hoje entregue na AR, ao Sr.Vice-Presidente, Dr. Ferro Rodrigues, a petição «Lisboa e o País Precisam do Cinema Odéon», já com mais de 10.000 assinaturas. A mesma baixará à Comissão Permanente respectiva e dali será oportunamente discutida em plenário. Paralelamente, iremos solicitar audiência também à SEC e à CML para entrega da mesma. Obrigado a todos e continuem a assinar e a promover esta petição. O Odéon ainda não está perdido.


(foto actual, por Jp Joaquim)

26/11/2013

Antiga Perfumaria CAMY na Rua da Prata 119: mais uma loja destruída


Exmo. Sr. Vereador Manuel Salgado


Cc. PCML

Como já vem sendo hábito, reportamos mais uma perda patrimonial na Baixa, desta vez a destruição parcial da antiga «Perfumaria CAMY» na Rua da Prata 119.

Esta não era uma loja qualquer: teve um projecto qualificado de 1944 do Arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, um dos mais importantes autores da Arquitectura Moderna nacional. Mas do espaço interior ao lettering em ferro forjado, do alto-relevo escultórico (atribuído ao Escultor Leopoldo de Almeida) a outras guarnições em metal da frente da loja, já quase nada resta.

Perguntamos: O pelouro do Urbanismo aprovou esta alteração de uma frente de loja registada na Carta Municipal do Património anexa ao PDM? Ou estamos perante outra vítima da cada vez mais evidente ausência de fiscalização por parte da CML?

De facto, e apesar do aprovado um Plano de Pormenor de Salvaguarda, a capital continua a assistir à destruição dos diferentes elementos patrimoniais da Baixa Pombalina: destruições selvagens de frentes e interiores de lojas, substituição sem critério de caixilharias de vãos e alterações desqualificadas das coberturas com trapeiras pombalinas transfiguradas à "pato-bravo".

A falta de um Urbanismo Comercial, associada a um certo oportunismo comercial "turístico" que reina por toda a Baixa, propicia este tipo de desastres. Lisboa ficou mais pobre com perda da Perfumaria «Camy».

Voltamos a repetir: a Baixa merece padrões bem mais elevados de gestão urbanística!

Melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho e Fernando Jorge

Antigo hospital do Desterro reabre com habitações temporárias, hortas e espaços criativos


In Sol Online (25.11.2013)

«A reabilitação do Convento do Desterro, onde funcionou um hospital de Lisboa, deve estar terminada antes do Verão para acolher 'inquilinos', que podem habitar e trabalhar temporariamente numa cela e cultivar hortas, segundo um dos promotores.

Fonte da Mainside, parceira nesta reabilitação, indicou à agência Lusa que o projecto "efectivamente já está em marcha e a perspectiva de abertura será para antes do verão; contudo, ainda não existe uma data definida".

A mesma fonte da empresa também promotora da Lx Factory, onde estão instalados espaços comerciais e culturais, assegurou que tem existido uma "grande procura de pessoas interessadas em abraçar" o projecto, "com alguma incidência em moradores da zona, que demonstram um grande interesse em colaborar na regeneração e revitalização desta fracção da cidade".

[...] O responsável disse ainda que a concessão daquele espaço é de dez anos e que poderá ser prolongada.

Por seu lado, o presidente da Câmara de Lisboa frisou que este é um "excelente exemplo de como grandes espaços que estão hoje vazios - e que nas novas condições de mercado dificilmente podem ser vendidos como era o projeto inicial - não têm de ficar fechados, em decadência, mas podem ser reocupados, reutilizados e reinventados". [...]

Desactivado progressivamente desde 2006, o Hospital do Desterro foi vendido à Estamo por 9,24 milhões de euros.

