09/07/2014

Série Palácios de Lisboa - 11 - Palácio Almada-Carvalhais, Monumento Nacional desde 1919

Estamos em presença de uma das jóias de Lisboa, o Palácio Almada-Carvalhais fundado no século XVI por Rodrigo Fernandes de Almada, tesoureiro, escrivão e cônsul de Portugal na Flandres no reinado de D. Manuel I. Mais tarde embaixador da corte em França e por fim Provedor da Casa da Índia já no tempo de D. João III. Palácio renascentista, cuja "elegãncia e notabilidade", tal como se lê no site da DGPC, justificaram a sua classificação como MN.
Torre de cantaria, rara reminiscência das torres senhoriais medievais. Em Lisboa há, pelo menos, mais uma no Palácio Azurara. O Palácio é hoje detido pela Funger/Fundima, fundo imobiliário da Caixa Geral de Depósitos.

Todas as janelas de sacada do piso nobre estão neste estado. A pedra de armas dos Almadas a sublinhar o carácter senhorial deste palácio lisboeta em ruínas.

Aqui estão três. Os primeiros propietários e fundadores, cosntruíram esta residência numa zona onde vinha dar o Tejo.

Este é o actual aspecto da fachada lateral que dá para a Rua das Gaivotas. Pilastras, janelas de guilhotina. elementos que uniformizam a fachada dando-lhe um inegável aspecto senhorial e harmoniso.

Três tipologias de janelas de peitoril. Já não restam muitas fachadas assim.

Este é a abóboda da galeria que dava para os antigos jardins, cujo espaço é hoje ocupado por uma garagem. os azulejos são seiscentistas. O desleixo é actual.

Fecho de uma das abóbodas. É o único que resta

Neste palácio já não há espaço para mais desprezo e incúria. A ruína é total e galopante. A Fundger, aparentemente, não se sente obrigada a cumprir com as disposições da Lei de Bases do Património. A DGPC não se sente obrigada a fazê-la cumprir. Pode constatar-se que nenhuma obra de manutenção no exterior do bem tem vindo a ser feita. Que o Fundo não tenha meios para reabilitar/restaurar, muito bem, mas que não os tenha nem para obras de manutenção tal como estipulado em sede de legislação é digno de nota. Este imóvel está sob a mais alta figura de protecção patrimonial - Monumento Nacional. tanto quanto se sabe não foi, tal como outros, desclassificado. Está integrado na zona de protecção do Bairro Alto, ele próprio classificado pelo extinto Ministério da Cultura, como conjunto urbano de interesse público. Salvaguardas não faltam, tal como não faltam a desfaçatez e falta de vergonha de quem tem a seu cargo um bem desta categoria.

Pátio/claustro renascentista, poderão as entidades justificar este estado de coisas? Parte da arcaria foi entaipada, ao fundo as plantas crescem tão daninhas como a sorte desta magnífica casa.

Parte poente do claustro/pátio. Nota-se um arco abatido que dá entrada da galeria para o pátio. 

Arcaria que dá acesso à entrada nobre e escadaria. Este pátio, é um pátio renascentista , arcos com capitéis historiados e com vestígios tardo-góticos,  exemplares raros em Lisboa. A escadaria já teve vestígios de pinturas trompe l'oeil da segunda metade do séc. XVIII.

O aspecto amarelado deve-se a permanentes escorrências de água que vão destruindo a cantaria que emoldura a entrada nobre.


Aspecto da podridão que ameaça os gigantescos barrotes de sustentação do soalho. Esta é a coluna vertebral do palácio.  O seu estado não permite outro diagnóstico que não seja a sua queda arrastando consigo o que ainda resta.

Lixo no meio de lixo.

Por aqui circulava-se, recebiam-se convidados, dava-se entrada para uma das mais notáveis residências senhoriais de Lisboa. 


A única protecção que os augustos técnicos e demais senhores da DGPC colocaram para impedir a entrada no pátio. Chega a ser grotesco e caricato o pungente cuidado com que as instituições, cuja responsabilidade é proteger o património, tratam do mesmo. Ou permitem que outros não o fazendo escapem às suas obrigações.

Com esta fotografia do malogrado palácio Almada-Carvalhais  termina a série dedicada aos palácios de Lisboa. Sobre este, foram já inúmeras as vezes que me dirigi à DGPC em busca de acção e de respostas. Nunca recebi nada de concreto, nenhum plano de acção, nenhuma proposta para que o palácio fosse salvo. Da Fundger/Fundima, a mesma atitude.


Aqui foram retratados vários palácios lisboetas, muitos autênticos ex-libris da cidade, uns com valores arquitectónicos e históricos que justificariam por si só uma intervenção pronta, uma alienação responsável que preservasse a memória do lugar. Muitos deles são hoje tristes e sombrias silhuetas, vazias de futuro. Moles abandonadas numa cidade que se vai vendendo, aparentemente, sem alma nem critério.  Aqui ficam os seus nomes: Palácio Nacional da Ajuda, Palácio Ribeira Grande, Palácio da Quinta das Águias, Palácio do Patriarcado, Palácio Pina Manique, Palácio da Rosa/Marqueses de Ponte de Lima, Palácio Marim-Olhão, Palácio Almada/da Independência, Palácio dos Condes de Alva/do Bichinho-de-Conta, Palácio Alvito, Palácio Almada-Carvalhais.

2 comentários:

Anónimo disse...

Autêntico serviço público, esta série.

Passo quase diariamente no Conde Barão e defronto-me também quase diariamente com este palácio e outro da mesma série, o Palácio Alvito e só posso afirmar que é deprimente.

No Palácio Alvito ainda apareceu faz tempo uma tela a anunciar o que se verificou ser mais uma aldrabice...

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Obrigado pelos seu comentário sobre a série palácios de Lisboa