Lusa/SOL»

E agora, de repente, todos parecem odiar a calçada, vá-se lá saber porquê? (e foram chegando respostas)


E foram chegando respostas:

“Porque é feita por ´calceteiros de ocasião `que não sabem do ofício”;

“E porque não existe fiscalização por parte da Câmara Municipal de Lisboa e dos empreiteiros quanto à qualidade do trabalho executado”;

“Porque - não raras vezes - passa o gás, a EDP, a EPAL, a PT e afins na mesma calçada que é esventrada N vezes e raramente recolocada conforme a qualidade da original, ficando descaracterizada num amontoado de pedras e ocasionalmente favorecendo acidentes”;

“Porque não existe manutenção sistemática e regular, sempre necessária em todo e qualquer tipo de revestimento, em especial se utilizado em espaços urbanos”;

“Porque é usada em vergonhosos ´micro passeios` ilegais que não permitem a circulação dos idosos e de pessoas com mobilidade reduzida”;

“Porque está atravancada de muppies, postos de electricidade, sinais, etc. que tornam difícil e perigosa a circulação dos peões, em especial dos invisuais”;

“Porque está ondulada e esburacada devido aos automóveis, camiões e toda a espécie de veículos que aí estacionam impunemente”;

“Porque é diariamente ocupada e destruída por obras em edifícios que lhe são contíguos e raramente é refeita em condições”;

“Porque está maltratada, porque está feia, encardida e nojenta, cheia de lixo e de dejectos dos cães”.


Afinal, não é a calçada portuguesa que odiamos, não é com ela que é preciso ´acabar`, mas sim com a incúria, com o desleixo e com a indiferença de quem devia proteger este património que deve voltar a ser motivo de orgulho para todos nós.

http://www.math.ist.utl.pt/~acannas/Simetria/.


Ana Maria Alves de Sousa

25/11/2013

Série Avenidas - 2- Avenida Duque de Loulé (2)

Este é um dos "Grandes" da Avenida Duque de loulé. Está à venda e já tem janelas abertas para que possam alegremente destruír-se todos os interiores. Conheci-os bem e eram belíssimos. Mais uma vítima da negligência. 17/11/2013
Pormenor do trabalho de cantaria que adorna a parte lateral da entrada deste magnífico prédio da duque de Loulé. 17/11/2013
A escadaria já está neste estado. O comum retrato de uma capital em falência. 17/11/2013
E chega-se ao caso mais paradigmático da Avenida Duque de Loulé. o quarteirão Déco com elementos Arte-Nova nas ferragens das portas e das janelas dos pisos térreos. De imóvel classificado, exteriores e interiores, num invulgar cuidado com o património, a ruína irrecuperável com a conivência de todos os agentes activos na cidade de Lisboa, autarquia, promotores, proprietários (grupo BES e outros) e todo o público em geral. Este é um exemplar único. Cairá para gáudio de uns quantos e sobre o imenso desleixo com que vivemos Lisboa. Avenida Duque de Loulé. 17/11/2013
Os andaimes ocupam a via pública há mais de dois anos. As gruas e os seus braços preenchem o céu da Avenida ao mesmo tempo. Quem paga tudo isto? E se o faz, por que razão não recupera este prédio que tanto  enobreceu uma das mais belas avenidas de Lisboa? Avenida Duque de Loulé, 17/11/2013
Chegamos à parte tardoz do prédio. Telas despedaçadas ao vento, reboco retirado, o promotor arrasou a cobertura, destelhando-a para, depois, poder alegar que as infiltrações eram tantas que os interiores, déco, já estariam irrecuperáveis. A fiscalização camarária ficou a dormir, os agentes culturais acharam por bem defender outras cuusas, os lisboetas alhearam-se e não defenderam um ícone da cidade. Lisboa é mal-amada. Avenida Duque de Loulé, 17/11/2013
No outro lado da rua, caíu uma bomba. Mais restos de mais abnadono. Casas Arte-Nova esventradas. Sobram os toscos agarrados ao nada pelo ferro das armações, tão presente quanto inútil. Avenida Duque de Loulé. 17/11/2013
Este é um dos vários portões do mutilado prédio Déco da Avenida Duque de Loulé, Lisboa dá-se ao luxo de os perder, como se sobrassem muitos para testemunhar a riqueza e diversidade da arquitectura da capital nos períodos Arte-Nova e Déco. 17/11/2013
Um aviso que nada avisa, o humor da CML é enigmático e insultuoso. Quarteirão Déco na Avenida Dq. de Loulé, 17/11/2013
Série do estado em que se encontram as três entradas do "gigante" déco. 17/11/2013

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Mesmo enfaixada, a dignidade não desaparece. Exige-se à CML que actue. E depressa, a ruína não sobreviverá eternamente. Avenida Duque de Loulé, 17/11/2013